Nas últimas décadas, a água tornou-se objeto de
conflito pelos múltiplos usuários, urbanos e rurais, diante do aumento da
demanda e à escassez da oferta. A preocupação com os impactos das atividades
humanas sobre o meio ambiente cresce a cada dia, necessitando de uma gestão
eficiente sobre esse bem de domínio público.
A disponibilidade de água doce limpa é
potencialmente uma das maiores preocupações que a sociedade mundial terá de
enfrentar e adaptar-se nos próximos anos, uma vez que existe crescente pressão
sobre esse recurso para os diversos usos, tais como: geração de energia
elétrica, uso doméstico, uso industrial, mineração e irrigação, associados à
redução da qualidade da água, devido ao lançamento de diversos efluentes,
mostram um potencial de conflito pelo uso da água.
A Política Nacional de Recursos Hídricos, através
da Lei Federal nº 9.433/1997, tem como um dos seus princípios básicos que a
gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada, com a participação do
poder público, dos usuários e da sociedade (BRASIL, 1997). Surge dessa forma a
figura dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que possuem poder deliberativo,
propositivos e consultivos, e têm como papel principal o debate das questões
locais sobre recursos hídricos, buscando consenso sobre os múltiplos interesses
e usos da água na bacia.
A lei 9.433/1997 também traz um importante
instrumento que auxilia no processo de gestão dos recursos hídricos,
estabelecido no artigo 5º, a outorga que possui por finalidade “assegurar o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos
direitos de acesso à água” (BRASIL, 1997).
Desta forma, a outorga possui dupla finalidade,
pois confere aos usuários que a vazão outorgada não será utilizada por
terceiros, garantindo assim o quantitativo de água necessário para sua
atividade e para a administração pública e uma melhor gestão desse recurso,
devido ser de conhecimento dos usuários, as finalidades de uso, proporcionando
uma melhor articulação com os demais instrumentos da Política Nacional de
Recursos Hídricos (ANA, 2019).
A Agência Nacional de Águas e de Saneamento Básico (ANA) é a responsável pela análise e emissão da outorga de direito do uso de recursos hídricos em corpos hídricos de domínio da União e a solicitação de outorga dos corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal deve ser feita às respectivas autoridades estaduais.
Segundo Porto et al. (2008), “a exceção, prevista
na própria legislação, são os usos considerados como insignificantes, isentos
da obrigatoriedade de obtenção de outorgas, mas definidos localmente em cada
bacia hidrográfica e pelos respectivos comitês, em função das disponibilidades
hídricas e demandas locais”.
A outorga é um dos instrumentos de grande
importância para a efetiva gestão dos recursos hídricos, já que é a forma como
o órgão gestor consegue controlar a demanda, avaliando a quantidade e qualidade
da água, com o objetivo de garantir a interação entre os múltiplos usos da
água, mitigando assim os conflitos dos usuários por esse bem indispensável para
as suas atividades.
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