Pensar o espaço de uma comunidade ribeirinha na Amazônia significa superar algumas visões estereotipadas acerca dos significados do que é viver essa múltipla identidade, marcada por diversos aspectos, que vão desde a relação imbricada com a natureza à construção diária da vida nas práticas do cotidiano. As marcas do espaço geográfico e suas influências como as descritas no contexto do cotidiano das cheias, vazantes dos rios são uma das principais marcas do viver das comunidades ribeirinha que transborda de sentidos culturais e sociais materializados pelo cotidiano ligado a natureza, principalmente com o rio
Diante dos novos paradigmas enfrentados, em função das mudanças climáticas globais, novos e diferenciados arranjos espaciais na superfície do planeta e na vida dos homens provavelmente se constituirão (MENDONÇA, 2003). O que se evidencia certamente, será uma nova massa de exclusão social, proporcionada pelos eventos hidrológicos, potencializados pelas variações do clima, que força as populações a buscar novas adaptabilidades, seja na área ribeirinha constituída por uma nova paisagem ou na periferia dos centros urbanos.
Na grande Região Amazônica é perceptível a mudança do clima. Os eventos extremos, de forte seca ou muita chuva que provocam grandes enchentes, estão cada vez mais agressivos e as populações locais têm sido forçadas a encontrar novos meios de sobreviver com um clima cada vez menos previsível. No Estado de Rondônia, os ribeirinhos das margens do Rio Madeira tem sido alguns dos mais impactados, principalmente nos últimos anos.
Para as pessoas que vivem na região do baixo Rio Madeira, o vai e vem das águas ao redesenhar as paisagens, dita o ritmo do cotidiano e exige diferentes mecanismos de adaptação ao longo do ano. O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca é entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e outubro são meses de transição entre um regime e outro.
O pico alto das cheias dos rios se dá entre os meses de janeiro, fevereiro e março, período no qual os ribeirinhos, moradores nas terras de várzeas ficam sem qualquer possibilidade de plantar, colher ou obter qualquer fonte de renda, caracterizando um cenário de novos desafios em virtude da necessidade do deslocamento para outras regiões rurais ou urbanas, tendo pois que se adaptar a novas realidades sociocultural, ambiental e econômica, uma vez que a sua sobrevivência está alicerçada na pesca, na caça, no extrativismo e na agricultura.
Diante desse contexto, vários questionamentos podem ser feitos, dentre os quais o seguinte: há previsibilidade por parte dos povos ribeirinhos quanto ao planejamento de estratégias para a superação de eventos climáticos extremos como cheias e vazantes? Nesse sentido, é essencial, entre outros problemas, estudar capacidade de adaptabilidade dos povos ribeirinhos da amazônia, frente aos eventos climáticos extremos para que medidas preventivas, adaptativas e mitigatórias sejam planejadas, uma vez que a cada ano esses eventos de agravam.