SANTOS; Osmair Oliveira dos. Mestrado em Geografia (UNIR). Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho/RO. E- mail: osmairsantos@gmail.com
ZUFFO; C. E. Doutorado em Geologia e Geoquímica (UFPA). Docente na Universidade Federal de Rondônia. E-mail: catiazuffo@gmail.com
Palavras-chave: Estudante. Educação. Ribeirinho. Porto Velho.
A Região denominada baixo Rio Madeira, no Município
de Porto Velho/RO, formada pelos Distritos de São Carlos, Nazaré, Calama e
Demarcação é constituída por uma variedade de ecossistemas e biodiversidades e
abrange uma área de 7.833,85 km². Possui uma diversidade de povos com saberes,
habilidades, costumes e valores próprios que torna a região um espaço
inter/multicultural, com populações cujas diversidades cultural, social e
étnica sustentam a sua riqueza sócio histórica.
Sua população contabiliza cerca de 5.957
habitantes, distribuídos em 1.421 domicílios (IBGE, 2010). A escola que nasce e
se desenvolve nessa região possui extrema importância para a reprodução social
das populações ribeirinhas (FABRÉ, et al, 2007).
Apesar da peculiaridade e riqueza dessas
localidades, marcada pela subida e descida das águas, a política educacional
tem sido predominantemente pautada no modelo urbano-cêntrico. Via de regra tem
reproduzido fortemente a desvalorização do modo de vida, reforçando o êxodo
rural e consequentemente a falta de desenvolvimento socioeconômico e cultural
da região.
Este artigo tem como objetivo discutir o modelo
educacional que historicamente se tem levado às regiões ribeirinhas de
Rondônia, cujo isolamento sociopolítico e cultural dessas comunidades as tornam
singular, e merecedores de uma escola que desenvolva políticas educativas
diferenciadas, a partir de um currículo que evidenciem as competências e
habilidades dos estudantes alinhadas com as potencialidades locais.
A pesquisa foi realizada nas comunidades
ribeirinhas do baixo Rio Madeira, no município de Porto Velho/RO, cujo
atendimento educacional é composto por três escolas estaduais e 12 municipais
que juntas atendem 1.705 estudantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio (INEP, 2018).
Ancorado na gênese de que as sociedades humanas
existem num determinado espaço, cuja formação social é específica, assim como
no pressuposto de que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito, utilizou-se na pesquisa a abordagem qualitativa de caráter
exploratório de acordo com os princípios estabelecidos por Deslauriers (1991,
p. 58) e Minayo, (2001, p. 14).
Da mesma forma, por seu objeto de estudo
constituir-se da análise de um sistema educativo, algo complexo, singular e bem
delimitado, com contornos claramente definidos, visando retratar a realidade de
forma completa e profunda, o procedimento adotado foi o estudo de caso,
seguindo os esclarecimentos de Lüdke e André (1986, p. 17).
Pensar o espaço das comunidades ribeirinhas na
Amazônia significa superar visões estereotipadas dos significados do que é
viver essa múltipla identidade, marcada por diversos aspectos, que vão da
relação com a natureza à construção da vida nas práticas do cotidiano definidas
pelas cheias e vazantes dos rios.
A quase inexistência, de atenção governamental é
amplamente perceptível, particularmente no que se refere à garantia dos
direitos sociais, como a oferta de um modelo educacional que atenda as
peculiaridades locais com qualidade. São crianças e jovens que têm suas vidas
inseridas num modo peculiar de viver, trabalhar e estudar.
Muitas dessas crianças já começam a lidar com a
pesca e a agricultura desde muito cedo, participando dos fazeres e do sustento
diário de suas famílias. A invisibilidade carregada consigo, proporciona a
inexistência de uma política educacional que tenha como base o desenvolvimento
humano, com currículos centrados na aprendizagem ativa e reflexiva que vise o
desenvolvimento de cidadãos capazes de responder de forma autônoma as
transformações advindas do processo de globalização.
Percebe-se que o atendimento educacional em
comunidades ribeirinhas do baixo Madeira, no Município de Porto Velho não
dispõe de um planejamento efetivo e reflete o modelo urbano cêntrico, sem dar
importância aos interesses da população local.
Trata-se de uma estrutura advinda da imposição
social, na qual os padrões educacionais, culturais, didáticos e institucionais
urbanos são transpostos para as unidades educacionais rurais, deixando de
explorar as potencialidades econômicas, sociais e culturais vividas pelos
educandos, no local onde vivem.
As análises realizadas em documentos existentes nos
sistemas educacionais municipais e estaduais, como Proposta Curricular,
Programa Formação de Professores, Calendário Escolar, entre outros voltados
para o desenvolvimento da educação no município, não apresentam propostas que
respeite as diferenças e características enquanto escola que abriga um outro
modo de viver as relações pedagógicas e cujo currículo precisa voltar-se para
suas necessidades cotidianas.
Mesmo a Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases
da Educação – LDB, conceber que na oferta de educação básica para a população
rural, os sistemas de ensino deverão promover as adaptações necessárias à sua
adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente
quanto aos conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos, organização escolar própria, incluindo
adequação do calendário às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e adequação
à natureza do trabalho na zona rural, tais condições ainda não se tornaram
reais nas escolas ribeirinhas.
Persiste no universo educacional ribeirinho uma
dicotomia em pensar no aluno que se quer formar quando a sua educação escolar
não reflete o seu modo de viver e de se organizar no contexto do ambiente onde
vive. Neste contexto é salutar refletir na importância das escolas e da
educação no ambiente ribeirinho, não somente pelas difíceis condições de
acesso, precariedades físicas, dinâmica dos rios e trabalho do professor, mas
sobretudo pela transformação que a mesma é capaz de gerar e influenciar no
desenvolvimento das pessoas.
A pesquisa mostrou a necessidade de repensar as
práticas e os conceitos pedagógicos desenvolvidos nas escolas ribeirinhas. Para
isso, sobrepõem-se como condição primeira que os saberes tradicionais, as
crenças e a cultura dessas populações sejam consideradas nas discussões de um
projeto de escola, que inspirada na nova Base Nacional Comum Curricular traga
consigo a construção de uma proposta que impacte diretamente na vida dos
ribeirinhos.
Uma pedagogia diferenciada que articule o saber
cultural com o saber científico despido de qualquer preconceito e que considere
as peculiaridades geográficas da região, formação de professores e discussões
quanto as possibilidades da formatação de um currículo por competência que
valorize e almeje a aprendizagem ativa e reflexiva dos alunos em uma escola com
outro modo de viver.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC, 1996.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
DESLAURIERS J. P. Recherche qualitative: guide pratique. Québec (Ca):
McGrawHill, Éditeurs, 1991.
FABRÉ, Nídia Noemi, et al (Org.). Sócio biodiversidade e conservação da
várzea amazônica. Manaus: Pyrá, 2007.
INEP. Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Sinopse Estatística da Educação Básica 2018. Brasília: Inep, 2019.
Disponível em: . Acesso em 29 de maio de 2019.
IBGE. Censo Demográfico – 2010: Características da população e dos
domicílios. Resultados do universo. Rio de Janeiro:
IBGE, 2011. Disponível em: . Acesso em 29 de maio de 2019.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.