sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

SANTOS, Osmair Oliveira dos¹

Para muitas pessoas quando se fala em meio ambiente, logo se faz a associação do termo a paisagens naturais. No entanto, esta expressão é mais abrangente e carregada de significados. Quando dizemos, por exemplo, que meio ambiente é o conjunto de condições e influências naturais que cerca os seres vivos ou uma comunidade, e que agem sobre eles, podemos dizer de forma simplificada que essa é uma relação entre os seres vivos e os nãos vivos.
Nesta perspectiva, surge o termo cuidar do meio ambiente, que em outras palavras significa cuidar de nós mesmos, uma vez que tudo estar relacionado com o lugar onde vivemos. O cuidado com o meio ambiente advém de algo muito maior que deve ser inspirado em um conjunto de ações e influências exercidas voluntariamente pelos seres humano, e que possa ser transmitida de geração para geração. Essa forma de conscientização é o que definimos como educação.
A educação ambiental nasce da premissa necessária do ser humano de se sensibilizar e buscar conhecimento em relação ao lugar de pertencimento.  Educação ambiental, de acordo com a Lei nº 9.795/99 é o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
No nosso cotidiano é urgente a necessidade de transformação para a superação de inúmeras injustiças ambientais, desigualdade social, apropriação da natureza e da própria humanidade como objetos de exploração e consumo. Muitos atribuem a esses pressupostos a uma cultura de risco, com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção imediata, mas aumentam de muitas formas as evidências que seus resultados podem atingir não só a vida de quem os produz, mas as de outras pessoas, espécies e até gerações futuras.
Esse cenário ambiental nunca visto na história da humanidade se deve aos próprios seres humanos, por suas ações de degradação sobre a natureza. A falta de orientação associada ao grande poder emanado pelo capitalismo radicaliza o compromisso que a educação ambiental assume no enfrentamento da crise ambiental, ensejando por mudanças de valores, comportamentos, sentimentos e atitudes. Ações fomentadoras de processos que possibilitem o respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, juntamente com o fortalecimento da resistência da sociedade a um modelo devastador das relações dos seres humanos entre si, e destes com o meio ambiente é um dever de todos.
Nesse contexto, o desenvolvimento econômico que emana do progresso científico e tecnológico demonstra que o domínio do homem sobre a natureza, nas últimas décadas, tem desencadeado alterações ecológicas de grandes proporções e consequências para a sobrevivência da humanidade. Frente a tantos problemas, a previsão é de um futuro incerto com enormes problemas de contaminação, esgotamento de recursos não renováveis e escassez dos recursos renováveis, aquecimento global, desmatamento, contaminação da água e do solo, fome, pobreza, entre outros que constituem perigo para a saúde e o bem-estar social.
Uma nova forma de pensar sobre o caminho empreendido pela sociedade e o modo como se tem enfocado as relações dos seres humanos com o lugar onde vive é algo a ser repensado, afim de oferecer um futuro equilibrado às gerações. Neste sentido, o Brasil tem procurado cumprir acordos internacionais sobre o meio ambiente, em conformidade com o que dispões os marcos legais da Constituição Federal de 1988, da Lei 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA e dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s.
­­­­­­­­Entre os principais documentos, no âmbito internacional, firmados pelo Brasil, merece destaque a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi, capital da Geórgia (ex-União Soviética), em outubro de 1977. Sua organização ocorreu a partir de uma parceria entre a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Desse encontro saíram as definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para a educação ambiental que até hoje são adotados em todo o mundo. Outros documentos internacionais importantes de orientação as ações da educação ambiental, que merecem destaque são: o Manifesto pela Vida e a Carta da Terra, que constituem a base de princípios para os processos da Agenda 21 brasileira.
O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado pela sociedade civil planetária, em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) é o marco critico, político e emancipatório da educação ambiental. O referido documento marca a mudança de acento do ideário desenvolvimentista para a noção de "sociedades sustentáveis", construídas a partir de princípios democráticos em modelos participativos de educação popular e gestão ambiental.
Da mesma forma, a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014),  instituída pelas Nações Unidas juntamente com a UNESCO representa um grande avanço para a educação ambiental ao reconhecer seu papel no enfrentamento da problemática socioambiental à medida que reforça mundialmente a sustentabilidade por meio da educação, assegurando a efetividade desse direito e incumbindo o poder público, entre outras providências, a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino.
Da educação é necessário que sejam adquiridos conhecimentos sobre o cuidado, para que o uso econômico dos recursos da terra pelos seres humanos tenha caráter de uso consciente, isto é, que gere o menor impacto possível e respeite as condições de renovação. Isso é o uma determinante que os documentos assinados pela grande maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil assumem, ou seja, garantir o acesso de todos aos bens econômicos e culturais necessários ao desenvolvimento pessoal e a uma boa qualidade de vida, sem perder de vista o conceito de sustentabilidade.
A forma de organização das sociedades modernas constitui-se no maior problema para a busca da sustentabilidade. A crise ecológica atual, vista como a primeira grande crise planetária da história da humanidade, tem dimensão tal que, a despeito das dificuldades, e até impossibilidade de promover o desenvolvimento sustentável, essas sociedades se veem forçadas a desenvolver pesquisas e efetivar ações, mesmo que em pequena escala, para garantir minimamente a qualidade de vida no planeta.
Assim, a questão ambiental impõe às sociedades a busca de novas formas de pensar e agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir as necessidades humanas, e relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um importante papel a desempenhar.
A trajetória da presença da educação ambiental na legislação brasileira apresenta uma tendência em comum, que é a necessidade de universalização dessa prática educativa por toda a sociedade através de um processo participativo. Esse é um processo onde o educando assume o papel de elemento central no ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais e na busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e conduta ética, condizentes ao exercício da cidadania.
A principal função do trabalho com a temática ambiental é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso, mais do que informações e conceitos, é necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação.
