Os
historiadores afirmam que o renascimento nos séculos XIV e XV marcado pela
redescoberta da arte e literatura grega, o humanismo com sua ênfase no temporal
e o consequente colocação do homem no centro da realidade, o repensar da
política e estilo de governo marcado pelas obras do Maquiavel, o estudo
científico e a Filosofia Moderna com sua ênfase do poder racional do homem,
sinalizaram um retorno às raízes do pensamento racional e a morte do poder de
controle do astrólogo, do mago e da igreja sobre o conhecimento. A sabedoria (o
conhecimento) não é mais visto como algo sagrada e mística além da compreensão
do homem comum; através do pensar, do raciocinar o homem é capaz de traçar seu
próprio destino e caminhar rumo ao conhecimento.No presente texto serão
apresentadas características dessa época da jornada humana, será que é de fato
uma viagem das trevas à luz ou pode ser considerado o curso natural das coisas
à luz do crescer do conhecimento humano?
A
filosofia da idade moderna nasceu graças aos trabalhos dos protagonistas do
renascimento cultural e científico dos séculos XIV e XV entre eles Nicolau
Copérnico, Leonardo da Vinci, e dos esforços de cientistas e pensadores como
Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes e Emanuel Kant nos séculos
seguintes e tem entre suas características:-
a) O
Racionalismo
A filosofia
moderna propriamente falando iniciou-se com a teoria do conhecimento do René
Descartes. Conhecido como pai da filosofia moderna, parece que ele levou muito
a sério as palavras do Leonardo Da Vinci que diz "Quem pouca pensa, muito
erra."Na Idade Média, na sociedade e na política a Palavra de Deus,
considerada fonte única do conhecimento absoluto, foi interpretada pela igreja
que dominava todos os aspectos da vida. O renascimento trouxe uma ênfase
renovada no desenvolvimento científico e na capacidade humana e a necessidade
de uma nova definição do ser humano e seu lugar no mundo. Na modernidade a
chamada Idade da Razão então, surgiu à necessidade de redefinir os paradigmas,
Descartes na declaração, "penso logo existo", descrito pelo Prof. Wesley
Dourado na palestra "Aspectos Gerais da Filosofia Moderna" sobre as
como um "ponto arquemédico [...] a verdade inicial da qual se poderá
constituir outras verdades" iniciou esse processo. Ele declara que o
homem, ser racional por natureza, tem a capacidade de alcançar o conhecimento e
mais que isso, sua existência é definida pelo ato de pensar.
Por
entender ser possível chegar ao pleno conhecimento através do processo de
pensamento racional, Descartes, idealizou um processo de dúvida metódica pelo
qual através da rejeição (eliminação) de pensamentos ou ideias em que resida a
menor dúvida o homem seria capaz de alcançar o conhecimento. As obras do
Descartes formaram a base sobre qual os racionalistas desenvolveram seus
processos.
b) O
Empirismo
Quando
Leonardo Da Vinci afirma que "A sabedoria é filha da experiência"
(ABBAGNANO, §388) ele de fato resume em poucas palavras a crença dos empiristas
ingleses cujo trabalho antecedeu por quase um século. Francis Bacon, John
Locke, David Hume e outros pensadores contra posição aos racionalistas do
continente europeu desenvolveram e propagavam o raciocínio experimental, ou
seja, a teoria de que o único caminho pelo qual o homem pode chegar ao
conhecimento é através da experiência sensível (empírica). Marlene Chauí
explica que Francis Bacon "propõe a instauração de um método, definido
como modo seguro de 'aplicar a razão à experiência', isto é, de aplicar o
pensamento lógico aos dados oferecidos pelo conhecimento sensível". (2006
p.126)
Marlene
Chauí afirma que para os empiristas o contato com o mundo externo através de um
conjunto de sensações (através dos sentidos) leva a um processo de dedução que
possibilita o conhecimento, "O conhecimento é obtido por soma e associação
das sensações na percepção e tal soma e associação dependem da freqüência, da
repetição e da sucessão dos estímulos externos e de nossos hábitos".
