Dentre os vários termos utilizados no segmento educacional formal, ensino e aprendizagem fazem parte desse contexto, muitas vezes sem a devida clareza do seu verdadeiro significado que se refere a uma ação dinâmica, e não a coisas estáticas.
Têm-se, portanto dois processos independentes, porém interagindo entre si simultaneamente. Sua complexidade já propiciou vários estudos evidenciando significados, afora os existentes nos dicionários atuais, por entender que os mesmos não representam com clareza os termos adequados da força dessas duas palavras no que se refere ao aspecto educacional.
Paulo Freire (1971) denunciou que as expressões existentes para esses termos são compatíveis com o que define uma “concepção bancária” de educação e não permitem o desenvolvimento de uma “prática educacional” adequada.
Skinner (1972) comentou que a maior parte das definições é meras ficções verbais, convenções vazias que não se referem ao que acontece e sim aos efeitos que o uso desses termos tem sobre os ouvintes.
Trata-se da interação entre docentes e discentes na perspectiva de que possa derivar condições que viabilize intervenções significativas no fazer da Educação e consequentemente nas contribuições que ambos podem construir para o desenvolvimento desse processo.
O fato é que o tema suscita um cenário de grandes debates no Sistema Educacional brasileiro e consequentemente na escola onde efetivamente se estabelece a relação de todos os atores envolvidos nesse processo.
Desenvolve- se assim vários questionamentos sobre a formação do aluno, as formas como o mesmo irá ser capacitado, o papel da escola como lugar de desenvolvimento integral e as contribuições do professor através da sua prática, que deve ser capaz de conduzi-lo a reflexão sobre a capacidade de se transformar em sujeito da sua própria história, mudando a sua condição de ser e estar no mundo (Freire, 2002, p. 23).
A princípio é importante destacar que as contribuições do docente no ensino e aprendizagem dos alunos são inúmeras, uma vez dadas a este, a disponibilidade de ferramentas e o consequente conhecimento para o seu manuseio. Cabe ao docente a percepção e o desenvolvimento de uma a visão holística de todos os meios didáticos disponíveis, uma vez que os processos de aprendizagens são diferentes não podendo perder de vista os aspectos de uma educação integral e recíproca.
Nesta perspectiva, admite Libâneo:
A relação entre ensino e aprendizagem não é mecânica, não é uma simples transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Portanto é uma relação recíproca na qual se destacam o papel dirigente do professor e a atividade dos alunos. Dessa forma podemos perceber que o ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem dos alunos. (Libâneo, 1994, p. 90).
O docente, para Libâneo (1994) deverá ser o facilitador do processo de aprendizagem desvinculando-se de práticas mecanizadas devendo imperar a competência e tendo claro no seu planejamento pedagógico que ao longo da jornada surgirão muitos desafios.
Da mesma forma é imperativo o reconhecimento que não é o único detentor de conhecimento e na medida em que ensina também aprende, ou seja, todos são atores do mesmo processo. Cabe a este a mediação e a procura das melhores metodologias de ensino para o publico diverso que tem a sua volta.
Da mesma forma, não se poderá excluir desse processo a individualidade no aprendizado que cada um carrega consigo. Os métodos deverão ser empregados de acordo com os meios disponíveis na escola e com os aspectos da realidade social e diversos outros fatores que influenciam a forma de aprender dos alunos. Para Barroso (2015), é necessário que os métodos sejam adequados às necessidades dos alunos para que se obtenha uma aprendizagem efetiva. Neste sentido um bom planejamento, por parte do docente é de importância fundamental.
Que o ensino precisa ser planejado a partir da especificação do que é necessário produzir e com o que é preciso lidar é condição real com a qual o docente se depara todos os dias para poder produzir os resultados de interesse, esperado pela sociedade.
Conscientes da importância dessa ação o docente deverá pressupor que o ato de planejar uma aula ou uma ação pedagógica não se resume tão somente a ações técnicas e instrumentais, mas também à ação politica que se articula com os demais trabalhos e segmentos da escola.
