terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Comunidade de Nazaré - Amazônia - Brasil

O Distrito de Nazaré, apresenta um ecossistema de várzea e terra firme, formado por 17 comunidades, além da sua sede. Neste ecossistema, as terras representam para a população que nela vive, uma relação de propriedade provisória, dependendo de sua utilização para o trabalho (CHAVES, 1990). 

São terras baixas da Amazônia Legal, inundadas periodicamente, ocupadas em grande parte por caboclos ribeirinhos (FABRÉ, et al, 2007), populações tradicionais que têm suas vidas inseridas num modo peculiar de viver, trabalhar e construir saberes.

 

Determina a economia local, as atividades de pesca, agricultura, extrativismo e criação de animais de pequeno porte. Este modo de vida é marcado por uma cultura diferenciada, caracterizada principalmente pelo contato com as águas, terras e floresta (FERREIRA, 2008). São esses homens e mulheres que decidem o que manter, criar e desenvolver em cada ecossistema, por meio de um conjunto de recursos, técnicas e estratégias apropriadas ao longo do tempo (AMÂNCIO, 2000), eles são camponeses amazônicos possuidores de um vasto conhecimento sobre o clima e conservação da biodiversidade e da ecologia dos ambientes onde vivem e trabalham (BARREIRA, 2007).

Distritos de Porto Velho - Rondônia


As comunidades que fazem parte do Distrito de Nazaré além da sua Sede, são: Curicacas, Vista Alegre, Boa Hora, Tira Fogo, Pombal, Santa Catarina, Laranjal, Conceição do Galera, Mururé, Papagaios, Espirito Santo, São José da Paria, Prainhas, Boa Vitória, Bom Será e Ilhas dos Periquitos.

Peculiaridades climáticas das áreas ribeirinhas da Amazônia

Pensar o espaço de uma comunidade ribeirinha na Amazônia significa superar algumas visões estereotipadas acerca dos significados do que é viver essa múltipla identidade, marcada por diversos aspectos, que vão desde a relação imbricada com a natureza à construção diária da vida nas práticas do cotidiano. As marcas do espaço geográfico e suas influências como as descritas no contexto do cotidiano das cheias, vazantes dos rios são uma das principais marcas do viver das comunidades ribeirinha que transborda de sentidos culturais e sociais materializados pelo cotidiano ligado a natureza, principalmente com o rio Diante dos novos paradigmas enfrentados, em função das mudanças climáticas globais, novos e diferenciados arranjos espaciais na superfície do planeta e na vida dos homens provavelmente se constituirão (MENDONÇA, 2003). O que se evidencia certamente, será uma nova massa de exclusão social, proporcionada pelos eventos hidrológicos, potencializados pelas variações do clima, que força as populações a buscar novas adaptabilidades, seja na área ribeirinha constituída por uma nova paisagem ou na periferia dos centros urbanos. Na grande Região Amazônica é perceptível a mudança do clima. Os eventos extremos, de forte seca ou muita chuva que provocam grandes enchentes, estão cada vez mais agressivos e as populações locais têm sido forçadas a encontrar novos meios de sobreviver com um clima cada vez menos previsível. No Estado de Rondônia, os ribeirinhos das margens do Rio Madeira tem sido alguns dos mais impactados, principalmente nos últimos anos. Para as pessoas que vivem na região do baixo Rio Madeira, o vai e vem das águas ao redesenhar as paisagens, dita o ritmo do cotidiano e exige diferentes mecanismos de adaptação ao longo do ano. O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca é entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e outubro são meses de transição entre um regime e outro. O pico alto das cheias dos rios se dá entre os meses de janeiro, fevereiro e março, período no qual os ribeirinhos, moradores nas terras de várzeas ficam sem qualquer possibilidade de plantar, colher ou obter qualquer fonte de renda, caracterizando um cenário de novos desafios em virtude da necessidade do deslocamento para outras regiões rurais ou urbanas, tendo pois que se adaptar a novas realidades sociocultural, ambiental e econômica, uma vez que a sua sobrevivência está alicerçada na pesca, na caça, no extrativismo e na agricultura. Diante desse contexto, vários questionamentos podem ser feitos, dentre os quais o seguinte: há previsibilidade por parte dos povos ribeirinhos quanto ao planejamento de estratégias para a superação de eventos climáticos extremos como cheias e vazantes? Nesse sentido, é essencial, entre outros problemas, estudar capacidade de adaptabilidade dos povos ribeirinhos da amazônia, frente aos eventos climáticos extremos para que medidas preventivas, adaptativas e mitigatórias sejam planejadas, uma vez que a cada ano esses eventos de agravam.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

