Osmair Oliveira dos Santos
O Distrito de Nazaré está
localizado por via fluvial, a 150 km de Porto Velho na margem esquerda da
região do baixo Rio Madeira, entre os Distritos de São Carlos e Calama, no
Estado de Rondônia. Por via terrestre, ainda sem acesso, distancia-se da BR
319, sentido Porto Velho/RO – Humaitá/AM, apenas por 18 quilômetros.
Constituído por 16
comunidades ribeirinhas possui seus pontos extremos em relação à sede do
Distrito, a montante na comunidade denominada de Curicacas e a jusante na
comunidade de Papagaios.
As comunidades que fazem
parte do Distrito de Nazaré são: na margem esquerda do Rio Madeira: Bom será,
Boa Vitória, Nazaré, Prainhas, Tira Fogo, São José da Praia, Espírito Santo,
Santa Rosa e Papagaios; na Margem direita do Rio Madeira: Curicacas, Vista
Alegre, Boa Hora, Pombal, Santa Catarina, Laranjal, Conceição do Galera.
2.
A
formação do Distrito
A origem do Distrito de
Nazaré remonta a chegada e compra da propriedade pelo Senhor Eduardo Costa no
ano de 1916, Um comerciante português que chegou à região do Baixo Rio Madeira
com o objetivo de explorar e comercializar o látex extraído dos ricos seringais
da região amazônica.
Com muitos seringais em seus
domínios e um significativo número de seringueiros, tornou-se em pouco tempo um
dos mais ricos comerciantes da região. O Nome Nazaré advém da sua devoção a
Nossa Senhora de Nazaré. O Seringal Nazaré ficava as margens do lago de mesmo
nome, distanciando-se as margens do rio, aproximadamente, dez quilômetros.
O percurso até o Rio Madeira
para escoamento da produção para embarque nos regatões de Manaus e Belém que
compravam a produção na região era feito pelo igarapé colhereiros, que
desemboca entre as localidades denominadas prainhas e Tira Fogo. O percurso era
longo e exigia o serviço de muitos trabalhadores. Um serviço e gastos
desnecessários, se este rio, em linha reta desembocasse direto no rio Madeira.
Contam os moradores mais
antigos que o atual igarapé que atualmente corta a sede do Distrito de Nazaré e
desemboca no Rio Madeira, anteriormente conhecido como “boca do furo” e foi
escavado pelos próprios fregueses do Senhor Eduardo Costa, por volta do ano de
1945, mediante a realização de uma promessa para Nossa Senhora de Nazaré, cujo
festejo se realiza até os dias atuais.
Com a morte do Senhor
Eduardo Costa, o seu filho Eduardo Costa Filho, conhecido como “Sr. Nanã”
assume o comércio e a administração dos seringais, que dado ao declínio do látex
passa a explorar a sova, também com grande abundancia na região, até o final da
década de 1970, quando feio também a falecer.
Com a morte do Senhor
Eduardo Costa Filho, o local passou a ser liderado pelos próprios moradores que
continuaram a extrair a sova e comercializar com compradores da região de
Manaus e Belém. Continuaram também as tradições e festas populares,
particularmente o festejo de Nossa Senhora de Nazaré, no mês de setembro.
As atividades religiosas no
Distrito de Nazaré, mesmo antes da morte do Senhor Eduardo Costa Filho já era
organizado pelo jovem professor Manoel Maciel Nunes, que viriam mais tarde se
tornar pessoa muito importante nesta região como educador, líder religioso e
comunitário.
Em 1967 a Escola Floriano
Peixoto, única instituição oficial no local, que estava localizada na comunidade
de Boa Vitória foi transferida para Nazaré tendo como professor Manoel Maciel
Nunes que já lecionava na referida escola. Também foi o Professor Manoel Maciel
Nunes que implantou em 1978 o Posto dos Correios na comunidade e foi
responsável por significativos trabalhos reconhecidos até os dias atuais pelos
moradores.
No ano de 1988, já com um
número significativo de eleitores foi instalada mediante a solicitação do
professor Artermo Águila Ribeiro, a primeira urna eleitoral no Distrito de
Nazaré que muito contribuiu com o exercício de cidadania dos moradores que até
então, para votar tinham que se deslocarem a capital, Porto Velho.
Neste mesmo ano o governador
eleito Jerônimo Garcia de Santana através da Comissão Executiva dos Vales dos
Rios Guaporé Mamoré e Madeira – CEMAGUAM levou varias ações sociais e de
benfeitorias a região ribeirinha do baixo rio Madeira, particularmente ao
distrito de Nazaré.
Entre os benefícios
implantados por este governador no Distrito de Nazaré enumera-se: energia
elétrica, construção de Posto de Saúde, Construção de escola, casa de farinha,
distribuição de sementes para os agricultores, serraria e maquinário agrícola
para incentivar a produção local.
No período de 1988 a 1992 o
Governo do Estado implantou uma representação local para administrar o Distrito
de Nazaré que veio a ser decretado oficialmente em 1992, na gestão do Prefeito
de Porto Velho, Francisco Chiquilito Coimbra Erse.
3.
População
A sede do Distrito tem uma
população de 90 famílias totalizando aproximadamente 450 habitantes. Em toda a
área de abrangência do Distrito chega a aproximadamente 4.200 pessoas em grande
maioria descendente de seringueiros nordestinos e de indígenas que ocupavam a
região.