A grande tarefa da escola, como espaço social onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização é proporcionar um ambiente saudável e coerente com aquilo que ela pretende que seus alunos apreendam, para que possa, de fato, contribuir para a formação da identidade como cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes de proteção e melhoria em relação a ele. Por outro lado, é necessário também garantir situações em que os alunos possam pôr em prática sua capacidade de atuação.
Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo e que os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia exercem especial influência sobre os adolescentes e jovens. No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos aprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos poderão ser trazidos e debatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações entre esses dois universos no reconhecimento dos valores expressos por comportamentos, técnicas, manifestações artísticas e culturais.
É no ambiente escolar que as práticas realizadas representam um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos de forma pratica no cotidiano dos alunos, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis e compromissados criticamente com o futuro. Isso permitirá reavaliar informações e perceber as várias determinantes da leitura, os valores a elas associados e aqueles trazidos de casa. Isso os ajuda a agir com visão mais ampla e, portanto, mais segura ante a realidade que vivem.
É desejável a comunidade escolar refletir conjuntamente sobre o trabalho com o tema ambiental, sobre os objetivos que se pretende atingir e sobre as formas de conseguir isso, esclarecendo o papel de cada um nessa tarefa. Outro ponto importante a ser considerado é a relação da escola com o ambiente em que está inserida. Por ser uma instituição social que exerce intervenção na realidade, ela deve estar conectada com as questões mais amplas da sociedade, e com os movimentos amplos de defesa da qualidade do ambiente, incorporando-os às suas práticas e relacionando-os aos seus objetivos.
Dessa visão, surge a grande maioria das ações educacionais direcionadas, de forma predominante, para defesa do espaço natural de maneira estrita. Não é apenas com projetos de reciclagem de lixo, papel e plástico, ações de plantio de mudas e de comemorações em datas pontuais, tais como, semana do meio ambiente, dia da árvore, dia da água, etc. que se formará uma consciência sustentável.
No âmbito escolar é preciso que fique definido como objetivo pedagógico, qual tipo de educação ambiental deve ser seguido, uma educação conservacionista que é aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem, ou uma educação voltada para o meio ambiente que implica em uma profunda mudança de valores em uma nova visão de mundo e uma nova maneira de se ver pertencente ao meio em que está inserido.
É papel fundamental da escola, propiciar mecanismos para diminuir o distanciamento entre o que está explícito nos documentos e leis para o que está sendo praticado. Devemos perceber claramente a tônica da educação ambiental direcionada para uma consciência mais abrangente sobre a forma de perceber o que é o meio ambiente para as pessoas e o que significa educação, para preservá-lo. A forma de pensar e agir sobre os problemas ambientais implicam na inter-relação da ética, da política, da economia, da ciência, da cultura, da tecnologia, da ecologia, para uma prática voltada para a mudança do comportamento.
Como tema transversal é necessário estar presente em todos os níveis e modalidades de ensino de forma interdisciplinar, garantindo o desenvolvimento da cultura e da cidadania ambiental, de modo que impregne toda a prática educativa. Ao mesmo tempo, possa criar uma visão global e abrangente das questões que evidenciam a destruição do ambiente, nos seus aspectos físicos, históricos e sociais contextualizando-os entre a escala local e global.
Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cabe assim, aos educadores, em conformidade com sua área de conhecimento e atuação, organizar e adequar os conteúdos para contemplar a ação de Educação Ambiental de forma a contemplar todas as disciplinas do currículo escolar e contextualizá-los com a realidade da comunidade onde a escola está inserida.
O trabalho será mais impactante se os professores de todas as disciplinas discutirem as temáticas e sintetizarem elos para desenvolver um trabalho conjunto. Essa interdisciplinaridade pode ser buscada por meio de uma estruturação institucional da escola, ou da organização curricular, mas requer, necessariamente, a procura da superação da visão fragmentada do conhecimento. Isso levará o aluno a ser capaz de:
Ø    identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente ligados a ela, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente;
Ø    perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural;
Ø    observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida;
Ø    adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis;
Ø    compreender que os problemas ambientais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente;
Ø    conhecer e compreender, de modo integrado, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente;
Ø    perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de causa/efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu meio;
Ø    compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia.
Nesta perspectiva é necessário incluir no Projeto Político Pedagógico das Escolas a oferta da Educação Ambiental para todos os níveis e modalidades de ensino e em todas os componentes curriculares, de forma que fortaleça a cidadania, a partir de uma educação participativa, democrática, transformadora e crítica, abordando o conhecimento e o exemplo na resolução de problemas socioambientais. Para isso, os seguintes aspectos na oferta da educação ambiental deverão ser permeados nos níveis e modalidades de ensino:
Ø    Educação Infantil e início do Ensino Fundamental: enfatizar a sensibilização com a percepção, a interação, o cuidado e o respeito das crianças para com a natureza e cultura destacando a diversidade dessa relação;
Ø    Anos finais do Ensino Fundamental: desenvolver o raciocínio crítico, prospectivo e interpretativo das questões socioambientais, bem como, a cidadania ambiental;
Ø    Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos: aprofundar o pensamento crítico, contextualizado e político e a cidadania ambiental, frente às desigualdades sociais que expõem grupos sociais economicamente vulneráveis em condições de risco ambiental;
Ø    Educação do Campo, Educação Indígena e Educação Quilombola: nestas modalidades de ensino, é importante a revitalização da história e da cultura de cada comunidade, comparando-as com a cultura contemporânea e seus atuais impactos socioambientais, especialmente os causados por modelos produtivos. Nestas modalidades é oportuna a reflexão sobre processos de proteção ambiental, práticas produtivas e manejo sustentável.
A riqueza de ideias que normalmente surge do debate sobre a educação ambiental no contexto escolar, em geral contribui muito para a construção coletiva de soluções locais. Deve-se, a partir da educação, possibilitar o reconhecimento de fatores que produzam bem-estar ao conjunto da população e com isso desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais.

