A
noção de bem comum ou mesmo a maneira de como utilizar de forma coletiva os
bens comunais parece ser um dilema que a humanidade carrega consigo desde os
tempos em que a natureza era compreendida por mitos, como na Grécia Antiga. Analisando
a tragédia dos comuns logo se verifica que é um tipo de armadilha social, que
envolve um conflito de interesses individuais quanto ao uso de recursos
finitos.
De
acordo com essa teoria, o livre acesso e a demanda irrestrita de um recurso
finito termina por condenar estruturalmente o recurso por conta de sua superexploração.
A expressão provém originalmente de uma observação feita pelo matemático amador William Forster Lloyd sobre posse comunal da terra em
aldeias medievais, em seu livro de 1833 sobre população. O conceito foi
estendido e popularizado por Garrett Hardin no ensaio "The Tragedy of the
Commons", publicado em 1968 na revista científica Science Todavia, a teoria propriamente dita é
tão antiga e remonta os princípios formulados pelos filósofos Tucídides e Aristóteles.
A
tragédia dos comuns não é tão prevalente ou tão difícil de resolver como Hardin
sustentou, uma vez que a humanidade frequentemente cria soluções para os
problemas que de pronto lhe aflige. O autor Robert Axelrod também argumentou que mesmo indivíduos
interessados apenas em seu próprio bem-estar irão encontrar formas de cooperar,
uma vez que o auto-controle coletivo serve tanto aos interesses do indivíduo
quanto do grupo de pertencimento.
Hardin chama a atenção para problemas que não podem
ser solucionados por meios técnicos, isto é, distintos daqueles com soluções
que exigem somente uma mudança nas técnicas das ciências naturais, exigindo pouca ou nenhuma
mudança nos valores humanos ou ideias de moralidade.
Hardin argumenta ainda que esta classe de problemas inclui muitos daqueles
levantados pelo crescimento da população humana e o uso dos recursos
naturais da Terra.
Para exemplificar o que seria “sem soluções
técnicas", podem-se mencionar os limites colocados na disponibilidade dos
recursos materiais disponíveis na Terra, e também as consequências destes
limites para a qualidade de vida. Para maximizar a população,
precisa-se minimizar o consumo de recursos em tudo o que for além da simples
sobrevivência e vice-versa. Consequentemente, ele conclui que não há solução
técnica previsível para o incremento tanto da população humana e seu nível de vida num
planeta finito.
A partir deste ponto, é necessário mudar para
soluções não técnicas ou de gerenciamento de recursos para problemas de
população e recursos. Como forma de ilustração, apresenta-se um exemplo
hipotético de uma pastagem compartilhada por pastores locais.
Assume-se que os pastores desejem maximizar sua produção, e que assim
aumentarão o tamanho do rebanho sempre que for possível. A utilidade de cada
animal adicional possui um componente tanto positivo quanto negativo:
·
Positivo: o
pastor recebe todo o lucro sobre cada animal adicional.
·
Negativo: a
pastagem é ligeiramente degradada por cada animal adicional.
De suma importância, a divisão destes custos e
benefícios é desigual: o pastor individual ganha todas as vantagens, mas as
desvantagens são compartilhadas entre todos os pastores que usam a pastagem.
Consequentemente, para um pastor individual que considere a questão, o curso de
ação racional é
acrescentar um animal extra. E mais, e mais um.
Todavia, visto que todos os pastores chegam à mesma
conclusão racional, a superexploração e a
degradação é o destino de longo prazo da pastagem. Não obstante, a resposta
racional para um indivíduo continua a mesma em cada ponto, visto que o ganho é
sempre maior para cada pastor do que a quota individual do custo distribuído. Aqui,
o custo da superexploração é um exemplo de externalidade.
Já que a sequência de eventos segue previsivelmente
o comportamento dos indivíduos envolvidos, Hardin descreve-o como uma tragédia:
"o impiedoso funcionamento das coisas" (no sentido descrito pelo
filósofo Alfred Whitehead).
O mesmo pensamento pode ser desenvolvido com outros
temas contemporâneos, tais como a atmosfera, oceanos, rios, populações
de peixes, parques
nacionais, publicidade e até parquímetros.
A grande questão que percorre toda a discussão é o crescimento da população
humana, com os recursos da Terra sendo bens comuns e sua exploração contínua ao
longo do tempo.
No contexto de evitar a superexploração dos
recursos comuns, a conclusão segue a máxima de Hegel (a qual foi, na verdade,
escrita por Engels), "a liberdade é o reconhecimento
da necessidade". Assim, quando reconhecermos que recursos naturais são
bens comuns, e que, como tais, precisam ser cuidados por todos, é possível acreditar
que poderemos preservar e promover outras liberdades mais preciosas.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_dos_comuns
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