(2006, p.133) Um fator marcante da modernidade é a separação entre a Filosofia
e a Ciência empírica. A ciência moderna, dependente nas experiências desenvolvidas
em situações controladas, é empírica por natureza, contrastando-se com o
pensamento do Aristóteles que percebia a Metafísica como ciência primeira.
c) A
perfectibilidade.
Os
precursores da filosofia moderna entre eles Leonardo da Vinci, Copérnico e
Galileu acreditaram na perfectibilidade da natureza e defenderam a teoria da
perfectibilidade da razão humana. Iniciou-se uma "busca por expressar,
entender, explicar pela razão perfeita a natureza perfeita". A ciência
renascentista entendeu que pelo fato que Deus criou a natureza é possível
conhecer Deus através da natureza e, portanto, produzir conhecimento.
Em sua
epistemologia Immanuel Kant sintetizou as teorias do Descartes e os
racionalistas continentais e Hume e os empiristas ingleses.
O
processo de racionalização, característico da Modernidade, que começara com os
renascentistas e com os cientistas, e passara por Descartes e pelos empiristas,
podia agora, ser compreendido por Kant como um processo que representava o
curso natural da evolução da sociedade. "Finalmente o ser o humano estava
apto para raciocinar sobre a própria razão". (UMESP 2009 p.11)
Leonardo
da Vinci via nas formas perfeitas da matemática uma maneira de ilustrar a
perfeição do corpo humano (o homem vitruviano) e assim tomou o curso da teoria
da perfectibilidade. Kant, por sua vez, via na possibilidade do homem chegar à
perfeição um processo natural de desenvolvimento rumo ao esclarecimento
(Aufklãrung), um processo evolução pela qual o homem atinge sua maioridade,
processo que depende não de condições externas, mas, na vontade do homem, só
não tem condições de alcançar essa independência os preguiçosos que escolhem
permanecer na minoridade sob a tutela intelectual de terceiros.
Embora
enfatizando e dando destaque alto à razão e a perfectibilidade humana, Kant e
outros filósofos modernos não fizeram nenhuma ruptura dramática dos valores
religiosos da idade média. Essa ruptura veio com os Iluministas franceses como
Voltaire e Diderot que produziram obras laicas e seculares e, por vezes
extremamente críticas da ação de igreja e sua influência opressiva na sociedade
e interferência no governo.
Características
da corrente filosófica iluminismo
Danilo
Marcondes em sua Introdução à História da Filosofia oferece a seguinte síntese
do Iluminismo, ou Século das Luzes um movimento do pensamento europeu (mais
forte na França) concentrado principalmente nos últimas cinco décadas do século
XVIII - "O Iluminismo valorizou o conhecimento como instrumento de
libertação e progresso da humanidade, levando o homem à sua autonomia e a
sociedade à democracia, ou seja, ao fim da opressão." (2007. p.210).
Tomando de base suas palavras, o iluminismo como movimento dentro da
modernidade, mantendo a ênfase na racionalidade, tem características próprias
tais como:
a) Liberdade
e o fim da opressão.
"a
liberdade é condição para que a sociedade siga seu curso natural rumo ao
Esclarecimento" (UMESP, 2009 p.11). A liberdade no pensamento iluminista é
a liberdade da qual Kant escreveu em sua resposta a pergunta O que é o Esclarecimento?
Esse
esclarecimento não exige todavia nada mais que a liberdade; e mesmo a mais
inofensiva de todas as liberdades, isto é, a de fazer um uso público de sua
razão em todos os domínios [...] "Em toda parte só se vê limitação da
liberdade [...] o uso público da nossa razão deve a todo momento ser livre, e
somente ele pode difundir o Esclarecimento entre os homens". (KANT, 2009, p.