O clima nas áreas ribeirinhas da Amazônia brasileira

Na Região Amazônica brasileira é perceptível a mudança do clima. Os eventos extremos, de forte seca, muita chuva e grandes cheias dos rios estão cada vez mais agressivos provocando relevantes impactos econômicos e as populações locais têm sido forçadas a encontrar novos meios de sobreviver com um clima cada vez menos previsível. No Estado de Rondônia, os ribeirinhos das margens do Rio Madeira, no município de Porto Velho têm sido alguns dos mais impactados, principalmente nos últimos anos.

Para as pessoas que vivem nessa região, o vai e vem das águas ao redesenhar as paisagens, ao ditar o ritmo da vida e da economia local, exige cada vez mais diferentes mecanismos de adaptação ao longo do ano. O período de chuvas ou forte atividade convectiva na Amazônia é compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca é entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e outubro são meses de transição entre um regime e outro (FIGUEROA, S. N. & NOBRE, C. A, 1990).

O pico mais alto das cheias dos rios se dá entre os meses de janeiro, fevereiro e março, período no qual os ribeirinhos, moradores nas terras de várzeas ficam sem qualquer possibilidade de plantar, colher ou obter fonte de renda, caracterizando um cenário de novos desafios em virtude da necessidade do deslocamento para outras regiões rurais ou urbanas, tendo que se adaptar a outras realidades sociocultural, ambiental e principalmente econômica, uma vez que a sua sobrevivência está alicerçada na pesca, na caça, no extrativismo e na agricultura.

Diante desse contexto, vários questionamentos podem ser feitos suscitando hipóteses, como as que admitem que os ribeirinhos detêm um vasto conhecimento e percepções sobre as mudanças do clima na região que redefine o espaço e impactam diretamente em seu modo de vida. Há também pesquisadores que afirmam a capacidade histórica que tem essa população no que se refere a adaptação ao meio em que vivem, de forma simples, porém eficaz.

Alguns estudos têm destacado que os indivíduos percebem e adaptam-se a eventos de variabilidade e mudanças climáticas tendo como base em observações pessoais e fatores culturais. Tais trabalhos reforçam a hipótese de que experiências advindas da percepção do clima local podem influenciar não só as crenças acerca do aquecimento global, mas também nas respostas e atitudes dos indivíduos, frente às alterações do clima e os impactos dela decorrentes (WEBER, 2006).

O conceito de ribeirinho aparece pela primeira vez a partir de debates e reflexões de Furtado e Maneschy (2002), docentes do programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará, ao publicarem um artigo em coautoria inédito e intitulado Gens de mer et contraintes sociales: les pêcheurs côtiers de l´etat du Párá, nord du Brésil, em (2002), no qual as autoras aplicaram o conceito em suas realidades de análise, propondo o termo ribeirinho como expressão de um modo de viver dos grupos sociais localizados à margem de mananciais aquáticos, de onde emanam os elementos materiais, imateriais e simbólicos que configuram o modo de vida desses grupos

Para Chaves (2001) os ribeirinhos são uma referência de população tradicional na Amazônia, a iniciar pela forma de comunicação, no uso das representações dos lugares e tempos de suas vidas na relação com a natureza. Desde a relação com a água, seus sistemas classificatórios da fauna e flora formam um extenso patrimônio cultural. Para a autora, os agentes sociais identificados como ribeirinhos. [...] vivem em agrupamentos comunitários com várias famílias, localizados, como o próprio termo sugere, ao longo dos rios e seus tributários.

Da mesma forma, se refere a autora ao termo “ribeirinho” como uma denominação geralmente usada para caracterizar os pequenos produtores que têm nas terras de várzea o seu espaço social organizado. Diferencia-se do pequeno produtor da terra firme, não só por ocupar um espaço físico diferente, mas também por sua relação com a terra e com a água (CHAVES, 1990).

A partir do Decreto nº 6.040, de 7/02/2007, as comunidades tradicionais foram entendidas como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando ainda conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição e não apenas meros transmissores dos modos de vida na beira do rio (OLIVEIRA, 2009).

Concernente aos conhecimentos adquiridos por estes povos ao longo dos anos, Boff (2004) exclama: “o conhecimento tradicional é uma sabedoria feita da observação e da ausculta da Terra”. Esses ainda são determinantes para a manutenção do equilíbrio existente entre estas populações e a natureza, já que sua sobrevivência depende da manutenção dos recursos naturais. Nesse sentido, considera-se que o modus vivendi e a organização política das comunidades tradicionais ribeirinhas são marcadas e orientadas por uma identidade pautada nos valores socioculturais e na dinâmica sócio-histórica da região amazônica.

O ribeirinho tradicional tem na agricultura de pequena escala, no extrativismo, na pesca e na caça, suas atividades de subsistência familiar, reguladas pelos ciclos de sazonalidade (SCHERER, 2005; MURRIETA, 2008). Algumas comunidades ribeirinhas da Amazônia, ainda têm como característica certo grau de isolamento, e por consequência, possuem pouca influência política e organização social.

Para todos esses autores e pesquisadores acima citados, há em comum o fato de que as populações ribeirinhas da Amazônia apresentam um conjunto de características próprio, que se distingue das demais populações do meio rural ou urbano, e por isso merecem o aprofundamento de investigações sobre as mesmas, acreditando ser possível propor ações e mecanismos que possam orientá-los, quando necessário a minimizar as consequências das mudanças que se configuram no espaço onde vivem.

Comunidades ribeirinhas da Amazônia e as mudanças climáticas

 

A Região Ribeirinha do baixo Rio Madeira no Município de Porto Velho, Estado de Rondônia é formada por quatro Distritos: São Carlos, Nazaré, Calama e Demarcação. Abrange uma área de 7.833,85 km² constituída por uma variedade de ecossistemas e possui uma diversidade de povos com saberes, habilidades, costumes e valores próprios que torna a região um espaço inter/multicultural, com populações cujas diversidades cultural, social e étnica sustentam a sua riqueza sócio histórica. Sua população contabiliza cerca de 5.957 habitantes, distribuídos em 1.421 domicílios (IBGE, 2013).

Apresenta um conjunto de comunidades tradicionais que sobrevivem da agricultura e do extrativismo vegetal e animal. Atualmente, a sede dos distritos contam com geração e distribuição de energia, telefonia, televisão com recepção via antena parabólica e internet. Os Centros de Saúde apresentam condições regulares nos aspectos físicos e de atendimento, se comparado aos demais da região. Um grande desafio dos habitantes corresponde à falta de profissionais qualificados.

A água consumida é captada diretamente do rio através de bombas elétricas ou de poços semiartesianos. A má qualidade gera muitos problemas de saúde, especialmente na época em que o nível dos rios começa a subir, e do mesmo modo, quando começa a descer. O atendimento educacional é regular, presentando dificuldades relacionadas ao transporte escolar. As escolas possuem estruturas físicas satisfatórias e contam com professores habilitados, porém ainda não em número suficiente para atender todas as disciplinas do ensino fundamental e médio.

Organizados em associação, os ribeirinhos realizam diversas atividades e festas tradicionais em várias épocas do ano, atraindo centenas de pessoas para a região. Para Almeida (2008), a repetida inovação de modernidade e progresso, que parecia justificar que os agentes sociais atingidos pelos grandes projetos fossem menosprezados ou tratados etnocentricamente como primitivos e sob o rótulo de atrasados, tem sido abalado face à gravidade de conflitos prolongados e à eficácia dos movimentos sociais e das entidades ambientalistas em impor novos critérios de consciência econômica e ambiental.

