A Terra Indígena Karipuna está localizada nos municípios de
Porto Velho e Nova Mamoré. Ali os Karipuna estão reunidos na aldeia denominada Panorama.
A Terra Indígena possui como limites naturais os rios Jacy-Paraná e seu
afluente pela margem esquerda, o rio Formoso (a leste); os igarapés Fortaleza
(ao norte), do Juiz e Água Azul (a oeste) e uma linha seca ao sul, ligando este
último igarapé às cabeceiras do Formoso.
O território historicamente ocupado por este povo, segundo
fontes históricas e relatos orais compreendia o rio Mutum-Paraná e seus
afluentes da margem esquerda (a oeste), igarapé Contra e rio São Francisco (ao
norte) e os rios Capivari, Formoso e Jacy-Paraná (ao sul e leste). Este
território em parte convergia com a área de ocupação dos Uru-Eu-Wau-Wau e
Amondawa (ao sul), Pakaá-Nova (a oeste) e Karitiana (ao norte e leste).
De acordo com Meireles (1984), a ocupação karipuna na bacia
do rio Jacy-Paraná remonta ao início do século XIX. Em fins deste século parece
ter ocorrido uma cisão no grupo, um deles rumando para leste e estabelecendo-se
nas cabeceiras do rio Capivari e outro se fixando na bacia do rio Mutum-Paraná,
ao norte. Em 1997, a Terra Indígena Karipuna foi demarcada com um total de
152.930 e posteriormente homologada através do Decreto Federal de 09 de
setembro de 1998.
É necessário entender as questões que envolvem identidade, território e políticas socioambientais, na
Terra Indígena Karipuna, em Porto Velho/RO. Assim será possível analisar as políticas direcionadas ao desenvolvimento de projetos socioambientais no espaço dessa
aldeia. Políticas previstas na Constituição Federal de 1988 que estabeleceu um
capítulo específico para os povos indígenas, destacando a necessidade de
proteção da identidade e a continuidade das práticas e dos saberes tradicionais
no território indígena.
Nesta perspectiva será
necessário compreender a relação imbricada entre esse povo e as comunidades
localizadas ao entorno, assim como os conceitos destacados para análise.
Segundo Little (2002), quando se fala de território, temos que perceber que este
é produto da apropriação de um dado segmento social e que nele se estabelece
relações políticas de controle ou relações afetivas identitárias e de
pertencimento”, o que demarca a territorialidade de um determinado grupo
social.
De acordo com Haesbaert
(2004) quando se fala na estruturação da identidade é necessário fazer alusão
ou referência a um território, no sentido simbólico ou real. Por isso, é
importante fundamentar uma identidade sócia territorial. Ou seja, uma
identidade social que também é uma identidade territorial atrelada ao simbólico
ou ao concreto.
Precisa destacar que a conduta quanto à identidade
étnica e territorial indígena diz respeito também à necessidade de entender o
conceito de ambiente como local onde as práticas sociais são desenvolvidas,
interagindo e conectando-se materialmente e socialmente, seja por meio das
águas, do solo ou da atmosfera. O ambiente se liga com seus recursos naturais e
a forma como os recursos naturais são manejados possibilita a proteção e
conservação da biodiversidade, de modo a não esgotá-los.
Diegues (2001, p. 32) destaca que, além do espaço de relações
sociais é importante ressaltar que o território e seus recursos são também o lugar
das representações do imaginário mitológico dessas sociedades. Por isso é
essencial analisar como os Kripunas mantêm relação cosmológica e simbólica com
a natureza, além de perceber como eles vem se relacionando com novos elementos
introduzidos por meio de políticas socioambientais atuais introduzidas nas
aldeias.
Localização geográfica da Terra Indígena Karipuna
O acesso a Terra Indigena
Karipuna se faz por via fluvial através do rio Jacy Paraná e terrestre, por
estrada vicinal de precárias condições de trafegabilidade, a partir do Distrito
de União Bandeirantes. Atualmente a população Karipuna é formada por 28
habitantes e esses sobreviventes remontam uma história desastrosa de mortes e
invasões do seu território tradicional.
O contato com os
não-indígenas iniciada no século XX, com o ciclo da borracha na Amazônia
brasileira e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, são períodos históricos que
ocasionaram em dezenas mortes advindas de doenças ou conflitos. Ainda assim,
até a década de 1970 um grupo Karipuna conseguiu viver relativamente apartado
do mundo dos brancos, mas acabou sucumbindo à frente de atração da Funai, que
culminou em mais mortes por epidemias e perdas culturais.
Os Karipuna falam uma
língua da família Tupi-Guarani e compreendem com facilidade a língua de grupos
com os quais convivem, como os Uru-Eu-Wau-Wau, Amondawa, Tenharim, Parintintin
(todos grupos Kawahibi) e Sateré (da família linguística Mawé), entre outros. É
desconhecida a origem da denominação “Karipuna”. Os primeiros relatos sobre
esses índios os designavam como “Bocas Pretas” devido à tatuagem permanente de
jenipapo que ostentam ao redor da boca, tradição compartilhada com os
Uru-Eu-Wau-Wau e outros grupos Tupi-Kawahibi.
A catástrofe demográfica
pós-contato ocorrida entre os Karipuna não lhes facultou ou faculta qualquer
chance de reprodução de suas estruturas organizativas tradicionais. Os Karipuna
vivem da caça e da, a floresta também lhes oferecem a castanha a seringa, assim
como outras frutas de palmeiras, como o buriti, o tapauá e a bacaba.