Conceito de espaço
geográfico
Como você já sabe, a Geografia é a ciência que
estuda o espaço geográfico. Neste sentido iniciamos nossa discussão
estabelecendo alguns conceitos sobre espaço geográfico para entendermos a
dinâmica da ocupação e do povoamento do Estado de Rondônia.
Das muitas definições de
espaço, destacamos o conceito de Lefebvre (1976) que afirma: do espaço não se pode dizer que
seja um produto como qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma
coisa ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou um conjunto de mercadorias.
Não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de
todos os instrumentos, o pressuposto de toda produção e de todo o intercâmbio.
Estaria essencialmente vinculado com a produção das relações (sociais) de
produção. (p.34).
Ancorada nas proposições de Lefebvre, Milton Santos
(2002), geógrafo brasileiro encontra a base para a construção do conceito de
espaço geográfico afirmando ser o mesmo “formado
por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de
objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro
único no qual a história se dá”.
Em outras palavras, Espaço
Geográfico,
portanto, é o espaço habitado, transformado e utilizado pelo ser humano. É
composto pelos seres humanos e todas as suas obras e os meios naturais que
interferem em suas atividades, como as cidades, as plantações e o meio rural,
as indústrias, os objetos, os rios, os climas etc. O processo pelo qual o homem
transforma e habita o meio em que vive é chamado de produção do espaço
geográfico.
Ocupação do espaço
brasileiro
O território brasileiro está localizado, quase em
sua totalidade, no hemisfério sul, mais precisamente 93% do território, e no
hemisfério norte 7%. Nosso país está estabelecido no ocidente, ou seja, a oeste
do meridiano de Greenwich, além disso, é cortado ao norte pelo paralelo do
Equador. Encontra-se na zona intertropical, zona temperada sul e no Trópico de
Capricórnio. Compõe o conjunto de países da América do Sul e faz fronteira com
todos os países dessa porção do continente americano, exceto Equador e Chile.
Quanto à extensão territorial, ocupa o quinto
lugar do mundo, por isso é considerado um país de dimensão continental, o
espaço geográfico ocupado representa 5,7% das terras emersas do planeta, com
uma área de 8.514.876,6 km2. Sua ocupação foi iniciada a partir do século XV pelos portugueses a
partir do litoral nordestino. Segundo CHISTOFOLETTI (1991) a ocupação
brasileira foi realizada por etapas sendo:
a) 1ª etapa: a ocupação da costa
litorânea;
b)
2ª etapa:
ocupação do interior do país em relação a oeste.
Neste
contexto dizemos que o desenvolvimento e a ocupação do território
brasileiro foram acontecendo e se modificando de acordo a mudança das
atividades econômicas, do litoral para o interior. Uma expansão alicerçada na
exploração econômica do território desde os momentos iniciais do processo de
colonização pelos portugueses que foi determinante para a sua configuração
espacial, econômica e sociocultural.
Povoando o interior do Brasil
Até a terceira década do século XIX, o Brasil foi colônia de
Portugal. Desse fator podemos atribuir o seu processo histórico de povoamento. Assim
temos desde esse período a concentração populacional na área litorânea que
também influencia à dependência econômica do país em relação aos centros
mundiais do capitalismo.
Da mesma forma podemos considerar que a extensão territorial do
país nos dias atuais é fruto de sucessivas expansões das áreas coloniais
portuguesas na América. Posteriormente, com o Brasil já independente, temos inúmeras
ações de da população que passaram a migrar para oeste em busca de melhores
condições de vida, alimentada de certa forma por políticas governamentais.
Se compararmos o território atual do país com área de
colonização portuguesa no século XVI, delimitada pelo Tratado de Tordesilhas,
percebe-se que aquela área praticamente triplicou, pois sequer chegavam a um
terço dos atuais 8,5 milhões de
km2.
Em
síntese, a ocupação do território brasileiro inicia
com pequenos arraiais espalhados
em diversas localidades. São ocupações que historicamente passam a acontecer por
ocasião da necessidade europeia de ampliar o comercio, resultando na procura de
novos produtos, e consequentemente, de novas áreas a serem exploradas para essa
finalidade.
A consequente expansão do
povoamento brasileiro, do litoral para o interior, a partir do século XVI, traz
consigo uma série de implicações sociais, mas acima de tudo econômica, como por
exemplo, a transferência da pecuária, que antes se desenvolvia na Zona da Mata nordestina,
para o sertão nordestino.