Neste ecossistema, as terras representam para a população que nela vive, uma relação de propriedade provisória, dependendo de sua utilização para o trabalho (CHAVES, 1990). São terras baixas da Amazônia Legal, inundadas periodicamente, ocupadas em grande parte por caboclos ribeirinhos, populações tradicionais que têm suas vidas inseridas num modo peculiar de viver, trabalhar e construir saberes (FABRÉ, et al, 2007).

O modo de vida é marcado por uma cultura diferenciada, caracterizada principalmente pelo contato com as águas – cheias e vazantes, terras e floresta (FERREIRA, 2008). São seres humanos que decidem o que manter, criar e desenvolver em cada ecossistema, por meio de um conjunto de recursos, técnicas e estratégias adquiridas ao longo do tempo (AMÂNCIO, 2000). São possuidores de uma vasta experiência na utilização e conservação do espaço, da biodiversidade e da ecologia dos ambientes onde vivem e trabalham (BARREIRA, 2007).

A peculiaridade e riqueza dessas localidades, marcada principalmente pela subida e descida das águas, tem mostrado ao longo dos anos uma riqueza de conhecimentos diante das significativas manifestações da natureza, no que se refere a percepção das alterações na dinâmica do clima e da paisagem que a cada ano redefine a margem dos rios. Tais fatos, os obriga também a redefinir o uso e ocupação desses espaços.

Ao mesmo tempo que as populações ribeirinhas redefinem seus novos espaços de ocupação, de algum modo prejudicam também suas atividades sociais e econômicas, além de comprometer as estruturas e até modificações nas moradias. A proposta desse estudo é evidenciar a percepção dos ribeirinhos e discutir os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, diante de uma nova realidade que lhes é apresentada, não apenas em período de cheias e vazantes, mas também nas atividades do cotidiano.

Ribeirinhos da Amazônia

 Ribeirinho é uma denominação geralmente usada para caracterizar os pequenos produtores que têm nas terras de várzea o seu espaço social organizado. Diferencia-se do pequeno produtor da terra firme, não só por ocupar um espaço físico diferente, mas também por sua relação com a terra (CHAVES, 1990) e com a água.

A partir do Decreto nº 6.040, de 7/02/2007, as comunidades tradicionais foram entendidas como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando ainda conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição e não apenas meros transmissores dos modos de vida na beira do rio.

A disputa pela apropriação dos conhecimentos acumulados ao longo de várias gerações se dá inclusive em nível internacional: “No plano internacional, a biodiversidade tornou-se objeto de intensa disputa e extrapola o campo dos recursos biológicos, da agricultura e da alimentação, pois o campo de luta não é mais a apropriação do território em si, mas o acesso e o controle do conhecimento. O que está em jogo é a defesa do direito de continuar mantendo uma conexão vital entre a produção de alimentos e a terra. Impossível proteger a diversidade biológica sem proteger, concomitantemente, a sociodiversidade que a produz e conserva. [...]”. (CASTRO, 2000).

Para Costanza (1991), sustentabilidade é “a relação entre os sistemas econômicos humanos dinâmicos e os sistemas ecológicos mais abrangentes, dinâmicos, mas normalmente com mudanças vagarosas, na qual: a) a vida humana possa continuar indefinidamente; b) as individualidades humanas possam florescer; c) a cultura humana possa se desenvolver; d) os efeitos das atividades humanas permaneçam dentro de limites, a fim de que não destruam a diversidade, complexidade e funções do sistema ecológico de suporte da vida”.

Frente a esses paradigmas a educação nas comunidades ribeirinhas precisa ser profundamente repensada. O modelo de educação utilizado nas áreas urbanas apresenta problemas graves e, quando transportado para o mundo ribeirinho, a situação adquire contornos trágicos. Para Santomé (1998), o mundo rural e ribeirinho costuma ser silenciado nas intenções e ações pedagógicas. Então, há necessidade de rever velhos conceitos, persistentes paradigmas e antigas atuações pedagógicas e anunciar novas formas de atuação nestes espaços concretos e ricos de experiências, conhecimentos e possibilidades.

