terça-feira, 12 de abril de 2022

ESCOLAS RIBEIRINHAS NA AMAZÔNIA E SEU CURICULO

Quando se analisa a cultura e as identidades percebe-se que estas não são estáveis, que o currículo mesmo tendo uma dimensão prescritiva, em certas condições fixa, pode ser redefinido à medida que é negociado de acordo com as expectativas individuais dos sujeitos que o produzem. Os currículos oficiais são homogêneos, são sistematizados como normativo, sendo comuns a todas as instituições de ensino. Têm pretensão de serem globais, porém, nos jogos de poder desenvolvidos nos saberes locais, constantemente é traduzido, por isso o currículo a cada instante é recriado entre professores e alunos.

Entender as implicações da organização do currículo das escolas ribeirinhas permitiu analisar as identidades culturais ali existentes, uma vez que elas manifestam-se no contato entre indivíduos, nas relações entre alunos e professores, entre as pessoas que integram historicamente esse grupo. Por isso essa pesquisa possibilita confirmar as seguintes hipóteses nessa relação entre currículo e produção de identidade: o currículo das escolas ribeirinhas na Amazônia em classes multisseriadas do ensino fundamental desenvolve-se por práticas curriculares que permitem aos professores e alunos refletirem sobre as questões sociais locais e educacionais, vinculadas à cultura local. Do mesmo modo, mesmo que o currículo do contexto urbano ainda seja o referente, ele somente se torna significativo na medida em que professores e alunos percebem a existência de uma relação com os condicionantes históricos e sociais do cenário ribeirinho, na produção do conhecimento local que se constrói no processo de ensino e aprendizagem.

Nesse contexto os educandos possuidores de saberes e culturas conseguem mostrar suas expectativas, necessidades, sentimentos e reorganização da sua vida, com anseios de presente e de futuro promissor. Eles têm oportunidade de produzirem práticas que conduz a possibilidade de pensar sobre as suas identidades culturais ribeirinhas.

Na dinâmica cultural do contexto amazônico os sujeitos ribeirinhos, professores e alunos, reconhecem seus avanços e dificuldades. Não vivem exclusivamente em condições de assujeitamento às normas, encarregam-se de viver o papel de indivíduos que lutam cotidianamente, analisam suas histórias, discutem seus problemas, encontram soluções de acordo com suas possibilidades de sobrevivência às questões econômicas, sociais, religiosas, políticas e culturais.

Os ribeirinhos vivem permeados pelos saberes culturais da região amazônica, sendo condição que acaba desestabilizando o currículo oficial. Criam tempo e espaços nas escolas, nas passarelas, no porto, nas viagens de catraias, geram diversas práticas que conduz às incertezas e instabilidades. Nada acontece do mesmo jeito que permita permanentemente o fixo, o estático. Investem na produção de estratégias que permite lutar contra as formas de exclusão social, gerada pela falta de políticas públicas educacionais condizentes a dignidade humana.


Fonte: SILVA, Maria Aparecida Nascimento da. Currículo da escola ribeirinha na Amazônia e a produção da identidade cultural dos docentes e alunos das classes multisseriadas do ensino fundamental. Disponível em: https://1library.org/document/q5o9lewz-curriculo-ribeirinha-amazonia-producao-identidade-docentes-multisseriadas-fundamental.html. Acesso em 03/04/2022.