Assim, em relação ao povoamento do interior do território
brasileiro, temos:
c) Século XIX - Significativa expansão territorial
na qual os territórios ao sul tornaram-se inteiramente povoados motivados pelo
cultivo do algodão e do café.
d)
Início do século XX – Surgem grandes movimentos de desbravamento
e povoamento de novos espaços territoriais, conhecido frentes pioneiras que
teve inicio em São Paulo. Esse processo foi baseado na economia
que girava em torno do café, que necessitava de mais lugares para sua lavoura.
Outros motivos de grande
importância para o povoamento do interior do país foram a expansão ferroviária,
a colonização por
imigrantes no Sul, a Marcha para o Oeste (que foi um movimento de ocupação do Centro-Oeste)
e o aproveitamento agrícola das áreas do cerrado para
o cultivo da soja e
para a criação de gado.
As bases para a
ocupação humana do espaço rondoniense
O processo histórico da ocupação e
povoamento do espaço geográfico que atualmente constitui o estado de Rondônia,
remete ao século XVIII, nos vales dos rios Guaporé e Madeira. Advém das entradas
e bandeiras formadas por mineradores, comercializadores, militares e padres
jesuítas.
Desde de então, inicia-se a formação
populacional do estado que em nada foge à semelhança com os demais,
distribuídos ao longo do território brasileiro. Uma população que tinha como
base os brancos, negros e índios. Mais tarde, em decorrência dos vários ciclos
de produção econômica, ocorrem também várias fases de atração migratória onde
diversos povos e raças irão também constituir o elemento humano rondoniense.
Ainda no século XVIII, quando o topo da
sociedade na região é formado por portugueses e comerciantes paulista, o ciclo
da produção aurífera entra em declínio fazendo com que haja um intenso
esvaziamento das vilas, arraiais e cidades que surgiram em torno dessas minas.
Ficam apenas os negros remanescentes do escravismo, os mulatos e os índios já
aculturados.
Ciclos econômicos
Passado o primeiro ciclo econômico do ouro, outros,
a partir do século XIX irão constituir a produção de riqueza para o estado e
atrair pessoas oriunda do próprio território brasileiro, como de outras nações.
Cronologicamente, os ciclos econômicos em Rondônia aconteceram da seguinte
forma:
Ø Descobertas
de ouro no rio Corumbiara, afluente
da margem direita do rio Guaporé, a partir de 1744. Nessa mesma época houve
também o período exploratório das drogas do sertão.
Ø Primeiro
ciclo da borracha por volta de 1877. Migração
de uma grande leva de nordestinos para o vale do Madeira e seus afluentes: rio
Machado ou Ji-Paraná, Mamoré, Guaporé e Jamari. Em função do primeiro ciclo da
borracha têm-se a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em 1872
(Tratado de Petrópolis) e das Linhas telegráficas em 1909.
Ø Segundo
ciclo da borracha iniciado em 1942,
ocasião da Segunda Guerra Mundial. Foi neste período que surgiu o
soldado da borracha. Os vales amazônicos foram novamente ocupados novamente em
grande maioria por nordestinos.
Ø Extração da cassiterita em
1952. A descoberta da existência de estanho foi importante, particularmente, para
a economia regional de Porto Velho.
Ø Extração
de diamante na década de 1950, no vale do rio Machado, nas proximidades de Vila
Rondônia, atual cidade de Ji-Paraná, e Pimenta Bueno (curto de período de
duração).
Ø Construção da BR-364
iniciada em 1956 e concluída em 1966 dá início ao ciclo da agricultura, momento
em que o governo federal passa a fazer investimentos maciços em projetos e
colonização como forma de atrair uma grande massa de pessoas para a região.
Ø Extração do ouro no rio
Madeira iniciado em 1978. Teve seu apogeu na década de 1980, e a partir da década
de 1990 inicia o declínio da sua extração.
Ø Construção da Usina
Hidrelétrica de Samuel iniciada em 1982 e concluída (ultima turbina em
funcionamento) em 1996.
Ø Construção das UHEs de Jirau e
Santo Antônio, no rio Madeira, iniciada em 2008 e concluída em 2016. São
consideradas fundamentais para o suprimento de energia elétrica no Brasil e
estão entre as obras mais importantes do Governo Federal
atualmente.
O vale do rio Madeira
O rio Madeira nasce com o nome de rio Beni na Cordilheira dos Andes, na Bolívia. Desce das
cordilheiras dos andes em direção ao norte onde recebe o rio Mamoré-Guaporé tornando-se
o rio Madeira, um rio de planície com 1056 km de extensão que marca a fronteira
entre Brasil e Bolívia até
o seu encontro com o rio Abunã. Deste ponto em diante, segue em direção a
noroeste, desaguando no rio Amazonas.
