A área de Ciências Humanas contribui para que os alunos desenvolvam a cognição in situ, ou seja, sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço, conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias elaboradas conjuntamente, em meio a circunstâncias históricas específicas, nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao acolhimento da diferença. O raciocínio espaço-temporal baseia-se na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância histórica.
A capacidade de identificação dessa
circunstância impõe-se como condição para que o ser humano compreenda,
interprete e avalie os significados das ações realizadas no passado ou no
presente, o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo
controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente.
A abordagem das relações espaciais e o
consequente desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal no ensino de Ciências
Humanas devem favorecer a compreensão, pelos alunos, dos tempos sociais e da
natureza e de suas relações com os espaços. A exploração das noções de espaço e
tempo deve se dar por meio de diferentes linguagens, de forma a permitir que os
alunos se tornem produtores e leitores de mapas dos mais variados lugares
vividos, concebidos e percebidos.
Na análise geográfica, os espaços
percebidos, concebidos e vividos não são lineares. Portanto, é necessário
romper com essa concepção para possibilitar uma leitura geo-histórica dos fatos
e uma análise com abordagens históricas, sociológicas e espaciais (geográficas)
simultâneas. Retomar o sentido dos espaços percebidos, concebidos e vividos nos
permite reconhecer os objetos, os fenômenos e os lugares distribuídos no
território e compreender os diferentes olhares para os arranjos desses objetos
nos planos espaciais.
https://www.guiadacarreira.com.br/educacao/faculdade-de-humanas/
Embora o tempo, o espaço e o movimento sejam categorias básicas na área de Ciências Humanas, não se pode deixar de valorizar também a crítica sistemática à ação humana, às relações sociais e de poder e, especialmente, à produção de conhecimentos e saberes, frutos de diferentes circunstâncias históricas e espaços geográficos. O ensino de Geografia e História, ao estimular os alunos a desenvolver uma melhor compreensão do mundo, não só favorece o desenvolvimento autônomo de cada indivíduo, como também os torna aptos a uma intervenção mais responsável no mundo em que vivem.
As Ciências Humanas devem, assim,
estimular uma formação ética, elemento fundamental para a formação das novas
gerações, auxiliando os alunos a construir um sentido de responsabilidade para
valorizar: os direitos humanos; o respeito ao ambiente e à própria
coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como a solidariedade, a
participação e o protagonismo voltados para o bem comum; e, sobretudo, a
preocupação com as desigualdades sociais.
Cabe, ainda, às Ciências Humanas
cultivar a formação de alunos intelectualmente autônomos, com capacidade de
articular categorias de pensamento histórico e geográfico em face de seu
próprio tempo, percebendo as experiências humanas e refletindo sobre elas, com
base na diversidade de pontos de vista.
Os conhecimentos específicos na área de
Ciências Humanas exigem clareza na definição de um conjunto de objetos de
conhecimento que favoreçam o desenvolvimento de habilidades e que aprimorem a
capacidade de os alunos pensarem diferentes culturas e sociedades, em seus
tempos históricos, territórios e paisagens (compreendendo melhor o Brasil, sua
diversidade regional e territorial). E também que nos levem a refletir
sobre sua inserção singular e responsável na história da sua família,
comunidade, nação e mundo.
Ao longo de toda a Educação Básica, o
ensino das Ciências Humanas deve promover explorações sócio-cognitivas,
afetivas e lúdicas capazes de potencializar sentidos e experiências com saberes
sobre a pessoa, o mundo social e a natureza. Dessa maneira, a área contribui
para o adensamento de conhecimentos sobre a participação no mundo social e a
reflexão sobre questões sociais, éticas e políticas, fortalecendo a formação
dos alunos e o desenvolvimento da autonomia intelectual, bases para uma atuação
crítica e orientada por valores democráticos.
Desde a Educação Infantil, os alunos
expressam percepções simples, mas bem definidas, de sua vida familiar, seus
grupos e seus espaços de convivência. No cotidiano, por exemplo, desenham
familiares, identificam relações de parentesco, reconhecem a si mesmos em fotos
(classificando-as como antigas ou recentes), guardam datas e fatos, sabem a
hora de dormir e de ir para a escola, negociam horários, fazem relatos orais e
revisitam o passado por meio de jogos, cantigas e brincadeiras ensinadas pelos
mais velhos. Com essas experiências, começam a levantar hipóteses e a se
posicionar sobre determinadas situações.
No decorrer do Ensino Fundamental, os
procedimentos de investigação em Ciências Humanas devem contribuir para que os
alunos desenvolvam a capacidade de observação de diferentes indivíduos,
situações e objetos que trazem à tona dinâmicas sociais em razão de sua própria
natureza (tecnológica, morfológica, funcional). A Geografia e a História, ao
longo dessa etapa, trabalham o reconhecimento do Eu e o sentimento de
pertencimento dos alunos à vida da família e da comunidade.
No Ensino Fundamental – Anos Iniciais,
é importante valorizar e problematizar as vivências e experiências individuais
e familiares trazidas pelos alunos, por meio do lúdico, de trocas, da escuta e
de falas sensíveis, nos diversos ambientes educativos (bibliotecas, pátio,
praças, parques, museus, arquivos, entre outros). Essa abordagem privilegia o
trabalho de campo, as entrevistas, a observação, o desenvolvimento de análises
e de argumentações, de modo a potencializar descobertas e estimular o
pensamento criativo e crítico. É nessa fase que os alunos começam a desenvolver
procedimentos de investigação em Ciências Humanas, como a pesquisa sobre
diferentes fontes documentais, a observação e o registro – de paisagens, fatos,
acontecimentos e depoimentos – e o estabelecimento de comparações.
Esses procedimentos são fundamentais
para que compreendam a si mesmos e àqueles que estão em seu entorno, suas
histórias de vida e as diferenças dos grupos sociais com os quais se
relacionam. O processo de aprendizagem deve levar em conta, de forma
progressiva, a escola, a comunidade, o Estado e o país. É importante também que
os alunos percebam as relações com o ambiente e a ação dos seres humanos com o
mundo que os cerca, refletindo sobre os significados dessas relações.
Nesse período, o desenvolvimento da
capacidade de observação e de compreensão dos componentes da paisagem contribui
para a articulação do espaço vivido com o tempo vivido. O vivido é aqui
considerado como espaço biográfico, que se relaciona com as experiências dos
alunos em seus lugares de vivência.
Na passagem para o Ensino Fundamental –
Anos Finais, os alunos vivenciam diversas mudanças biológicas, psicológicas, sociais
e emocionais. Eles ampliam suas descobertas em relação a si próprios e às suas
relações com grupos sociais, tornando-se mais autônomos para cuidar de si e do
mundo ao seu redor. Se, no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o
desenvolvimento da percepção está voltado para o reconhecimento do Eu, do Outro
e do Nós, no Ensino Fundamental – Anos Finais é possível analisar os indivíduos
como atores inseridos em um mundo em constante movimento de objetos e
populações e com exigência de constante comunicação.
Nesse contexto, faz-se necessário o
desenvolvimento de habilidades voltadas para o uso concomitante de diferentes
linguagens (oral, escrita, cartográfica, estética, técnica etc.). Por meio
delas, torna-se possível o diálogo, a comunicação e a socialização dos
indivíduos, condição necessária tanto para a resolução de conflitos quanto para
um convívio equilibrado entre diferentes povos e culturas. O desafio é grande,
exigindo capacidade para responder de maneira crítica, propositiva e ética aos
conflitos impostos pela história.
Progressivamente, ao longo do Ensino
Fundamental – Anos Finais, o ensino favorece uma ampliação das perspectivas e,
portanto, de variáveis, tanto do ponto de vista espacial quanto temporal. Isso
permite aos alunos identificar, comparar e conhecer o mundo, os espaços e as
paisagens com mais detalhes, complexidade e espírito crítico, criando condições
adequadas para o conhecimento de outros lugares, sociedades e temporalidades
históricas. Nessa fase, as noções de temporalidade, espacialidade e diversidade
são abordadas em uma perspectiva mais complexa, que deve levar em conta a
perspectiva dos direitos humanos.
Essa é uma questão complexa, que
envolve a compreensão do conceito de Estado e dos mecanismos institucionais dos
quais as diferentes sociedades dispõem para fazer justiça e criar um novo campo
republicano de direitos. Portanto, o desafio não está apenas no campo da
produção e reprodução de uma memória histórica, mas nos questionamentos com
vistas a uma posição ética dos indivíduos em relação ao passado e ao presente.
Vários temas decorrem dessa reflexão, tais como a interculturalidade e a
valorização das diferenças, em meio a um intenso movimento das populações e dos
direitos civis.
O Ensino Fundamental – Anos Finais tem
o compromisso de dar continuidade à compreensão dessas noções, aprofundando os
questionamentos sobre as pessoas, os grupos humanos, as culturas e os modos de
organizar a sociedade; as relações de produção e de poder; e a transformação de
si mesmos e do mundo. O desenvolvimento das habilidades voltadas para
identificação, classificação, organização e comparação, em contexto local ou
global, é importante para a melhor compreensão de si, do outro, da escola, da
comunidade, do Estado, do país e do mundo. Dá-se, assim, um passo importante
para a responsabilização do cidadão para com o mundo em que vive.
Em suma, a área de Ciências Humanas
deve propiciar aos alunos a capacidade de interpretar o mundo, de compreender
processos e fenômenos sociais, políticos e culturais e de atuar de forma ética,
responsável e autônoma diante de fenômenos sociais e naturais.
Considerando esses pressupostos, e em
articulação com as competências gerais da Educação Básica, a área de Ciências
Humanas deve garantir aos alunos o desenvolvimento de algumas competências
específicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário