O vale do
rio Guaporé-Mamoré
A partir do século XVI vários representantes da coroa
portuguesa se aventuraram pelas terras, hoje conhecida como Amazônia, cujo o
intuito era ocupar os vales do Madeira-Guaporé-Mamoré e extrair os recursos valiosos,
como ouro e as drogas do sertão. A ocupação se deu pela ação exploratória dos bandeirantes
e pela presença militar, comprovada pelas inúmeras construções fortificadas,
necessária para conter os conflitos com os indígenas e com os espanhóis, que
também estavam ocupando a região de oeste para leste.
Para fazer frente a essas investidas, Dom Antônio Rolim de
Moura, antes da assinatura do Tratado de Madri, recebeu a incumbência de povoar
a região do Guaporé. Criou-se para isso a capitania de Mato Grosso, que sob sua
coordenação, dentre outras ações, serviria para estruturar a capital daquela
província denominada de Vila Bela da Santíssima Trindade, assegurando a
presença portuguesa e como importante ponto de coleta de impostos sobre a mineração
na região.
Ocorre que no final do século XVII, com a decadência da
mineração, o vale do Guaporé foi sendo abandonado, seja por mineradores que
procuravam regiões mais ricas ou pela falta de investimentos. Como a economia
girava em torno da mineração, outro tipo de produção econômica era praticamente
inexistente. O pouco que se produzia na agricultura e na pecuária até o século
XVIII, praticamente de subsistência.
Sem prosperidade nos setores agrícolas, pecuária e nos
engenhos havia falta de gente, de comida, de gado e de minerais valiosos. O que
ficou foi tão somente escravidão e penúria. O abastecimento da região,
inicialmente era feito através de caravanas paulistas. No entanto, depois de
1754, passou a ser feito a partir de Belém, pelos rios Amazonas, Madeira,
Mamoré, Guaporé. Mas isso só depois de 1754, quando foi franqueada a navegação.
Ocorre que a partir do séc. XVIII, o Vale do Guaporé
transformou-se em abrigo de indesejáveis e depósito dos proscritos do sistema.
Uma forma de prisão onde os desclassificados poderiam ser úteis para o poder.
Brancos endividados e criminosos viriam a ser a elite dos colonizadores do
vale. Em contrapartida o conjunto de anônimos era formado por indigentes de
outras áreas, prevalecendo a população negra e mestiça e uma elite branca.
As péssimas condições sanitárias somadas ao ambiente
natural hostil, tornavam a região propicia para um elevado número de doenças
como malária, corruções, febres catarrais, pneumonia, diarreia, tuberculose,
febre amarela, tifo e cólera. A falta de acesso ao tratamento dessas doenças as
tornavam sinônimo de morte aos que eram acometidos por essas enfermidades.
Vivendo em condições insalubres os escravos do vale do
Guaporé tendiam a se revoltar, tanto de forma individual como coletiva. Durante
a segunda metade do século XVII eram comuns as fugas de escravos, e a formação
de quilombos. Entre os quilombos daquela época se destacou o de Quariterê que
existiu de 1752 a 1795, ano em que foi destruído.
Entre as principais causas de decadência do vale do Guaporé
podem ser mencionadas: insalubridade, decadência do ouro, dificuldade de acesso
e permanência e hostilidade indígena. Além disso nas primeiras décadas do
século XIX a capital foi transferida para Cuiabá, onde os capitães generais já
passavam a maior parte do tempo. A partir desse momento, Vila Bela de
Santíssima Trindade foi deixada para trás, ficando no local apenas os negros abandonados
à própria sorte.
O Real
Forte Príncipe da Beira
A
construção do Real Forte Príncipe da Beira teve como objetivo assegurar o
domínio português, na margem direita do Guaporé permitindo a vigilância dos
rios Guaporé e Paraguai. Sua obra foi iniciada no ano de 1776, no governo de
Luiz Cáceres e finalizada somente em 1783. O fim do Ciclo do Ouro, no Vale
Guaporé, e a Proclamação da República deram esquecimento ao Forte. Não havia
mais interesse em manter uma fortaleza na Amazônia.
O Forte Príncipe da Beira não é
apenas uma grande fortaleza, ele representa a potência portuguesa ao construir
uma obra faraônica na região, com a intenção de defender os limites
portugueses, no auge do Ciclo do Ouro, e também vigiar sua inimiga, a Espanha
que tencionava atingir o Oceano Atlântico através dos rios Guaporé e Paraguai.
Esta imponente obra de 970
metros de extensão e 10 metros de altura, no coração da
Amazônia, nem mesmo chegou a ser utilizada como base militar. A demora nas
comunicações viria a impedir que a Capitania de Mato Grosso tomasse conhecimento
do tratado de Ildefonso, firmado entre Portugal e Espanha. O tratado legitimava
o domínio da margem direita do Guaporé a Portugal, tornando desnecessária a
empreitada, entretanto, o comunicado chegaria a Vila Bela, com atraso de ano.
A disputa entre Portugal e
Espanha vem de 1750, através do tratado firmado entre os dois reinados, que
defendia as linhas de fronteira do rio Guaporé. O Forte Príncipe não foi a
primeira construção dessa envergadura na região, no entanto, foi a mais
dispendiosa e demorada, pois deveria impor respeito ao inimigo, por sua
localização estratégica.
Somente
em 1914, através de Marechal Cândido Rondon o forte voltaria a ser lembrado,
depois de servir durante muitos anos como presídio e asilo dos extraditados de
Portugal.
Luiz de Cáceres chegaria na
capitania depois de longos 13 meses de viagem, iniciando a construção da
fortaleza sobre forte pressão política de seu rei e da proximidade do inimigo.
“A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte,
e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei...”, escreveria em 1776, ano em que
foi iniciado a construção do Forte. As dificuldades impostas pelas distâncias
fluviais; a ausência de mão-de-obra especializada, e a ineficiente comunicação
com Portugal castigavam, mais não desencorajam a coroa portuguesa que
prosseguia com a obra.
Somente
em 1914, através de Marechal Cândido Rondon o forte voltaria a ser lembrado,
depois de servir durante muitos anos como presídio e asilo dos exilados de
Portugal.
CARNEIRO. Neri de Paula. A Colonização Do
Vale Do Guaporé. http://www.webartigos.com/artigos/a-colonizacao-do-vale-do-guapore/5116/#ixzz4NrMQUSQW.
Acesso em 22 de outubro de 2016.
http://rondoniaemsala.blogspot.com.br/ - Acesso em 22 de outubro de 2016.
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