sábado, 21 de maio de 2016

O POVO KARIPUNA E A LUTA PELO TERRITÓRIO

A Terra Indígena Karipuna está localizada nos municípios de Porto Velho e Nova Mamoré. Ali os Karipuna estão reunidos na aldeia denominada Panorama. A Terra Indígena possui como limites naturais os rios Jacy-Paraná e seu afluente pela margem esquerda, o rio Formoso (a leste); os igarapés Fortaleza (ao norte), do Juiz e Água Azul (a oeste) e uma linha seca ao sul, ligando este último igarapé às cabeceiras do Formoso.
O território historicamente ocupado por este povo, segundo fontes históricas e relatos orais compreendia o rio Mutum-Paraná e seus afluentes da margem esquerda (a oeste), igarapé Contra e rio São Francisco (ao norte) e os rios Capivari, Formoso e Jacy-Paraná (ao sul e leste). Este território em parte convergia com a área de ocupação dos Uru-Eu-Wau-Wau e Amondawa (ao sul), Pakaá-Nova (a oeste) e Karitiana (ao norte e leste).
De acordo com Meireles (1984), a ocupação karipuna na bacia do rio Jacy-Paraná remonta ao início do século XIX. Em fins deste século parece ter ocorrido uma cisão no grupo, um deles rumando para leste e estabelecendo-se nas cabeceiras do rio Capivari e outro se fixando na bacia do rio Mutum-Paraná, ao norte. Em 1997, a Terra Indígena Karipuna foi demarcada com um total de 152.930 e posteriormente homologada através do Decreto Federal de 09 de setembro de 1998.
É necessário entender as questões que envolvem identidade, território e políticas socioambientais, na Terra Indígena Karipuna, em Porto Velho/RO. Assim será possível analisar as políticas direcionadas ao desenvolvimento de projetos socioambientais no espaço dessa aldeia. Políticas previstas na Constituição Federal de 1988 que estabeleceu um capítulo específico para os povos indígenas, destacando a necessidade de proteção da identidade e a continuidade das práticas e dos saberes tradicionais no território indígena.
Nesta perspectiva será necessário compreender a relação imbricada entre esse povo e as comunidades localizadas ao entorno, assim como os conceitos destacados para análise. Segundo Little (2002), quando se fala de território, temos que perceber que este é produto da apropriação de um dado segmento social e que nele se estabelece relações políticas de controle ou relações afetivas identitárias e de pertencimento”, o que demarca a territorialidade de um determinado grupo social.
De acordo com Haesbaert (2004) quando se fala na estruturação da identidade é necessário fazer alusão ou referência a um território, no sentido simbólico ou real. Por isso, é importante fundamentar uma identidade sócia territorial. Ou seja, uma identidade social que também é uma identidade territorial atrelada ao simbólico ou ao concreto.
Precisa destacar que a conduta quanto à identidade étnica e territorial indígena diz respeito também à necessidade de entender o conceito de ambiente como local onde as práticas sociais são desenvolvidas, interagindo e conectando-se materialmente e socialmente, seja por meio das águas, do solo ou da atmosfera. O ambiente se liga com seus recursos naturais e a forma como os recursos naturais são manejados possibilita a proteção e conservação da biodiversidade, de modo a não esgotá-los.
Diegues (2001, p. 32) destaca que, além do espaço de relações sociais é importante ressaltar que o território e seus recursos são também o lugar das representações do imaginário mitológico dessas sociedades. Por isso é essencial analisar como os Kripunas mantêm relação cosmológica e simbólica com a natureza, além de perceber como eles vem se relacionando com novos elementos introduzidos por meio de políticas socioambientais atuais introduzidas nas aldeias.

Localização geográfica da Terra Indígena Karipuna

O acesso a Terra Indigena Karipuna se faz por via fluvial através do rio Jacy Paraná e terrestre, por estrada vicinal de precárias condições de trafegabilidade, a partir do Distrito de União Bandeirantes. Atualmente a população Karipuna é formada por 28 habitantes e esses sobreviventes remontam uma história desastrosa de mortes e invasões do seu território tradicional.
O contato com os não-indígenas iniciada no século XX, com o ciclo da borracha na Amazônia brasileira e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, são períodos históricos que ocasionaram em dezenas mortes advindas de doenças ou conflitos. Ainda assim, até a década de 1970 um grupo Karipuna conseguiu viver relativamente apartado do mundo dos brancos, mas acabou sucumbindo à frente de atração da Funai, que culminou em mais mortes por epidemias e perdas culturais.
Os Karipuna falam uma língua da família Tupi-Guarani e compreendem com facilidade a língua de grupos com os quais convivem, como os Uru-Eu-Wau-Wau, Amondawa, Tenharim, Parintintin (todos grupos Kawahibi) e Sateré (da família linguística Mawé), entre outros. É desconhecida a origem da denominação “Karipuna”. Os primeiros relatos sobre esses índios os designavam como “Bocas Pretas” devido à tatuagem permanente de jenipapo que ostentam ao redor da boca, tradição compartilhada com os Uru-Eu-Wau-Wau e outros grupos Tupi-Kawahibi.
A catástrofe demográfica pós-contato ocorrida entre os Karipuna não lhes facultou ou faculta qualquer chance de reprodução de suas estruturas organizativas tradicionais. Os Karipuna vivem da caça e da, a floresta também lhes oferecem a castanha a seringa, assim como outras frutas de palmeiras, como o buriti, o tapauá e a bacaba.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A PRÁTICA ESCOLAR

O relacionamento da humanidade com a natureza, tem atualmente culminado numa forte pressão exercida sobre os recursos naturais. São comuns, a existência de contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos, além de muitas outras formas de agressão ao meio ambiente.
Parece clara a necessidade de mudança em relação ao comportamento do homem com a natureza, no sentido de promover um modelo de desenvolvimento sustentável, processo que assegura uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo, atender as necessidades das gerações atuais (ANDRADE, 2001), a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos positivos junto à qualidade de vida de todos.
O papel da Educação Ambiental para o caminho da sustentabilidade deve ser alimentada com todas as formas de pensamento, em busca de um bem comum. Preparar o indivíduo para que ele perceba que as relações sociais e econômicas, socialmente construídas pela humanidade, devem ser justas e considerar a Terra a partir da finitude dos seus recursos naturais existentes. Nesse sentido, a escola é um agente social na promoção de novos valores éticos, de transformação de utopias em ações alternativas concretas e viáveis.
A Educação Ambiental deve ser tratada como uma componente essencial no processo de formação e de educação permanente da sociedade, possuindo uma abordagem direcionada para a resolução de problemas e contribuindo para o envolvimento ativo das pessoas. Desta maneira, deve ser considerada como o sistema educativo relevante e mais realista para se estabelecer uma maior interdependência entre estes sistemas, o ambiente natural e o social, tendo como objetivo o desenvolvimento de um crescente bem estar das comunidades humanas (ROSA, 2001).
As finalidades desta educação para a humanidade foram determinadas pela UNESCO após a Conferência de Belgrado realizada em 1975: {...} Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas com ele relacionados, uma população que tenha conhecimento, competências, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhe permitam trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais, e para impedir que eles se repitam (UNESCO, 1999).
Vigotski apud Bock (2002) relatam que as mudanças ocorridas em cada um de nós têm sua raiz na sociedade e na cultura, sendo a escola o espaço social e o local onde o aluno dará seqüência ao seu processo de aprendizagem e de socialização. O que nela se faz representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática durante o cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis.
Considerando a importância da temática ambiental para desenvolvimento do senso crítico e da construção de um saber ambiental, a escola deverá oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, as ações humanas e as suas conseqüências para consigo, para sua própria espécie, para os outros seres vivos e para o meio ambiente. É fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade socialmente justa, em um ambiente saudável.