Nesse sentido, as conquistas da educação escolar nessas comunidades, inspirada nos princípios da Constituição Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) e na Lei nº 9394/96, voltada para a construção de uma nova filosofia de desenvolvimento local e regional poderá possibilitar um horizonte educacional de grande valia para inspirar os gestores a refletirem sobre novas possibilidades de pensar o currículo escolar além do rotineiro processo educacional vivido na maioria das realidades educacionais de nosso país.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Comunidades tradicionais na Amazônia

A região do baixo Rio Madeira na Amazônia caracteriza-se por apresentar um conjunto de comunidades tradicionais que sobrevivem da agricultura e do extrativismo vegetal e animal. Atualmente, contam com geração e distribuição pública de energia, linha telefônica, televisão com recepção via antena parabólica. Posto de saúde instalado na sede de cada distrito apresenta condições satisfatórias nos aspectos físicos, se comparado aos demais da região. Um grande desafio dos habitantes corresponde à falta de profissionais qualificados para atender suas necessidades básicas.


Distrito de Nazaré/Rondônia. Fonte: https://www.diariodaamazonia.com.br/festa-da-melancia-no-distrito-de-nazare-em-porto-velho/

A água consumida é captada diretamente do rio através de bombas elétricas ou de poços semiartesiano. A má qualidade gera muitos problemas de saúde, especialmente na época em que o nível do rio Madeira começa a subir, e do mesmo modo, quando começa a descer. O atendimento educacional é regular. As escolas possuem estrutura física satisfatórias e conta com professores especializados. Nas sedes dos distritos a população conta com o ensino fundamental e médio.

Organizados em associação, os produtores realizam festas tradicionais, festejos de Santos em várias épocas do ano que atrai centenas de pessoas. Para Almeida (2008), a repetida inovação de modernidade e progresso, que parecia justificar que os agentes sociais atingidos pelos grandes projetos fossem menosprezados ou tratados etnocentricamente como primitivos e sob o rótulo de atrasado, tem sido abalado face à gravidade de conflitos prolongados e à eficácia dos movimentos sociais e das entidades ambientalistas em impor novos critérios de consciência econômica e ambiental.

Em meio às diversas abordagens sobre desenvolvimento, o conceito de Desenvolvimento Sustentável, originário da economia ecológica, tem sido um dos mais institucionalizados (RODRIGUES, 2009), através de uma proposta ideológica muito sedutora: compatibilizar o desenvolvimento econômico, social e equilíbrio ambiental.

Porém, para Carneiro (2005) essa discussão sobre Desenvolvimento Sustentável em comunidades tradicionais envolve contradições com relação à questão ambiental e as relações produtivas, quando relacionada ótica capitalista atual de desenvolvimento. Carneiro (2005) retoma a discussão de que o sistema capitalista é contraditório e por si só, incapaz de gerar sustentabilidade até para si mesmo, como discutido por Marx (1963).

Nos últimos anos, o poder público, a iniciativa privada e as organizações não governamentais têm direcionado parte de seus esforços para o estabelecimento de estudos, ações e projetos que melhor deem conta e atendam a valorização da cultura dos povos tradicionais. Estes esforços relacionam-se a um desejo de entendimento para além do senso comum do problema social e ao crescente interesse pela promoção da inclusão econômica e social desses povos, que resistem culturalmente a milhares de anos.

Não se trata apenas de uma pesquisa voltada ao aspecto geográfico, ou econômico. Ao entender o processo histórico de formação dessas comunidades será possível apresentar a história econômica regional incorporando os componentes socioeconômicos ao longo do tempo e projetar cenários e conceitos alternativos para o futuro, de forma a se arquitetar o planejamento regional considerando aspectos amplos de natureza geopolítica e de logística de transporte para esta região.