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, saúde. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

______. Constituição Federal (1988). Brasília, 2002.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394/96. Brasília: Câmara dos Deputados, 2010.

______. Lei 9.795/99. Dispõe sobre Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Brasília: DOU, 1999.

______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Resolução, CNE/CEB n. 2, de 15 de junho de 2012.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Formando COM-VIDA – Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola: construindo Agenda 21 na escola. 2. ed. Brasília: MEC, 2006.

DELORS, J. Educação – um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (2001). São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2006.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

RONDONIA. Secretaria de Estado da Educação. Referencial Curricular de Rondônia. Porto Velho: SEDUC, 2013.
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¹Professor na Rede Pública Estadual e Municipal de Educação no Estado de Rondônia. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia/UNIR. Pós-Graduação Lato Sensu em História, Geografia e Meio Ambiente pela Faculdade de Ciência Sociais Aplicadas/FACISA e Graduação em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia/UNIR.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O RIBEIRINHO E SUAS TRADIÇÕES


A sustentabilidade econômica cultural e ambiental em comunidades ribeirinhas tradicionais adquire um caráter de extrema importância para o entendimento dessa questão que se manifesta no cotidiano das pessoas com reflexos na sua qualidade de vida. Nesse contexto é importante conhecer o processo histórico de colonização, identificar o tipo de produção existente nessas comunidades e o que as instituições governamentais demandam em relação à políticas públicas de incentivo a produção nessa região.
A maneira como os ribeirinhos representam as suas relações econômicas a partir do modo de produção nas suas mais diversas formas, os aspectos sociais e a sustentabilidade ambiental também merecem uma ampla discussão por se tratar de um processo passado de geração para geração ao longo dos anos.

