Chamamos de ciclo da borracha o momento da história econômica e
social do Brasil,
relacionado com a extração de latex da
seringueira (Hevea brasiliensis) e comercialização da borracha. Teve o
seu centro de produção na região amazônia, e
proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações
culturais e sociais, e grande impulso ao crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém
Teve seu auge entre 1879 e 1912 (primeiro ciclo) e em seguida uma sobrevida entre 1942 e 1945 (segundo ciclo), por
ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939 -1945). Nos dois períodos,
o governo brasileiro valeu-se da mão de obra nordestina para a extração do
látex e produção da borracha, nos seringais da Amazônia.
O
primeiro ciclo da borracha – 1879 a 1912
No decorrer dos primeiros quatro séculos
e meio do descobrimento, as populações da vasta região amazônica viviam
praticamente em isolamento, uma vez que nem a coroa portuguesa e depois, nem o império brasileiro conseguiram
concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso na região.
Vivendo do extrativismo vegetal, a
economia regional se desenvolveu por ciclos, acompanhando o interesse do
mercado nos diversos recursos naturais da região. A produção da borracha de
forma exclusiva no período de 1879 a 1912 (primeiro ciclo) passa a gerar lucros
e dividendos a quem quer que se aventurasse neste comercio.
A atividade extrativista do látex na
Amazônia revelou-se de imediato muito lucrativa. A borracha natural logo
conquistou um lugar de destaque nas indústrias da Europa e da América do Norte alcançando elevado preço. Isto
fez com que diversas pessoas viessem ao Brasil na intenção de conhecer a
seringueira e os métodos e processos de extração, a fim de tentar também lucrar
de alguma forma com esta riqueza.
A partir da extração da borracha
surgiram várias cidades e povoados, depois também transformados em cidades.
Belém e Manaus, que já existiam, passaram então por importante transformação e
urbanização e viveram seu apogeu entre 1890 e 1920. Desfrutavam de tecnologias
que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o
requintado Teatro Amazonas o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da
Alfândega, no caso de Manaus.
Por sua vez Belém apresentava o Mercado de São Braz Mercado Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos corredores de
mangueiras e diversos palacetes residenciais. Manaus foi a primeira cidade
brasileira a ser urbanizada e a segunda a possuir energia elétrica - a primeira
foi Belém no Estado do Pará com o
período lemista.
Fim do monopólio da produção da borracha na Amazônia
A partir de 1912 a borracha oriunda da Amazônia
começa a perder o monopólio da
produção, uma vez que os seringais plantados pelos inglês na Malásia no Ceilão e na África tropical, com sementes oriundas da própria Amazônia, passaram
a produzir o mesmo produto com maior eficiência. Com custos e preço final
menor, a Ásia passa a assumir o controle do comércio mundial do produto.
Sem uma política governamental de
incentivo a criação de projetos para o planejamento sustentado da região, a
partir da extração do látex, o reflexo é a imediata estagnação das cidades que
viviam em torno da extração e comercialização do produto. Os trabalhadores dos seringais, agora desprovidos da renda da
extração, fixaram-se na periferia de Manaus em busca de melhores condições
de vida.
Algumas tentativas para contornar a
crise não tiveram o efeito esperado, dentre elas a criação da Superintendência
de Defesa da Borracha, criada pelo governo central do Brasil e o cultivo de
seringais na década de 1920, por Henry Ford com técnicas de cultivo especiais
na lograram êxito.
O
segundo ciclo da borracha – 1942 a 1945
Durante a Segunda Guerra Mundial a Amazônia
vivenciou, embora por pouco tempo, um novo ciclo da borracha. Como o domínio forças militares japonesas no Pacífico Sul no decorrer dos primeiros meses de
1942 e a consequente invasão da Malásia, passaram a também ter o controle dos
seringais. O resultado foi brusca queda de 97% da produção da borracha
asiática.
Novamente o Brasil, além da grande
movimentação realizada pela exportação em alta da borracha há a
geração de precedentes para novos investimentos nas atividades rurais e
extrativistas, no qual permitia perspectivas de propulsão e crescimento de
nossa economia. Parte desse ideal surgia da necessidade de viver com os
próprios recursos, a fim de estimular o crescimento da riqueza agropecuária nacional e de produtos que poderiam
contribuir com suas exportações.
A minimização do problema da seca no
nordeste aliada a necessidade da produção da borracha para suprir as Forças Aliadas na produção de material bélico e a
colonização da Amazônia, nesta segunda momento, fazem com que o governo
brasileiro de Getúlio Vargas em 1941 celebre com governo dos Estados Unidos o Acordo de Washington. Essa ação do governo
brasileiro desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na
Amazônia. Essa operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
Como os seringais estavam abandonados e
mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex
de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria
necessária a força braçal de 100 mil homens.
A saída foi o alistamento compulsório no
ano de 1943 de trabalhadores nordestinos realizado pelo Serviço Especial de Mobilização de
Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede em Fortaleza, capital do Ceará, criado
pelo então Estado Novo.
Esse movimento levou milhares de
trabalhadores de várias regiões do Brasil a serem compulsoriamente levados à escravidão por dívida e à morte por doenças tropicais, desconhecidas
até então ou para as quais não possuíam imunidade. Só da região nordestina foram para a Amazônia 54 mil
trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará.
Esses novos seringueiros receberam a denominação de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que
o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão
importante quanto o de combater o regime
nazista com armas. Novamente Manaus
experimenta um novo crescimento econômico e populacional e a região revive a
sensação de riqueza e de pujança com o fortalecimento da economia.
Com final da Segunda Guerra Mundial o Serviço
Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia foi extinto e um
grande contingente de imigrantes, os chamados Soldados da Borracha, ficaram entregue à
própria sorte.
http://istoe.com.br/144519_HISTORIAS+INEDITAS+DA+FERROVIA+DO+DIABO/
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