Sobre essa questão, Zabalza (2004) argumenta que os docentes ensinam tanto pelo que sabem, quanto pelo que são. A expectativa sentida no desenvolvimento do trabalho, a maneira como o planejamento é realizado, a forma de abordagem dos conteúdos selecionados, a metodologia empregada em cada aula, as exigências ponderadas para aprovação, o relacionamento com os alunos e o dia-a-dia da instituição remetem ao que são, sentem ou vivem.
Nesse sentido, criar condições de ensino e aprendizagem é um ato imprescindível e coletivo onde os interesses se complementam uma vez identificados as múltiplas necessidades e expectativas dos envolvidos.
Nesse caminho de expectativas que permeiam o processo de ensino-aprendizagem, alunos e docentes precisam ser cooperadores na construção do conhecimento, pois o professor possui um importante papel na construção de uma educação cidadã. A cerca dessa discussão Freire (1996, p.140) faz o seguinte argumentação:
Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso conhecer pelo aluno. O que posso e o que devo fazer é na perspectiva progressista em que eu me acho, ao ensinar lhe certo conteúdo, desafiá-lo a que se vá percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber (Freire, 2002, p.140).
Percebe-se assim, que nesse processo se faz necessário que haja duplos desafios dos atores envolvidos, a fim de que o aluno descubra o verdadeiro significado de ensino e não só o conteúdo proposto pelo professor. Quando a discussão é remetida aos aspectos da realidade do mundo contemporâneo como suas inovações e tudo o que a tecnologia pode propiciar, as contribuições do docente no processo ensino e aprendizagem dos alunos se tornam cada vez mais importante.
O professor precisa buscar não apenas novas práticas de ensino e formas diferentes de construir conhecimento juntamente com o aluno, mas conscientizar-se de que é imprescindível a obtenção de uma visão crítica sobre suas teorias e a práticas buscando sempre a sintonização com o aluno e com o seu mundo real. Para Sacristán e Gómez (1998, p.62), os alunos podem se envolver num processo aberto de intercâmbio e negociação de significados sempre que os novos conteúdos provoquem a ativação de seus esquemas habituais de pensar e atuar.
Essa perspectiva de construção de novos saberes voltadas ao ensino e aprendizagem é o que muitos autores e pesquisadores contemporâneos da educação, comumente passaram a chamar de abordagem sociocultural, uma vez que é por meio da interação entre professores e alunos que ambos construirão o saber. Na abordagem sociocultural o processo de ensino e aprendizagem se torna cada vez mais significativo, uma vez que não se admite ou se vê tão somente a figura destoada do aluno ou o professor.
O que se admite é um processo amplo, pois ambos se posicionam como sujeitos de conhecimentos que interagem, resinificam e se constroem mutuamente. Nesse cenário de trocas de sabres o professor passa a construir seu planejamento sempre num processo onde não há um formato especifico a ser seguido e sim construindo e transmitido a partir da realidade imposta pela relação dos agentes contribuintes desse processo, tendo em vista que a aprendizagem só será positiva se for significativa para o aluno.
As contribuições do docente nesse processo são de singular importância não somente pela consideração dos aspectos situacionais quanto a questão da mudança de paradigmas relacionados ao significado do conhecimento, mas também, à luz de novas experiências que um indivíduo vivencia e traz consigo para o ambiente escolar. São novas abordagens que se propõem a entender a tensão entre conectividade e situacionalidade, aspectos centrais para o entendimento da mudança do ato docente de ensinar que tem como consequência a aprendizagem do aluno.
A concepção de Vygotski (1994) é salutar nesse entendimento quando se propõe a explicar a construção do pensamento e a relação ensino e aprendizagem uma vez que corroborando com Mercer (1994) a vislumbra como um processo social e cultural intrínseco entre aluno e discente. Nesse ponto de vista, Freitas (2000) conclui que o conhecimento é algo construído em conjunto e não simplesmente passado de um para o outro.