Da mesma forma os processos históricos de colonização e as complexas inter-relações entre economia e sustentabilidade cultural e ambiental, bem como o conjunto indissociável de objetos e ações que constituem o espaço e os sujeitos envolvidos são imprescindíveis quando se busca entender o modo de vida desse povo que resiste incansáveis nas suas comunidades de origens.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

O RIBEIRINHO E SEUS PRECONCEITOS

Depois de muito tempo foi que eu comecei a perceber o que realmente é ser um ribeirinho. Aliás, foi depois de estigmatizar todo as minhas fontes de preconceitos. Ora, se eu mesmo não conseguia me aceitar com tal, como iria entender uma cultura que tem a sua verdade baseada na simplicidade de entender e ver o mundo, fazer uso dos recursos naturais apenas para a sua subsistência imediata e analisar os fenômenos da natureza utilizando tão conhecimento os conhecimentos dos mais velhos?
Lembro-me de uma ocasião em que presenciei uma reunião de uns intelectuais numa comunidade ribeirinha onde se falava sobre  educação. Um morador local, talvez decepcionado com a forma como a pessoa falava em um tom eloquente, no entanto, sem que se fizesse entender pela grande maioria dos presentes, fez a seguintes declaração: é sempre assim, as pessoas da cidade vem aqui na nossa comunidade, falam bonito, todos batem palmas, elas vão embora com as informações e nunca mais voltam.
Ser ribeirinho, na verdade é ter nascido em áreas e/ou comunidades próximas às margens de rios. São em síntese, pessoas que preservam suas raízes milenares e vivem da pesca e produção agrícola e de subsistência. Acostumado a organizar o seu próprio tempo de trabalho de acordo com suas necessidades biológicas e culturais, tendo desta forma, toda liberdade de interromper o seu trabalho no momento em que desejar” (SILVA, et al, p. 172). Este diferencial em adotar um modelo de vida em consonância com seu mundo ecológico incomoda os diversos grupos da sociedade que segue o ritmo e o jogo do poder capitalista.
O fato é que por muito tempo, pouco valor de deu aos que residiam nas comunidade tradicionais, inferiorizando seus conhecimentos e marginalizando o seu modo de vida. O tempo tem mostrado que apesar de todo o desenvolvimento dos grandes centros vive melhor aqueles que ao longo dos anos conseguiram conviver de forma harmônica com a natureza. Entendendo-a, dando e recebendo do que ela pode proporcionar.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

EVASÃO ESCOLAR NO CONTEXTO GLOBAL

A discorrer sobre o surgimento e a evolução dos direitos humanos, os quais, interligados à democracia e à paz, formam uma tríade indissociável e interdependente Norberto Bobbio (1992), afirma que esta é responsável pela visão de que o homem tem uma dignidade intrínseca à sua condição humana e que por isso, tem direito a usufruir o que a ele é constituído e, por consequência, a existência dos direitos limita a ação do poder vigente.
Assim, a vigência de um direito constitui de forma geral, como pressuposto a existência de normas que assegurem o seu cumprimento, isto é, cada direito necessita, para sua garantia, um dever. Neste sentido, possibilitar a justiça e garantir as liberdades fundamentais do homem deve ser os objetivos dos direitos constitucionais, os quais devem existir em função da sociedade e não em função do poder vigente, e sim para que tanto o desenvolvimento individual quanto o coletivo sejam garantidos.
De acordo com Cury (2002), o direito à educação, previsto em lei, surge no final do século XIX e início do século XX na Europa. No Brasil, o ensino fundamental é tido como um direito reconhecido em 1934 e como um direito público subjetivo somente a partir de 1988. É inegável que este direito caminhe em direção à diminuição das desigualdades sociais e da discriminação, especialmente das classes social e economicamente menos favorecidas.
Ainda de acordo com Cury, como os anos passados na escola são responsáveis por uma dimensão que funda a cidadania, os países que tem politicas que visem a participação de todos nos espaços sociais e de trabalho sociais e de trabalho apresentam disposições legais que instituem a educação como um direito inalienável, pois essa participação só pode ser realizada por cidadãos.
Ao analisar a trajetória dos direitos como referencial teórico a cidadania, classe social e status, de Thomas Marshall, Cury refere que os direitos civis se estabeleceram no século XVIII, os políticos no século XIX e os sociais no século XX. Os diferentes tipos de direito são concebidos lentamente e cada direito surgido é agregado ao grupo dos anteriores e, por essa evolução lenta e gradativa, podem ser considerados como tesouros da humanidade e, por conseguinte, não écabível que alguém não tenha a possibilidade de herdá-los.
Segundo Marsall (1967, in Cury, 2002) a educação é um pré-requisito necessário da liberdade civil e, por conseguinte, um pré-requisito para o exercício de outros direitos. Podemos dizer que características pessoais não podem ser consideradas impedimentos para que o direito à educação seja desfrutado, uma vez que o direito à educação se pauta numa igualdade básica entre todos os seres humanos, igualdade essa da qual se nutrira nas teorias e nos movimentos de cidadania e de democracia do século XX.
No entanto, segundo Bobbio (1992), p, 43), o problema fundamental em relação aos direitos do homem, na atualidade não é tanto d justifica-los, mas o de protege-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas politico. Assim, justificamos a abordagem da evasão escolar na adolescência como um problema ideológico, ou seja, a concepção formulada por Althusser (1985) que a trata como um mecanismo de sujeição.
Ainda de acordo com Bobbio (1992), o direito à educação é sem dúvida um paradoxo, uma vez que para desfrutá-lo, o sujeito tem o dever de apresentar-se de acordo com os padrões pré-estabelecidos, a existência dos direitos em função da sociedade e não em função do poder vigente enunciada e ainda não teve uma aplicação cabal ao menos no que diz respeito a execução desse direito. Podemos observar semelhanças com a conhecida frase do livro A Revolução dos Bichos (CORWELL, 1945), que enuncia: “Todos são iguais, mas uns são mais iguais que os outros”.
Diante de uma análise generalizada dos aspectos que mais evidenciam o contexto educacional global e dos resultados que se espera desse processo que muitos pesquisadores definem como sendo de transformação social verificaremos que humanidade vive, hoje, um momento de sua história marcado por grandes transformações em muitas áreas do conhecimento, da produção e particularmente no eu se refere a produção cientifica e cultural.
Esses aspectos do avanço do conhecimento carregam consigo a necessidade de redimensionamento das práticas mediadoras da realidade histórica educacional voltada para a preparação para o trabalho e para os desafios impostos nesta nova sociedade. Assim a educação, como fator de transformação e como ação mediadora dessas práticas é colocada no campo das discussões como o modo mais eficaz de contribuir na construção da cidadania, agindo fundamentalmente na construção do homem social.
Vale apenas considerar também o processo educacional sistematizado de intervenção na dinâmica social e da vida das pessoas é fator preponderante para o desenvolvimento integral das sociedades. Porém, os processos sociais e educacionais não se restringem apenas a essa funcionalidade operatória. A significação desses processos só ganhará legitimidade se ultrapassarem a barreira da teoria e tornar-se visíveis no campo das ações práticas na vida das pessoas.
No contexto das generalizações, abordar reflexivamente a educação no cenário histórico e mundial não é simplesmente dispensar os dados e análises que as ciências especializadas nesse campo do conhecimento podem trazer. Faz-se necessário considerar todos os fatores que permeiam a educação na atualidade e da sua relação com a sociedade como forma de concebê-la pela ressignificação do seu papel na vida das pessoas e da condição humana.
Nesse sentido, para Brandão (2001), o desenvolvimento da educação está intrinsicamente ligado ao desenvolvimento da própria sociedade, que é constituída pelos seres humanos. Considerando essa perspectiva, os seres humanos não se desenvolvem de forma natural e espontânea, mas através da educação, constituída como um bem cultural e social. Portanto, a educação, pode ser compreendida também como processo ontológico da constituição humana que produz sentidos, criando e recriando significados de ser e estar no mundo.
Ao criar e recriar significados a condição humana admite-se dizer que a educação é uma experiência antropológica que submete à aprendizagem, da constituição humana, como afirma Charlot (2000, p. 53),

Aprender para construir-se, em um triplo processo de “hominização” (tornar-se homem), de singularização (tornar-se um exemplo único de homem), de socialização (tornar-se membro de uma comunidade, partilhando seus valores e ocupando um lugar nela). Aprender para viver com outros homens com quem o mundo é partilhado. Aprender para apropriar-se do mundo, de uma parte desse mundo, e para participar de um mundo pré-existente (CHARLOT, 2000, p. 53).

