Os conceitos de moral e ética permeiam o dia-a-dia das pessoas desde
os primórdios da humanidade. No entanto, precisam ser esclarecidos e
compreendidos para a sua devida utilização distintamente na
sociedade. Ou seja, reconhecer a capacidade que o indivíduo tem para
distinguir o certo e o errado, e agir para que esse reconhecimento se
reflitam nas práticas individuais e coletivas dos seres humanos.
A filosofia deu significado específicos aos dois termos desde a sua
origem na Grécia Antiga com as escolas dos estoicos e epicuristas e
mais tarde a aristotélica, da qual originou-se a primeira teoria
denominada por Aristóteles como a ciência da virtude. A segunda
teoria ética refere-se ao utilitarismo, sendo seu idealizador o
filósofo Jeremy Bentham que a baseava na máxima: “A máxima
felicidade possível do maior número possível de pessoas”. Sua
ética era baseada no fugir à dor e buscar o prazer, ou seja, a
felicidade está no prazer, devendo-se evitar a dor.
A terceira teoria ética é a kantiana, centrada na noção de dever.
O dever, de acordo com Kant, força-nos a fazer coisas que talvez não
queremos ou que não nos agrada. Porque o homem não é perfeito nem
simples, mas, um ser dual, ou seja, este mesmo dever, quando nos
força, obriga a fazer aquilo que favorece a liberdade, porque o
homem é um ser autônomo e racional. Sobre o
cumprimento do dever, Kant (1974, p. 208), menciona:
Uma ação praticada por dever
tem seu valor moral, não no propósito que com ela se quer atingir,
mas na máxima que a determina: não depende, portanto da realidade
do objeto da ação, mas somente do princípio do querer segundo o
qual a ação, abstraindo de todos os objetos da faculdade de
desejar, foi praticada […] dever é a necessidade de uma ação por
respeito à lei.
A ética se ocupa com os princípios que fundamentam a vida moral ao
longo do tempo e da história. Por sua vez, a moral, para Kant estar
alicerçada num princípio formalista, ou seja, o que interessa de
fato é o respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins
ou consequências dos atos. É o exercício de uma boa vontade,
guiada pela razão agindo em função do dever, que ele chama de
imperativo categórico.
Para Bitar e Almeida (2010, p. 542), a moral é o conteúdo da
especulação ética, uma vez que se trata do conjunto de hábitos e
prescrições de uma sociedade. Desta forma, mesmo se apresentando
com conceitos diferenciados a moral não poderá se desvincular da
ética. Guisán (apud BITTAR, 2002, p. 11), explica da seguinte
forma:
La ética
no debe ser confundida con la moral […] pero tampoco puede
permanecer desligada de la moralidad positiva, de la que debe partir
para corregirla y modificarla.
Para muitos pensadores não há preocupações
em distinguir os dois termos e enfatizam sua interdependência. Kant
(apud Nalini, 2008, p. 112), no entanto, prefere definir os dois
termos separadamente, por entender que a moral designa o conjunto dos
princípios gerais, e a ética, sua aplicação concreta. Diante
disso, Bittar e Almeida (2010, p. 544) fazem o seguinte comentário:
Todo
conteúdo de normas morais tem em vista sempre o que a experiência
registrou como bom e como mau, como o que é capaz de gerar
felicidade e infelicidade, como sendo o fim e a meta da ação
humana, como a virtude e o vício.
Percebe-se assim, que historicamente o tema
moral e ética tem suscitado discussões nos diferentes tipos de
sociedade, porém nos dias atuais têm ganhado maior ênfase, tendo
em vista a dimensão dos problemas sociais em evidência. Nesse
contexto, Georgen (2007,
p. 5) faz o seguinte comentário:
Isso não
significa que em outros tempos esse tema não tenha sido relevante.
Os textos dos mais destacados e influentes pensadores, filósofos,
historiadores, políticos e literatos de todas as épocas nos
fornecem um vasto material que comprova a constante preocupação com
a ética e a moral. Porém, ao contrário do passado, o tempo atual
vive grandes e céleres transformações que afetam não só o
exterior, mas também os fundamentos do ser e do pensar, as formas de
julgar e decidir, as normas e os valores. As referências que
permitem distinguir o bem do mal, o justo do injusto assume ares de
volatilidade, de relatividade, de opacidade. Além disso, o
desenvolvimento científico-tecnológico nos diversos campos do
saber, como a física, a química, a biologia, a genética, a
comunicação etc., amplia o poder de intervenção do ser humano
sobre a natureza e a vida com consequências assustadoras e
imprevisíveis. Em qualquer ambiente da sociedade contemporânea, as
decisões e as ações podem ter efeitos ameaçadores não só para
os indivíduos, mas para a sociedade como um todo.
À Luz da filosofia, e evidenciando a praticidade da aplicação do
tema no cotidiano das pessoas, fica claro o entendimento de que a
formação moral deve ser vista como um processo no qual os
indivíduos recebem da sociedade um sistema de valores e normas. Para
Kant, a pedagogia sempre evidenciou algo a ser pensado além dos
mecanismos prático e metodológico, revelando-se, dessa forma, a
necessidade de uma visão sobre o prisma da filosofia.
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