quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O que é moral e o que é ética?


Os conceitos de moral e ética permeiam o dia-a-dia das pessoas desde os primórdios da humanidade. No entanto, precisam ser esclarecidos e compreendidos para a sua devida utilização distintamente na sociedade. Ou seja, reconhecer a capacidade que o indivíduo tem para distinguir o certo e o errado, e agir para que esse reconhecimento se reflitam nas práticas individuais e coletivas dos seres humanos.
A filosofia deu significado específicos aos dois termos desde a sua origem na Grécia Antiga com as escolas dos estoicos e epicuristas e mais tarde a aristotélica, da qual originou-se a primeira teoria denominada por Aristóteles como a ciência da virtude. A segunda teoria ética refere-se ao utilitarismo, sendo seu idealizador o filósofo Jeremy Bentham que a baseava na máxima: “A máxima felicidade possível do maior número possível de pessoas”. Sua ética era baseada no fugir à dor e buscar o prazer, ou seja, a felicidade está no prazer, devendo-se evitar a dor.
A terceira teoria ética é a kantiana, centrada na noção de dever. O dever, de acordo com Kant, força-nos a fazer coisas que talvez não queremos ou que não nos agrada. Porque o homem não é perfeito nem simples, mas, um ser dual, ou seja, este mesmo dever, quando nos força, obriga a fazer aquilo que favorece a liberdade, porque o homem é um ser autônomo e racional. Sobre o cumprimento do dever, Kant (1974, p. 208), menciona:

Uma ação praticada por dever tem seu valor moral, não no propósito que com ela se quer atingir, mas na máxima que a determina: não depende, portanto da realidade do objeto da ação, mas somente do princípio do querer segundo o qual a ação, abstraindo de todos os objetos da faculdade de desejar, foi praticada […] dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei.

A ética se ocupa com os princípios que fundamentam a vida moral ao longo do tempo e da história. Por sua vez, a moral, para Kant estar alicerçada num princípio formalista, ou seja, o que interessa de fato é o respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins ou consequências dos atos. É o exercício de uma boa vontade, guiada pela razão agindo em função do dever, que ele chama de imperativo categórico.
Para Bitar e Almeida (2010, p. 542), a moral é o conteúdo da especulação ética, uma vez que se trata do conjunto de hábitos e prescrições de uma sociedade. Desta forma, mesmo se apresentando com conceitos diferenciados a moral não poderá se desvincular da ética. Guisán (apud BITTAR, 2002, p. 11), explica da seguinte forma:
La ética no debe ser confundida con la moral […] pero tampoco puede permanecer desligada de la moralidad positiva, de la que debe partir para corregirla y modificarla.

Para muitos pensadores não há preocupações em distinguir os dois termos e enfatizam sua interdependência. Kant (apud Nalini, 2008, p. 112), no entanto, prefere definir os dois termos separadamente, por entender que a moral designa o conjunto dos princípios gerais, e a ética, sua aplicação concreta. Diante disso, Bittar e Almeida (2010, p. 544) fazem o seguinte comentário:

Todo conteúdo de normas morais tem em vista sempre o que a experiência registrou como bom e como mau, como o que é capaz de gerar felicidade e infelicidade, como sendo o fim e a meta da ação humana, como a virtude e o vício.

Percebe-se assim, que historicamente o tema moral e ética tem suscitado discussões nos diferentes tipos de sociedade, porém nos dias atuais têm ganhado maior ênfase, tendo em vista a dimensão dos problemas sociais em evidência. Nesse contexto, Georgen (2007, p. 5) faz o seguinte comentário:
Isso não significa que em outros tempos esse tema não tenha sido relevante. Os textos dos mais destacados e influentes pensadores, filósofos, historiadores, políticos e literatos de todas as épocas nos fornecem um vasto material que comprova a constante preocupação com a ética e a moral. Porém, ao contrário do passado, o tempo atual vive grandes e céleres transformações que afetam não só o exterior, mas também os fundamentos do ser e do pensar, as formas de julgar e decidir, as normas e os valores. As referências que permitem distinguir o bem do mal, o justo do injusto assume ares de volatilidade, de relatividade, de opacidade. Além disso, o desenvolvimento científico-tecnológico nos diversos campos do saber, como a física, a química, a biologia, a genética, a comunicação etc., amplia o poder de intervenção do ser humano sobre a natureza e a vida com consequências assustadoras e imprevisíveis. Em qualquer ambiente da sociedade contemporânea, as decisões e as ações podem ter efeitos ameaçadores não só para os indivíduos, mas para a sociedade como um todo.

À Luz da filosofia, e evidenciando a praticidade da aplicação do tema no cotidiano das pessoas, fica claro o entendimento de que a formação moral deve ser vista como um processo no qual os indivíduos recebem da sociedade um sistema de valores e normas. Para Kant, a pedagogia sempre evidenciou algo a ser pensado além dos mecanismos prático e metodológico, revelando-se, dessa forma, a necessidade de uma visão sobre o prisma da filosofia.

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