A educação escolar presente na cultura do homem atual exerce a função de socialização, bem como de humanização das pessoas e diante da sua complexidade deveria ter sempre como meta emitir respostas eficazes às necessidades das sociedades contemporâneas, resultantes das demandas que lhes são impostas, na perspectiva de preparar para o aqui e agora, bem como para o futuro com uma visão mais clara de um mundo e um futuro pessoal (STOBÃUS E MOSQUERA, 1991, p. 2.).
No cenário global, a escola por ser compreendida como espaço institucional de difusão do conhecimento historicamente sistematizada pela sociedade surge como instituição pública, laica e gratuita no contexto da modernidade, tendo como um dos deveres a transmissão e o ensinamento dos fundamentos da ciência como descreve Sposito (2005, p.10):

A disseminação da escolaridade seria uma das expressões mais claras do processo modernizador, embora este mesmo fosse analisado em suas ambigüidades, ou seja,  como forma inacabada de uma sociedade que ainda mantinha seus vínculos com a ordem oligárquica agrária e escravocrata, mantida por instituições pouco sensíveis e permeáveis aos intensos processos de mudança que se situavam na junção dos fenômenos da industrialização e da urbanização (SPOSITO, 2005,p.10).

Historicamente o iluminismo marca a trajetória do projeto pedagógico moderno, no qual a educação passou a ser o foco, por excelência, das expectativas e esperanças da humanidade, partindo da concepção de um individuo bem educado seria a certeza ou da mesma forma poderia contribuir para a determinação de um mundo melhor. Diante de tais pressupostos a educação passou a admitir como tarefa fundamental educar para o aperfeiçoamento moral da humanidade, a incorporação ao mundo do trabalho, a intervenção na vida, surgindo, assim, o sujeito escolar.

Assim, pode-se dizer que os processos de escolarização modernos e contemporâneos estão relacionados sobremaneira com os processos civilizatórios, que incluem a adaptação do indivíduo à sociedade atual, a partir da sua origem social, histórico e em longo prazo, com mudanças lentas e graduais. Portanto, a formação individual de cada pessoa depende dos padrões sociais que foram se estabelecendo ao longo da história e das estruturas das relações humanas.  

ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Atividade 1:
Poluição do Solo (disposição de resíduos sólidos em Lixão ilegal)

Em um lugar não muito distante daqui, existia um responsável pela coleta do lixo misturado que costumava colocá-lo em um Lixão ao invés de levá-lo até o Aterro Sanitário mais próximo da região. Isso ocorria pela distância até o Aterro ser maior do que até a do Lixão.
a) O que vocês, como representantes fariam para tentar solucionar esse caso?
b) Que danos ambientais irreparáveis seriam causados ao longo dos anos nesse local de deposição ilegal do lixo?

  
Atividade 2:
Poluição do Ar (queima ilegal de resíduos sólidos).
Um condomínio de apartamentos costumava queimar seu lixo ao invés de destiná-lo ao caminhão de coleta que o levaria até o Galpão de Reciclagem mais próximo. Na verdade, essas pessoas eram bem intencionadas, apenas estavam mal informadas, pois sabemos que a queima do lixo em locais que não apresentem os filtros necessários para absorverem os principais gases poluentes, causa sérios danos ambientais à região, representando inclusive uma forte ameaça à saúde dos moradores das proximidades.
a)  Como vocês, solucionariam esse caso?

b) Qual seria a melhor maneira para informar esses moradores da forma correta de depositarmos nosso lixo doméstico e dos danos que a queima inadequada de resíduos sólidos causa ao meio ambiente?


Atividade 3:
Poluição da Água (disposição de resíduos domésticos, agrícolas e industriais ilegais no Rio)

Um grupo de jovens constatou que o cheiro da água do Rio estava desagradável. Quando retornaram as suas casas, comentaram isso nas escolas e seus professores providenciaram uma pesquisa que identificasse a qualidade da água daquela região. Foi descoberto que lixo doméstico e embalagens de agrotóxicos eram jogados no rio.

a)   Como vocês solucionariam esse caso?

b)   Para que órgão seria indicado que a denúncia dessas irregularidades ocorresse?


Atividade 4:
Separação do lixo (coleta irregular do lixo pelos catadores não cadastrados).

Numa manhã de primavera, Ana, e sua mãe acordaram com um forte barulho em frente a sua casa. Assustadas, perceberam que era um carro de som fazendo propaganda de um novo produto que havia chegado à cidade. Tudo seria muito normal se o som não estivesse acima do limite permitido pela legislação atual.

a)   Você sabe o que é poluição sonora?


b)   O que você, como pessoa preocupada com o seu bem-estar e o das outras pessoas, faria?