Acredita-se que a partir de um trabalho de pesquisa cientifica que evidencie a formação histórica e os processos de colonização das comunidades ribeirinhas é possível mostrar a potencialidade econômica cultural e ambiental existente que poderiam ser exploradas de forma especializada e equilibrada, gerando riqueza e qualidade de vida para a população local. Dessa forma será possível direcionar os olhares das autoridades constituídas para o incremento de politicas eficazes que incentive os meios produtivos, sem perder de vista a sustentabilidade cultural e ambiental da região.

A partir do Decreto nº 6.040, de 7/02/2007, as comunidades tradicionais foram entendidas como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando ainda conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição e não apenas meros transmissores dos modos de vida na beira do rio (OLIVEIRA, 2009).

Concernente aos conhecimentos adquiridos por estes povos ao longo dos anos, Boff (2004) exclama: “o conhecimento tradicional é uma sabedoria feita da observação e da ausculta da Terra”. Esses ainda são determinantes para a manutenção do equilíbrio existente entre estas populações e a natureza; já que sua sobrevivência depende da manutenção dos recursos naturais.

A disputa pela apropriação dos conhecimentos acumulados ao longo de várias gerações se dá inclusive em nível internacional: “No plano internacional, a biodiversidade tornou-se objeto de intensa disputa e extrapola o campo dos recursos biológicos, da agricultura e da alimentação, pois o campo de luta não é mais a apropriação do território em si, mas o acesso e o controle do conhecimento. O que está em jogo é a defesa do direito de continuar mantendo uma conexão vital entre a produção de alimentos e a terra. Impossível proteger a diversidade biológica sem proteger, concomitantemente, a sociodiversidade que a produz e conserva. [...]”. (CASTRO, 2000).

Para Costanza (1991), sustentabilidade é “a relação entre os sistemas econômicos humanos dinâmicos e os sistemas ecológicos mais abrangentes, dinâmicos, mas normalmente com mudanças vagarosas, na qual: a) a vida humana possa continuar indefinidamente, b) as individualidades humanas possam florescer, c) a cultura humana possa desenvolver, d) os efeitos das atividades humanas permaneçam dentro de limites a fim de que não destruam a diversidade, complexidade e funções do sistema ecológico de suporte da vida”.

As comunidades tradicionais contribuem, ainda, para a conservação do equilíbrio ecológico, pois na maioria das vezes tais povos reconhecem a natureza como ser vivo sagrado. Dessa forma eles respeitam, cuidam, valorizam e convivem em harmonia. Quanto ao papel das comunidades na conservação da biodiversidade, Oliveira (2009) bem relata: “culturas e saberes tradicionais contribuem para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas. Em numerosas situações, na verdade, esses saberes são o resultado de uma evolução conjunta entre as sociedades e seus territórios, o que permitiu um equilíbrio entre ambos”.

A inclusão social, sendo entendida não como desenvolvimento de políticas públicas assistencialistas, mas como geração de políticas participativas que permitirá a essas comunidades se tornarem agentes em seu processo de inclusão e integração social. Por sua vez, a inclusão social, para além de uma maior acessibilidade, almeja o desenvolvimento de ações que tenham impacto político, social e econômico ao alcance de todos em longo prazo. Para Abramo (2007), as políticas públicas com esses aspectos seguiram o caminho das pesquisas somente recentemente.

A concepção de Abramo (2007) nos permite entender o ser humano como sujeito dialógico, capaz de contribuir para a solução de problemas e requerente de necessidades específicas. A partir desta visão, se faz necessário estudar e compreender o processo histórico de colonização e identificar as potencialidades econômicas das comunidades localizadas na região do baixo Rio Madeira, pela sua diversidade econômica, cultural e ambiental que tem alcançado olhares das autoridades políticas dento e fora de Rondônia, nos últimos anos.

A atenção das autoridades precisa ser transformada em infraestrutura que poderá ser associada ao sistema produtivo local se este for diagnosticado e colocado à apreciação com fontes confiáveis que apontem as melhores perspectivas de investimentos. Acredita-se ser de suma importância para o campo da pesquisa a observação detida das ações que rumam em direção contrária a grande maré que toma as populações tradicionais como problema, desejando ofertar a eles o direito de expansão das esferas de seu ser por meio do desenvolvimento das suas diversas potencialidades (COELHO, 2008).