A discussão sobre a
pertinência da Educação em Tempo Integral no Brasil é relativamente nova. A primeira
experiência de construção de uma escola pública elementar de ensino integral
remonta à década de 1950, quando o eminente educador e político Anísio Teixeira
implantou, nos arredores de Salvador na Bahia, o projeto da Escola-Parque. Anísio Teixeira foi
um dos precursores dos ideais e da pedagogia da “escola nova” no Brasil, com
renomados educadores como Fernando Azevedo e outros, que iniciaram a luta pela
escola pública e foram signatários do célebre manifesto de 1932, um marco do
movimento educacional, que buscava afirmar a escola pública laica, universal e
democrática no país, no início do século XX.
O modelo
escolanovista, do qual o educador e filósofo John Dewey foi um dos principais
formuladores, compreendia a educação e o aprendizado, sobretudo, como uma
experiência concreta. Essa concepção-experimento, do “aprender fazendo” de
Dewey encontrava-se na gênese e no cotidiano de estudantes e professores da
Escola-Parque. A ênfase do projeto, além de garantir as disciplinas comuns do
currículo estabelecido na época, priorizava várias atividades extraclasses como
laboratórios, horticultura e outras que incentivavam a observação e a experiência
dos estudantes como estratégia para apreender o conhecimento e desvendar a
realidade.
A segunda
iniciativa de construção de um projeto de escola integral no Brasil ocorreu no
início dos anos de 1960, quando foram implantados no Estado de São Paulo os
Ginásios Vocacionais para atendimento aos estudantes do antigo curso ginasial
na faixa etária dos 11 aos 14 anos, o qual seguia o mesmo modelo anterior, onde
buscava conciliar as aulas teóricas com a prática concreta.
A terceira proposta
de escola integral que originou os Centros Integrados de Educação Pública, os
CIEPs, foi implantada no Rio de Janeiro, em meados da década de 1980, passados
20 anos do fechamento dos Ginásios Vocacionais paulistas. Estes também foram
norteados pelos ideais e princípios da escola nova.
Nos tempos atuais a
política educacional brasileira conta com um
programa e uma agenda de Educação Integral. A Portaria Interministerial
nº 17, de 24 de abril de 2007, instituiu
o Programa Mais Educação com parceria formal dos Ministérios do Desenvolvimento
Social e Combate à fome, da Cultura, do Esporte e o da Educação. O Programa
Dinheiro Direto na Escola, com o financiamento do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (PDDE/FNDE), operacionalizou o funcionamento de
suas ações desde 2008, desencadeando o
processo de adesão das escolas e Redes de
Ensino.
Fonte: Agencia Brasil - Disponível em: <https://archconsultoria.com.br/educacao-integral-e-meta-do-plano-nacional-de-educacao/>
O Decreto nº 7.083/2010 regulamentou essa estratégia para indução a ampliação do tempo diário de permanência de estudantes na escola e em atividades educativas coordenadas pela Instituição de Ensino. A Educação Integral está amparada pela Constituição Federal do Brasil de 1988, nos artigos 32 e 34 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – 9.394/96, na Lei Federal nº. 11.788 de 25 de setembro/2008, e tem como objetivo oferecer ensino em tempo integral nas unidades escolares da rede pública e garantir a permanência dos estudantes na escola com a adoção de um currículo integrado, bem como a qualidade na educação com base no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990, de 13 de julho de 1990, em seu Capítulo IV, artigo 53, reforça a obrigatoriedade do acesso e permanência na escola.
O Programa Mais
Educação já é uma realidade que, como tudo que se faz em educação, será
progressivamente aprimorada com a participação de educadores, estudantes,
artistas, atletas, equipes de saúde e da área ambiental, cientistas, gestores
das áreas sociais, enfim, com todos aqueles que, pessoal e profissionalmente,
dedicam-se à tarefa de garantir os direitos de nossas crianças, adolescentes e
jovens.
A Educação em Tempo Integral
exige mais do que compromissos: impõe também e,
principalmente, projeto pedagógico, formação de seus agentes, infraestrutura e meios para sua
implantação. Ela será o resultado
dessas condições de partida e daquilo que for criado e construído em cada
escola, em cada rede de ensino, com a
participação dos educadores, educandos e das comunidades, que podem, e devem
contribuir para ampliar os tempos e os espaços de formação de nossas crianças,
adolescentes e jovens na perspectiva de que o acesso à educação pública seja complementado pelos
processos de permanência e aprendizagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário