A partir do século XVI vários representantes da coroa
portuguesa se aventuraram pela região, hoje conhecida como Amazônia. A intenção
era ocupar os vales do Madeira-Guaporé-Mamoré e extrair os recursos valiosos,
como ouro e as drogas do sertão. A ocupação se deu pela ação exploratória dos
bandeirantes e pela presença militar, comprovada pelas inúmeras construções
fortificadas, necessária para conter os conflitos com os indígenas e com os
espanhóis, que também estavam ocupando a região de oeste para leste.
Para fazer frente a essas investidas, Dom Antônio Rolim de
Moura, antes da assinatura do Tratado de Madri, recebeu a incumbência de povoar
a região do Guaporé. Criou para isso a capitania de Mato Grosso, que sob sua
coordenação, dentre outras ações, serviria para estruturar a capital daquela
província denominada de Vila Bela da Santíssima Trindade, assegurando a
presença portuguesa e como importante ponto de coleta de impostos sobre a
mineração na região.
https://www.rondoniagora.com/geral/vale-do-guapore-um-paraiso-ameacado-pela-pesca-predatoria.
Acesso em 22/09/2020.
Ocorre que no final do século XVII, com a decadência da
mineração, o vale do Guaporé foi sendo abandonado, seja por mineradores que
procuravam regiões mais ricas ou pela falta de investimentos. Como a economia
girava em torno da mineração, outro tipo de produção econômica era praticamente
inexistente. O pouco que se produzia na agricultura e na pecuária até o século
XVIII, era apenas de subsistência.
Sem prosperidade nos setores agrícolas, pecuária e nos
engenhos havia falta de gente, de comida, de gado e de minerais valiosos. O que
restou foi escravidão e penúria. O abastecimento da região, inicialmente era
feito através de caravanas paulistas depois de 1754, passou a ser feito a
partir de Belém, pelos rios Amazonas, Madeira, Mamoré, Guaporé.
A partir do séc. XVIII, o Vale do Guaporé transformou-se em
abrigo de indesejáveis e depósito dos proscritos do sistema. Uma forma de
prisão onde os desclassificados poderiam ser úteis para o poder. Brancos
endividados e criminosos viriam a ser a elite dos colonizadores do vale. Em
contrapartida o conjunto de anônimos era formado por indigentes de outras
áreas, prevalecendo a população negra e mestiça e uma elite branca.
As péssimas condições sanitárias somadas ao ambiente natural
hostil, tornavam a região propicia para um elevado número de doenças como
malária, corruções, febres catarrais, pneumonia, diarreia, tuberculose, febre
amarela, tifo e cólera. A falta de acesso ao tratamento dessas doenças as
tornavam sinônimo de morte aos que eram acometidos por tais enfermidades.
Vivendo em condições insalubres os escravos do vale do
Guaporé tendiam a se revoltar, tanto de forma individual como coletiva. Durante
a segunda metade do século XVII eram comuns as fugas de escravos, e a formação
de quilombos. Entre os quilombos daquela época se destacou o de Quariterê que
existiu de 1752 a 1795, ano em que foi destruído.
Entre as
principais causas de decadência do vale do Guaporé podem ser mencionadas:
insalubridade, decadência do ouro, dificuldade de acesso e permanência e
hostilidade indígena. Além disso nas primeiras décadas do século XIX a capital
foi transferida para Cuiabá, onde os capitães generais já passavam a maior
parte do tempo. A partir desse momento, Vila Bela de Santíssima Trindade foi
deixada para trás, ficando no local apenas os negros abandonados à própria
sorte.