Atualmente, há uma grande
demanda migratória para o Distrito de Nazaré, considerando a criação de um
projeto de assentamento na sede do Distrito, a assistência técnica para os agricultores
através da Emater/RO, a construção pela Secretaria Estadual de Educação de uma
unidade educacional para atendimento aos alunos do ensino médio, assim como as
melhorias no atendimento a saúde pela Prefeitura Municipal.
4.
Desenvolvimento
Econômico e Social
Tendo sobrevivido até o
inicio da década de 1960 pela extração do látex, a base econômica atual de
sobrevivência das comunidades que fazem parte do Distrito de Nazaré é a
agricultura, a pesca, o extrativismo vegetal e servidores públicos.
A comunidade desenvolve a
”festa da melancia”, na segunda semana do mês de agosto. Uma atração econômica,
festiva e turística que já entrou nos roteiros de visita atrativa para o Estado
de Rondônia e que cresce cada ano.
A situação educacional é
posta mediante a existência de 07 escolas municipais que atendem apenas com o
primeiro segmento do ensino fundamental. Os alunos do segundo segmento são
assistidos por um projeto da Secretaria Municipal de Educação constituído por
professores itinerantes. Na sede do Distrito está sendo construída pelo estado
uma escola que atenderá os alunos do ensino médio.
Todas as dezesseis comunidades
possuem energia elétrica fornecida através da central da Guascor instalada na
sede do Distrito e na comunidade de Santa Catarina. A água consumida pela
comunidade é proveniente do próprio rio e sem tratamento.
Em relação à saúde, há três postos
de atendimento básico nas comunidades de Santa Catarina, Papagaios e na sede do
Distrito. Não há médicos permanentes na região do baixo Rio Madeira. Os
moradores que necessitam de atendimentos especializados são encaminhados a
Porto Velho ou recebem consultas por ocasião da ida desses profissionais a
comunidade, motivados por projetos de universidades ou por ocasião de alguma
ação dos órgãos públicos estaduais e municipais.
Há uma diversidade de
diagnóstico de doenças nesta região. No entanto prevalecem as chamadas “doenças
tropicais. Além da malária, que apresenta uma grande incidência na região há um
significativo de diagnósticos de diarréia, gripe e verminoses.
Funciona na sede do Distrito
de Nazaré e na comunidade de Santa Catarina um sistema de telefonia fixa com
telefones públicos e particulares que apesar da distancia a capital Porto Velho
funciona a contento e atende as demandas do Distrito.
5.
Perspectivas atuais e projetos
Nos últimos anos se tem notado
um crescimento significativo em todas as áreas ao longo do Distrito de Nazaré,
que teve visibilidade pela sua diversidade cultural muito fluente. Além das
festividades tradicionais e festejos religiosos que atraem um grande numero de
pessoas dos mais diversos lugares a população tem assistido nos últimos anos as
demonstrações de talento do Grupo Minhas Raízes, coordenado pelo músico e
Professor de Letras Timaia dos Santos Nunes.
O Grupo
Cultural Minhas Raízes é formado por crianças e adolescentes da própria
comunidade do Distrito e atua em ações de diversidade culturais com particular
ação na composição de músicas e histórias do imaginário das populações
tradicionais ribeirinhas e do folclore amazônico.
O que encanta
nas ações desse grupo, que começou com a própria família do professor do Timaia
e no decorrer dos trabalhos foi despertando o interesse de outros jovens e que vem
conquistando o seu espaço a cada dia e a cada apresentação que realiza é a
utilização de instrumentos ecológicos produzidos pelos seus próprios
integrantes a partir de produtos colhidos da floresta ou com a reciclagem de madeira.
Com o segundo
CD gravado, de acordo o seu idealizador, professor Timaia, as ações do Grupo
Minhas Raízes tendem a se expandir para a área teatral mediante o apoio das
instituições estaduais e municipais ligadas a cultura com a construção de um
espaço apropriado para apresentações e realização de oficinas de aprendizagens
na sede do Distrito de Nazaré.
Na área
Educacional, está em construção na sede do Distrito uma escola estadual com dez
salas de aulas e demais dependências administrativas e pedagógicas. Um sonho do
povo que veio se arrastando por longos anos que somente agora o vê se realizar.
Com isso há uma grande expectativa para os jovens estudantes que poderão cursar
o ensino médio no local onde moram, acabando assim a angústia de terem que se
deslocarem para o capital Porto Velho para continuarem os seus estudos.
A agricultura
é outro setor que tem causado expectativas de futuro promissor para os
moradores do Distrito. Com a instalação do Posto de Atendimento da Emater, a
produção tem crescido significativamente. O apoio técnico tem proporcionado
também o incremento e a possibilidade para a implantação por parte do governo,
de usinas de beneficiamento dos produtos locais.
Em particular,
o cultivo da melancia tem se destacado na região e atualmente é visto como um
dos grandes potenciais de arranjos produtivos locais. O transporte para
escoamento da produção ainda é insipiente, tendo em vista ser apenas por via
fluvial, no entanto passos significativos já foram dados com a permanência pelo
município e pelo estado de barcos para a realização desse serviço.
A população
aspira à abertura de uma estrada considerando a pequena distancia que há do
Distrito de Nazaré até a BR 319 que é de apenas 18 quilômetros. O grande
empecilho que há é o trajeto dessa via que passará pela Reserva Ecológica do
Cuniã.
Outros
projetos começam a se manifestar, ganhar força e atenção das instituições
governamentais que diante do potencial de produção do Distrito se sentem
obrigados a incentivar e dotar o povo de condições para o desenvolvimento
dessas ações que vislumbram não somente o aumento da renda, mas também uma
melhor qualidade de vida no lugar onde vivem.