Prof. Ms. Osmair Oliveira dos Santos
Uma breve análise da política educacional brasileira nos
mostra sucessivas formatações no que se referem a sua estruturação, ajustes e
reformulações de estratégias. Tentativas em muitos casos sustadas pela permanência
de antigas concepções em detrimento de novos princípios, valores, interesses,
propósitos, atitudes e práticas que não foram tocados por essas modificações,
considerando os avanços, crescimento e modificações na forma de agir, pensar e
viver da sociedade atual.
São, sobremaneira, movimentos localizados de pensadores,
ditos críticos da educação, que refletem particularmente a permanência da
sociedade capitalista que se reorganiza, que se reforma se recria e se
moderniza, sem resolver suas contradições mais fundamentais. Entre tantas
contradições que impera na sociedade atual encabeçada por uma elite que
privilegia apenas os seus interesses está o setor educacional, basta observar
os índices nacionais e comparar onde estão os melhores resultados.
Segundo
a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205 e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, Lei n° 9.394/96, a educação deve ser um direito de todos e dever do estado e
da família. Dessa forma deverá ser promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
No
contexto da lei nacional, o país nada avançou em todos esses anos. Temos uma
constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996,
Planos, Programas e tantos documentos que em suma dizem trazer melhorias para o
ensino. No entanto, na prática, vemos a cada ano os índices educacionais diminuírem.
Os discentes parecem cada vez mais dispersos, avessos ao que se passa no ambiente
educativo. A sociedade parece caminhar na contramão do que se ensina na escola.
Dados da UNESCO, em
2012, informavam que o analfabetismo ainda
afetava 8,7% da população isto significa falar em 13,9 milhões de pessoas. Números
considerados expressivos diante da lei e dos discursos que tenta colocar a
educação como o resgate da cidadania. Além disso, de acordo com dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE, 18,3% dos
brasileiros eram classificados como analfabetos funcionais em 2012. No
entanto, o Instituto Paulo Montenegro, organização vinculada ao IBOPE, estimou que cerca
de 27% dos brasileiros eram analfabetos funcionais em 2012.
A realidade se
traduz no absurdo, uma vez que a educação deveria ser a base da sociedade
moderna. Todos os números enfatizados nas pesquisas evidenciam o imenso abismo
existente entre aquilo que o sistema de educação brasileiro
ensina e o que os educandos realmente necessitam aprender para ter qualidade de
vida e encarar o mundo do trabalho.
O que se tem até
então, é uma escola que não condiz com a realidade esperada pela juventude, pelo
setor produtivo e muito menos pela sociedade, de forma geral. Essa é uma
clara demonstração de que o sistema educacional brasileiro está a beira da
falência, e conseqüentemente precisa sair do mundo teórico e começar a
reformular um novo currículo voltado para o que é verdadeiramente essencial,
respeitando as peculiaridades locais, como bem diz a lei.
Impressionante em
tudo isso é a inércia com que os governos tratam a questão, apesar dos belos e
ensaiados discursos que fazem ou que publicam nas mídias. Não adianta falar em
um uma nação forte e desenvolvida se não houver investimento na educação.
Professores mal remunerados, escolas desassistidas em todos os aspectos
pedagógicos jamais se alcançará resultados satisfatórios. No Brasil, parece se
ter medo, por exemplo de aumentar salário de professores. Os governos preferem
investir milhões, no que eles falam de formação continuada. Formação continuada
é necessária para docentes e trabalhadores do setor educacional. No entanto,
são cursos e oficinas tão repetidas todos os anos, que quando perguntados os
professores respondem em coro: é “formação apenas para encher lingüiça”, ou
seja, somente para gastar dinheiro público que não terá nenhum resultado na
vida ou no trabalho desenvolvido na escola.
São, pois
milhões jogados fora literalmente, enquanto na escola a mesmice continua. Falta
de inovação, criatividade e professores cansados e estressado é tudo o que se
tem. É dois mundos, o mundo fora da escola cheio de novidades em todos os
aspectos e o mundo dentro da escola, enfadonho, sem perspectiva e totalmente descontextualizado
da realidade. A meu ver quando as políticas públicas falam em “valorização do
profissional da educação”, os governos deveriam traduzir esses dizeres em aumento
real dos ganhos financeiros desses profissionais.
A falta de ganho
real dos professores faz com que os mesmos busquem outras fontes de ganho. Ou
seja, para conseguir manter uma melhor qualidade de vida sua e da família precisam
trabalhar em mais de uma escola, ou até em outros seguimentos da sociedade.
Isso é um absurdo, pois como poderá esse profissional se dedicar ao trabalho
docente, se não tem tempo de pensar, planejar e pesquisar sobre determinados
assuntos que merecem ser tratados na sala de aula com os alunos? Atividade
extracurricular há muito tempo deixou de existir na escola.
Pesquisas mais
diretas e aprofundada, conhecimentos de laboratórios e áreas afins já não mais
fazem parte da vida da escola. Tudo isso se traduz no cenário educacional atual
que vivenciamos. A escola deixou ser um ambiente eficaz de formação e educação
dos jovens. Os professores já não têm mais o respeito e a admiração da
sociedade. A família por sua vez reclama, mais também não faz nada e a educação
continua regredindo. È o cenário que temos.
Diante da reformulação
do Plano Nacional de Educação, evidenciam-se melhorias. Há indícios de grandes
investimentos nesse setor, porém ainda são apenas discursos de governos que somente
pensam em se manter no poder, e em suma utilizam esse expediente para falar à
sociedade que mais adiante as coisas irão melhorar. Acredito que para a
educação melhorar apenas uma coisa terá que ser feita, investir no professor.
Investir no professores significa como já foi falado, remunerá-lo bem. Afinal,
que diferença tem o professor de um juiz, delegado, vereador, deputado,
senador, promotor e outros servidores?
Da mesma forma,
porque haver diferenciação de salário de professores que atuam nas esferas municipal,
estadual ou federal, se ambos desenvolvem a mesma função? São contradições que
no Brasil ainda persistem. Longe de uma abordagem psicológica, pois não sou
dessa área de conhecimento, mais ao ver o que faz um trabalhador se dedicar ao
trabalho e desenvolvê-lo com eficácia é garantia de um salário justo que lhe
assegure o mínimo de conforto, garantia de acesso à saúde, segurança, transporte
e sustento para sua família.
Vive-se um caos
na educação, nisso todas as pessoas que vivem no mundo real concordam. O
problema é o que fazer para sair desse buraco. Parece que não há interesse
nessa melhora por puro temor dos governos. Ora, sendo o professor um formador
de opinião, apenas isso é motivo para qualquer político tremer suas bases.
Investir no professor significa perder eleitorado, pois boas escolas e
sociedade politizada, com certeza irão varrer do mapa os maus políticos, a
corrupção que cada vez mais se enraíza e certamente uma nova sociedade surgirá.
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