As
Reservas Extrativistas são espaços territoriais destinados à
exploração autossustentável e conservação dos recursos naturais
renováveis, por populações tradicionais. Em
tais áreas é possível materializar o desenvolvimento sustentável,
equilibrando interesses ecológicos de conservação ambiental, com
interesses sociais de melhoria de vida das populações que ali
habitam.
São
criadas em áreas que possuam características naturais ou exemplares
da biota que possibilitem a sua exploração, sem prejuízo da
conservação ambiental e seus objetivos dependem fundamentalmente da
participação da comunidade inserida no local. Trata-se, portanto,
de um processo totalmente participativo, no qual é a própria
comunidade quem toma as decisões quanto ao manejo e uso múltiplos
dos recursos disponíveis na unidade.
A
Reserva Extrativista Lago do Cuniã, inserida no bioma Amazônia,
Estado de Rondônia, município de Porto Velho é constituída por
uma área 50.603,84 há. Foi criado pelo Decreto Federal nº 3.238 de
10 de novembro de 1999. Entre os produtos extraídos, cultivados e
produzidos na Resex Lago do Cuniã estão a produção de farinha,
açaí e castanha-do-brasil, além de fazerem o manejo de espécies
de peixe como o pirarucu. Recentemente vem sendo desenvolvido um
projeto, em vias de implementação, para o manejo do jacaré-açu. O
foco do projeto será o abate, de forma sustentável, para
comercialização da carne e do couro. A população tradicional está
organizada na forma de uma associação – a Associação de
Moradores do Cuniã (ASMOCUN).
O
instituto Chico Mendes é órgão gestor da Resex que conta com 4.500
moradores e cinco tipo de formações vegetais caracterizadas como
Savana/Floresta Ombrófila, Formação Pioneira Fluvial arbórea,
Floresta Ombrófila Aberta de Terra baixa, Formação Pioneira
Fluvial Arbustiva e Formação Pioneira herbácea (Graminóide).
Sendo as duas primeiras formações vegetais dominantes na área da
reserva.
A gestão coletiva da Resex do
Lago do Cuniã, sua relação de propriedade, conflitos e a
influência educacional no processo de conscientização para a
exploração dos recursos naturais existentes na unidade tem como
pressupostos teóricos os trabalhos de Olson (1998) em a “Lógica
da ação coletiva” e de Garret Hardin (1968) em “A tragédia dos
bens comuns”, onde a ação coletiva é tratada como uma
problemática de pesquisa. Ambos tratam de questões relacionadas à
abordagem da escolha racional que busca compreender fenômenos
sociais.
Essa
linha teórica foi desenvolvida por economistas para explicar
fenômenos sociais, tais como a utilização de um pasto comum entre
vários pastores ou a pesca no mar aberto. A lógica seria discutir,
principalmente, ideias utilitaristas no sentido de que o homem segue
seus próprios interesses quando associados a outros. Hardin (1968)
em a “Tragédia dos bens comuns” desenvolve a temática da ação
coletiva relacionada ao uso de recursos naturais.
Utiliza
exemplos como recursos pesqueiros e uso de pastos coletivos. Hardin
(1968) preocupa-se com o crescimento demográfico e a pressão
exercida sobre os recursos naturais de livre acesso, como em áreas
oceânicas, por exemplo. A tragédia dos bens comuns consiste em
afirmar que todos têm livre acesso aos recursos dessa natureza e
acabam por explorá-los em busca de benefícios individuais, porém
os efeitos desta exploração, como no caso de uma sobrepesca e
sobrepastejo, seriam de todos. Ou seja, todos dividiriam os
prejuízos.
Assim,
a exclusão de potenciais usuários ao acesso de recursos comum é
custosa e muitas vezes impossível, como por exemplo, o controle de
vidas selvagens ou águas subterrâneas; outra característica do bem
comum, apresentada na definição, seria a subtração, que significa
que cada usuário ao explorar determinado recurso tem a capacidade de
subtrair parte da prosperidade do outro, ou seja, “o nível de
exploração de um usuário afeta adversamente a habilidade de
exploração de outro usuário” (FEENY et al., 2001, p.20).
A
população humana que habita a RESEX Lago do Cuniã tem uma história
de luta e resistência na terra contra políticas governamentais de
preservação, que retiravam o ser humano de áreas naturais
protegidas. Esse histórico contribuiu para a consciência crítica e
sentimento de pertencimento a terra por seus moradores.
Provavelmente, isso ajudou com que, ao longo da última década,
muitas tenham sido as conquistas da RESEX em termos de
infraestrutura, saúde e educação. Entretanto, essas conquistas
ainda não garantem uma série de direitos da população ribeirinha.
Dentre esses direitos está o acesso à saúde, educação e
saneamento.
Baseando-se
no que foi brevemente exposto acima, concebe-se a necessidade
evidenciar progressos, economia, conflitos e consciência ambiental
demandada pelo estudo do atual estado de gestão coletiva de bens
comuns com objetivos de assegurar o uso sustentável e a conservação
dos recursos naturais renováveis, protegendo os meios de vida e a
cultura da população extrativista local.
As
reservas extrativistas, em sua concepção, tinham por intenção
serem autogeridas pelos próprios usuários quando concebidas. Desde
a década de 1990, quando foram assinados decretos sobre a disposição
de reservas extrativistas, ao ano de 2000 houve a institucionalização
federal destes espaços, estabelecendo-se a chamada cogestão,
através da criação de conselhos gestores e da transferência de
administração para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA (CUNHA et
al.,2009).
Atualmente o órgão responsável pela administração de reservas
extrativistas é o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade - ICMBio.
A co-gestão é um sistema que agrega diferentes atores em espaços de decisão, onde são pensadas e demandadas regulamentações de usos e sanções no interior de territórios conservados. Assim, esse modelo de gestão é uma parceria entre órgãos governamentais, não governamentais e populações tradicionais, sendo que esta última deve necessariamente ser organizada através de uma associação-mãe que represente a Reserva Extrativista.
Existem ainda dois tipos de conselhos atuando em Unidades de Conservação (UCs): o deliberativo e o consultivo. No caso de Reservas Extrativistas, o conselho é de caráter deliberativo e o gestor da reserva (funcionário do ICMBio) é necessariamente o presidente do conselho, como instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (2000).
A co-gestão é um sistema que agrega diferentes atores em espaços de decisão, onde são pensadas e demandadas regulamentações de usos e sanções no interior de territórios conservados. Assim, esse modelo de gestão é uma parceria entre órgãos governamentais, não governamentais e populações tradicionais, sendo que esta última deve necessariamente ser organizada através de uma associação-mãe que represente a Reserva Extrativista.
Existem ainda dois tipos de conselhos atuando em Unidades de Conservação (UCs): o deliberativo e o consultivo. No caso de Reservas Extrativistas, o conselho é de caráter deliberativo e o gestor da reserva (funcionário do ICMBio) é necessariamente o presidente do conselho, como instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (2000).