Seu nome é atribuído ao fato
do mesmo, no período das chuvas, ter o seu nível elevado ocasionando a
inundação de grandes áreas da planície florestal, arrastando troncos e restos
de madeira. Historicamente sabemos que os primeiros relatos
sobre o atual rio Madeira são atribuídos aos portugueses, quando a partir do
ano de 1542, Francisco Orellana, vindo dos Andes (Peru), descendo o rio
Amazonas, passou em sua foz e o denominou de rio Grande.
Mais tarde Nuflo de
Chavez saindo de Santa Cruz de La Sierra dos Moxos conhecida atualmente como
República da Bolívia, em 1560, percorreu todo o curso do rio Madeira desde o
local se sua formação, na confluência dos rios Beni e Mamoré, até a sua foz na
margem direita do rio Amazonas. Vale ressaltar que os holandeses possuidores de
colônias no norte da Amazônia desde o ano de 1615, já possuíam conhecimento sobre
a região, e mantinham o comércio da compra de especiarias nativas com os
indígenas do seu baixo curso.
Mais tarde, em 1637, saindo
da Vila de Cametá no Grão-Pará, Pedro Teixeira, chefiando uma expedição
portuguesa com destino a Quito, Vice-Reino do Peru, subiu o rio Amazonas. Ao passar pela foz do rio
Madeira, foi informado pelos indígenas habitantes da ilha de Tupinambarana
(Parintins), que aquele era o rio Cayari em cujas margens habitavam várias
nações indígenas. Em vista a grande quantidade de troncos de madeiras flutuando
em suas águas, Pedro Teixeira o registrou em seu diário de viagem com o
nome de rio Madeira.
Por sua vez, o bandeirante
Antônio Raposo Tavares em 1650, percorreu desde o local de sua formação até a
sua foz na margem direita do rio Amazonas, dando conhecimento à metrópole
(Lisboa) de sua extensão, dos habitantes localizados nas suas margens e do seu
provável potencial econômico. Assim, a ocupação portuguesa foi consolidada na
região que já vinha tendo contato desde 1640, através dos padres jesuítas.
Com o objetivo de centralizar a
catequese dos indígenas, apoiar a conquista do vale do rio Madeira e impedir
que os índios continuassem a comercializar com os holandeses assentados no rio
Negro as ações dos jesuítas no baixo curso do rio, tendo a frente Padre Manoel
Pires e padre Grazoni, culmina com a fundação em 1669 da missão de Tupinambarana.
Desse local, se expande para as diferentes aldeias indígenas situados em todo o
seu vale, apesar da resistência dos nativos.
Apesar disso muitas atividades
missionárias e comercias se expandiam ao longo do vale do rio Madeira. Dentre
as mais importantes, a chefiada pelo padre jesuíta João Sampayo, que em 1712 se
estabeleceu na aldeia indígena de Canumã, erigindo igreja e casas. Mais tarde em 1728,
Sampayo funda um novo núcleo de povoamento entre a cachoeira de santo Antônio e
a foz do Jamarí. Dessa
forma, à medida que a catequese ia se concretizando ao longo dessa região, as
possibilidades de ocupação vão se tornando real. A região era riquíssima em
drogas do sertão e, acima de tudo em cacau.
Ao termino do
século XVIII, o curso do rio, assim como o seu vale já eram bastante conhecidos
e integrava a rota fluvial de abastecimento dos grandes arraiais auríferos do
alto Guaporé e Vila Bela/MT e para a exportação desse produto para Portugal via
Belém-do-Grão-Para. Da mesma forma, constituía uma área muito rica em
especiarias vegetais de alto valor comercial, com destaque para o cacau nativo.
LIMA, Abnael Machado de. Descobrimento
e Colonização do Vale do Rio Madeira. http://
gentedeopiniao.com/noticia/descobrimento-e-colonizacao-do-vale-do-rio-madeira/32395.
Acesso em 22 de outubro de 2016.
RONDÔNA. Atlas Geoambiental de Rondônia. Porto Velho. SEDAM, 2002.
MORET, Artur de Souza e SILVA, Luciane Lima Costa. O Rio Madeira,
uma Sociedade e a Indústria de Energia: a construção das usinas hidrelétricas e
os impactos e intervenções na sociedade. Boletim do Observatório Ambiental
Alberto Ribeiro Lamego, Campos dos Goytacazes/RJ, v. 4, n. 2, p. 11-31, jul. /
dez. 2010.