Depois de muito tempo foi que eu comecei a perceber o que realmente é ser um ribeirinho. Aliás, foi depois de estigmatizar todo as minhas fontes de preconceitos. Ora, se eu mesmo não conseguia me aceitar com tal, como iria entender uma cultura que tem a sua verdade baseada na simplicidade de entender e ver o mundo, fazer uso dos recursos naturais apenas para a sua subsistência imediata e analisar os fenômenos da natureza utilizando tão conhecimento os conhecimentos dos mais velhos?
Lembro-me de uma ocasião em que presenciei uma reunião de uns intelectuais numa comunidade ribeirinha onde se falava sobre educação. Um morador local, talvez decepcionado com a forma como a pessoa falava em um tom eloquente, no entanto, sem que se fizesse entender pela grande maioria dos presentes, fez a seguintes declaração: é sempre assim, as pessoas da cidade vem aqui na nossa comunidade, falam bonito, todos batem palmas, elas vão embora com as informações e nunca mais voltam.
Ser ribeirinho, na verdade é ter nascido em áreas e/ou comunidades próximas às margens de rios. São em síntese, pessoas que preservam suas raízes milenares e vivem da pesca e produção
agrícola e de subsistência. Acostumado a organizar o seu próprio tempo de trabalho de acordo com suas
necessidades biológicas e culturais, tendo desta forma, toda liberdade de interromper o seu
trabalho no momento em que desejar” (SILVA, et al, p. 172). Este diferencial em adotar um
modelo de vida em consonância com seu mundo ecológico incomoda os diversos grupos da
sociedade que segue o ritmo e o jogo do poder capitalista.
O fato é que por muito tempo, pouco valor de deu aos que residiam nas comunidade tradicionais, inferiorizando seus conhecimentos e marginalizando o seu modo de vida. O tempo tem mostrado que apesar de todo o desenvolvimento dos grandes centros vive melhor aqueles que ao longo dos anos conseguiram conviver de forma harmônica com a natureza. Entendendo-a, dando e recebendo do que ela pode proporcionar.
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