3).
O
pensamento iluminista influenciou os grupos responsáveis por movimentos de
libertação no século XVIII, seu efeito foi sentido de maneira muito particular
na França e foi um dos fatores catalisadores da Revolução Francesa. A
burguesia, educado e gerador de riqueza se via presa sobre o jugo da
aristocracia, da monarquia absolutista e da igreja dominantes desde a Idade
Média, obrigada a pagar impostos para manter o luxo de poucos ansiava por uma
sociedade livre. Achou aliados prontos lutar entre as massas paupérrimas de
Paris se levantou em revolta contra a opressão pelo direito de ter liberdade de
escolha sobre o curso da própria vida e uma voz no governo do país que ajudou a
enriquecer. Voltaire que criticou o absolutismo da monarquia, o poder da igreja
e sua interferência no sistema político e influenciou muito o movimento da
revolução acreditava que sem liberdade de pensamentos não existe liberdade.
b)
Vulgarização da Filosofia e a literatura clandestina.
Autores
do Iluminismo francês como Voltaire e Diderot, entenderam a vulgarização
(popularização) da filosofia e do conhecimento essenciais para o
desenvolvimento do homem e, portanto, da sociedade. O conhecimento e
principalmente o pensamento iluminista permeavam a sociedade na forma de
contos, poesias e ensaios. Os membros da burguesia (novo classe media) francesa
que tinha acesso à educação se interessavam em se esclarecer e questionavam a o
poder da aristocracia foram os principais leitores desse material.
As
publicações, muitas escritas na clandestinidade sob pseudônimos, que espalhavam
críticas à igreja, à aristocracia e incentivava o questionamento do absolutismo,
foram consideradas subversivas, condenadas e, os autores caçados. Voltaire
pertencia a uma família nobre fato que lhe dava acesso à aristocracia que
criticava, mas, diferentemente a muitos de sua época ele acreditava que o
esclarecimento levaria a própria aristocracia a desejar uma sociedade mais
justa. Escritor popular, Voltaire escreveu um grande número de contos e usava
bem esse recurso literário na divulgação de seu pensamento filosófico, o uso de
tom irônico e polêmico atraiu os leitores e irritou as autoridades, a fim de
evitar prisão (em comum com os filósofos clandestinos da época) publicou vários
de suas obras anonimamente ou sob outros pseudônimos.
c) O
Projeto dos Enciclopedistas
Como
parte do processo de esclarecimento, os iluministas buscaram disponibilizar a
população o conhecimento por tanto tempo controlado exclusivamente pelos
doutores. Com o alvo de reunir todo o conhecimento disponível e apresentar à
sociedade uma versão perfeito e final, Diderot e d'Alembert publicaram as obras
dos melhores autores na "Enciclopédia ou Dicionário lógico das ciências,
artes e ofícios", nesse projeto ambicioso "Todo esforço fora
realizado sem se perder de vista o objetivo de vulgarização do
conhecimento" (UMESP p.15).
A
compreensão de ser humano e de sociedade no Iluminismo.
A
disponibilização do conhecimento é indicativa do fato de que, no Iluminismo, o
progresso (do ser humano e da sociedade) é determinado pela razão através da
qual o homem caminha rumo ao conhecimento e os descobertos científicos alcançados
tanto pela aplicação da razão como pela experiência empírica. Esses fatos são
resultados de, e exercem influencia sobre os conceitos do ser humano e da
sociedade mantidos pelos filósofos modernos do Iluminismo.
Nas obras
dos iluministas há um retorno aos conceitos da antiguidade e o renovo e
repensar desses. Filósofos como Rousseau por exemplo, reformularam os conceitos
platônicos e aristotélicos da pólis grega, da participação de todos os cidadãos
na política para criar a base da nova sociedade. Em sua obra principal, Do
Contrato Social, Rousseau "Afirma [...] que a sociedade funciona como um
pacto social, onde os indivíduos, organizados em sociedade, concedem alguns
direitos ao Estado em troca de proteção e organização." Tomando como base
a afirmação do filosofo alguns das características principais da compreensão do
ser humano e da sociedade nessa época são:
a) No
homem a perfeição, a autonomia racional e a liberdade natural. .
De acordo
com Danilo Marcondes uma das características fundamentais da filosofia do
Iluminismo em relação ao homem é "o individualismo que se baseia na
existência do indivíduo livre e autônomo, consistente e capaz de se
autodeterminar" (2007, p.208). O homem que de acordo com Rousseau nasce
bom é visto no como livre, autônomo, dono de si e capaz de se traçar seu
próprio destino.
No
primeiro capítulo Do Contrato Social, Rousseau declara "O homem nasce bom,
a sociedade corrompe". A ideia da perfeição natural do homem apresenta um
contraste ao conceito da perfectibilidade do homem de outros filósofos modernos
que viam a humanidade num caminhar rumo (um progresso racional) à perfeição e
um contraste maior aos iluministas franceses que na maioria afirmaram que o
homem, embora, nasceu imperfeito, alcançou a perfeição com o advento das
ciências e a abertura do conhecimento.
Em
seguida Rousseau declara que "o homem nasce livre e por toda parte se
encontra acorrentada". A liberdade natural do homem no pensamento do
Rousseau, embora negada historicamente pela ação opressiva da igreja ou do
estado, não pode ser retirada, as condições na qual o homem vive podem o
acorrentar, mas não muda o fato que nasceu livre!
Nesse
tema Marcondes escreve "O grande instrumento do Iluminismo é a consciência
individual, autônoma em sua capacidade de conhecer o real" ele percebe em
todo o processo do iluminismo a atribuição ao "conhecimento a capacidade
de, precisamente, libertar o homem dos grilhões que lhe são impostos
pela ignorância e pela superstição, tornando-as facilmente domináveis"
afirmando que "O pressuposto básico do Iluminismo afirma, portanto, que
todos os homens são dotados de uma espécie de luz natural, de uma racionalidade,
uma capacidade natural de aprender, capaz de permitir que conheçam o real e
ajam livre e adequadamente para a realização de seus fins." (2007 p.207)
Kant no
prefácio à 1ª Edição da Critica da razão pura [23] dá sua resposta a pergunta:
O que impede o homem de obter o conhecimento que necessita?
Nossa
época é propriamente a época da crítica, à qual tudo tem de submeter-se. A
religião por sua santidade, e a legislação, por sua majestade, querem comumente
esquivar-se dela. "Mas desse modo suscitam justa suspeita contra si e não
podem ter pretensões àquele respeito sem disfarce que a razão outorga àquilo
que foi capaz de sustentar seu exame livre e público". (Kant CRP - Apud.
Marcondes 2007 p.207-208).
É
justamente o "exame livre e público" do conhecimento disponível
proposta pelos iluministas francesas que é garantem a liberdade e autonomia do
homem rumo à perfeição e, portanto, a construção de uma sociedade baseada na
liberdade e na igualdade.
a) Na
sociedade, a moral, a igualdade, a liberdade e a autonomia individual.
Para Kant
a sociedade composta de homens esclarecidos abre a possibilidade da criação de
uma sociedade moral baseada no livre e irrestrito uso da razão na esfera
publica "o uso público da nossa razão deve a todo momento ser livre, e
somente ele pode difundir o Esclarecimento entre os homens" (Kant, 2002
p3). Para Kant, não pagar impostos para não concordar com os mesmos, ou agir de
qualquer forma contra a ordem da sociedade pode ser considerada crime e, até
sujeitar o homem a uma punição, mas, não lhe tire o direito de uma opinião
particular (o uso da razão privada), mas isso deve ser restrita a manifestações
eruditas em momento oportuno e não ser motivo de escândalo público. Da mesma
forma um soldado pode não concordar com as razões que provocaram a batalha na
qual esteja lutando, mas, no momento da batalha ele deve suspender
temporariamente sua razão pessoal e obedecer a seu comandante em nome da razão
pública (coletiva).
Enquanto
Kant respondia que a humanidade vivia num a época de esclarecimento.
Quando se
pergunta, portanto; vivemos atualmente numa época esclarecida? A resposta é:
não, mas numa época de esclarecimento. Muito falta ainda para que os homens, no
estado atual das coisas, tomados conjuntamente, estejam já num ponto em que
possam estar em condições de se servir, em matéria de religião, com segurança e
êxito, de seu próprio entendimento sem a tutela de outrem. "Mas que desde
já, o campo lhes esteja aberto para mover-se livremente, e que os obstáculos à
generalização do Esclarecimento e à saída da minoridade que lhes é
auto-imputável sejam cada vez menos numerosos, é o que temos signos evidentes
para crer" (Kant, 2002 p.7).
Rousseau
e os iluministas franceses eram da opinião que a humanidade já possuía todo o
conhecimento necessário para a constituição de uma sociedade perfeita. Junto
com a noção da perfectibilidade do homem chegava à certeza do sucesso do desenvolvimento
social e científico da sociedade. Embora partindo de pontos diferentes os
iluministas franceses e Rousseau, visavam o mesmo resultado o homem livre
vivendo numa sociedade livre da opressão.
Enquanto
a maioria dos pensadores iluministas afirmou o homem esclarecido através da
filosofia, da ciência, e da educação que foram dadas a tarefa de remover os
obstáculos (fato confirmado nas obras de Voltaire e Diderot), pronto para
transformar a sociedade, Kant falava de um processo de esclarecimento e
Rousseau afirmava que a criança nasce boa, mas é corrompida pela sociedade,
para ele a resposta para o aperfeiçoamento da sociedade, proposta no livro
Emílio, é coisa do futuro é também um processo. A resposta é o isolamento das
crianças para educação e a reinserção delas na sociedade na fase adulto,
somente elas terão alcançado a perfeição necessária para mudar a sociedade.
Embora
represente um retorno do pensamento racional à supremacia, e, em particular um
novo olhar ao pensamento platônico, a filosofia moderna em declarar que o
conhecimento é acessível e alcançável a todos e não faz separação entre o mundo
sensível das coisas e o mundo intangível das ideias. Na antiguidade Platão e
Aristóteles visaram à formação de uma sociedade perfeita e feliz através da
ação conjunta em prol do bem comum (ação política) na polis. Os habitantes da
pólis foram considerados homens esclarecidos, esse esclarecimento foi reservado
apenas os cidadãos gregos, não foram incluídos as mulheres, as classes
trabalhadoras e muito menos os escravos. A filosofia moderna e o iluminismo não
restringiam o conhecimento a uma elite social, religiosa ou intelectual, o
colocaram ao alcance de todos que desejavam sair da minoridade, da dependência
do tutelar de outros. A sociedade moderna (perfeita) seria o resultado do
esclarecimento de todos.
Assim as características gerais da filosofia
moderna tem um caráter, mais saliente da filosofia moderna é a independência
excessiva de qualquer autoridade, o menosprezo completo da tradição científica.
Inaugurada por Descartes, pouco depois que a reforma protestante proclamara o
livre exame e a autonomia absoluta em matéria religiosa, num tempo em que os
ataques da Renascença haviam desprestigiado as teorias tradicionais, a
filosofia moderna rompeu definitivamente com o passado. Os seus representantes
julgaram-se no dever de construir desde os alicerces sistemas inteiramente
novos. A instauratio magna ab imis
jundamentis de Bacon tem sido a aspiração de quase todos os filósofos
posteriores.
Quanto ao conteúdo doutrinal, são as questões
metodológicas e psicológicas as que mais preocupam os pensadores. Depois de
Kant a criteriologia assume excepcional importância. O aspecto filosófico dos
problemas sociais é também objeto de largos estudos.
Distingue-se ainda a filosofia moderna da
escolástica: a) pela sua separação completa (não mais simples distinção) da
teologia, à qual muitas vezes é abertamente hostil: b) pelo uso das línguas
vulgares, que, aos poucos, substituem a latina, usada ainda pelos primeiros reformadores;
c) pela multiplicação extraordinária dos centros de cultura, com a quebra da
unidade doutrinai. A França, a Inglaterra e a Alemanha são os focos principais
donde irradia o pensamento moderno.
DIVISÃO DA FILOSOFIA
MODERNA— Pela
extrema variedade de sistemas e larga difusão das idéias não é possível dar da
época moderna uma divisão tão rigorosa e objetiva como das anteriores. Na
divergência dos autores, inspirados muitas vezes em critérios diferentes,
preferimos seguir os que distinguem, nesta época, dois grandes períodos: Até
Kant e Kant. A problemática kantiana e seu legado inauguram a Filosofia
Contempoânea (L. Franca).
Na modernidade passou-se a delinear melhor os limites do estudo filosófico. Inicialmente, como atestam os subtítulos de obras tais como as Meditações de René Descartes e o Tratado de George Berkeley, ainda se fazia referência a questões tais como a da prova da existência de Deus e da existência e imortalidade da alma. Do mesmo modo, os filósofos do início da modernidade ainda pareciam conceber suas teorias filosóficas ou como fornecendo algum tipo de fundamento para uma determinada concepção científica (caso de Descartes), ou bem como um trabalho de "faxina” necessário para preparar o terreno para a ciência tomar seu rumo (caso de John Locke), ou ainda como competindo com determinada conclusão ou método científico (caso de Berkeley, em The Analyst, no qual ele criticou o cálculo newtoniano-leibniziano – mais especificamente, à noção de infinitesimal – e de David Hume com o tratamento matemático do espaço e do tempo). Gradualmente, contudo, a filosofia moderna foi deixando de se voltar ao objetivo de aumentar o conhecimento material, i.e., de buscar a descoberta de novas verdades – isso é assunto para a ciência – bem como de justificar as crenças religiosas racionalmente. Em obras posteriores, especialmente a de Immanuel Kant, a filosofia claramente passa a ser encarada antes como uma atividade de clarificação das próprias condições do conhecimento humano: começava assim a chamada "virada epistemologica"
Na modernidade passou-se a delinear melhor os limites do estudo filosófico. Inicialmente, como atestam os subtítulos de obras tais como as Meditações de René Descartes e o Tratado de George Berkeley, ainda se fazia referência a questões tais como a da prova da existência de Deus e da existência e imortalidade da alma. Do mesmo modo, os filósofos do início da modernidade ainda pareciam conceber suas teorias filosóficas ou como fornecendo algum tipo de fundamento para uma determinada concepção científica (caso de Descartes), ou bem como um trabalho de "faxina” necessário para preparar o terreno para a ciência tomar seu rumo (caso de John Locke), ou ainda como competindo com determinada conclusão ou método científico (caso de Berkeley, em The Analyst, no qual ele criticou o cálculo newtoniano-leibniziano – mais especificamente, à noção de infinitesimal – e de David Hume com o tratamento matemático do espaço e do tempo). Gradualmente, contudo, a filosofia moderna foi deixando de se voltar ao objetivo de aumentar o conhecimento material, i.e., de buscar a descoberta de novas verdades – isso é assunto para a ciência – bem como de justificar as crenças religiosas racionalmente. Em obras posteriores, especialmente a de Immanuel Kant, a filosofia claramente passa a ser encarada antes como uma atividade de clarificação das próprias condições do conhecimento humano: começava assim a chamada "virada epistemologica"