As reflexões emergentes sobre o desenvolvimento econômico, associadas a uma grande intervenção no meio ambiente, transformaram os anos 60 num período pródigo de reflexões e eventos relacionados com a questão ambiental.
A partir do livro de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa”, referindo-se ao som do silêncio causado pela ausência de insetos e de pássaros na primavera, promoveu-se uma discussão na comunidade internacional relacionando-se a diminuição da qualidade de vida, com o uso exacerbado de produtos de síntese química na produção agrícola, contaminando os alimentos e deixando resíduos no meio ambiente (ROSA, 2001).
Os problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do modelo econômico vigente, mas ainda não se falava em Educação Ambiental. Em março de 1965, na Conferência de Educação da Universidade de Keele - Inglaterra, colocou-se pela primeira vez a expressão “Educação Ambiental”, com a recomendação de que esta deveria se tornar parte essencial da educação de todos os cidadãos (LEONARDI, 2002).
Em 1968, foi criado o Clube de Roma e publicado o livro de Ehrlich, ”Population Bomb”, que, segundo Cohen e Leff apud Andrade (2001) expunham de forma contundente a interferência da explosão demográfica sobre o meio ambiente. Ainda nesse ano, foi instituído na Grã-Bretanha o Conselho para Educação Ambiental dos Países Nórdicos e França, cujas políticas educacionais introduziram esta temática nos currículos das suas escolas.
Ao final do ano, a UNESCO havia relacionado 79 países que já incluíam a EA nos seus currículos escolares (LEONARDI, 2002). Em 1972, acontece na Suécia a Conferência de Estocolmo na qual a Educação Ambiental passou a ser considerada como campo de ação pedagógica, adquirindo relevância e vigência internacionais.
Os representantes de 113 países participantes da Conferência declaravam a necessidade de estabelecer uma visão global e princípios comuns para a preservação e melhoria do ambiente humano. Como orientação aos governos, estabeleceu-se o Plano de Ação Mundial que recomendou um Programa Internacional de Educação Ambiental.
Já em 1974, aconteceu em Haia-Holanda o I Congresso Internacional de Ecologia cuja principal discussão girou em torno da redução da camada de ozônio. Nesta atmosfera, as discussões em relação à natureza da Educação Ambiental passaram a ser desencadeadas e os acordos foram posteriormente reunidos nos Princípios de Educação Ambiental, sendo estabelecidos no Seminário de Educação Ambiental realizado em 1974, em Jammi- Finlândia.
Esse seminário considerou que a Educação Ambiental não se trata de um ramo da ciência ou uma matéria de estudos separada, mas permitia alcançar os objetivos de proteção ambiental através de um plano de ações integrais e permanentes.
Em 1975, no Congresso de Belgrado foram estabelecidas as metas e os princípios da Educação Ambiental, presentes na chamada Carta de Belgrado, um documento histórico na evolução do ambiente. Também foi proposto, neste mesmo instante, que a Educação Ambiental deveria ser contínua, multidisciplinar, integrada às diferenças e voltadas para os interesses nacionais, cujos princípios orientaram o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).
Porém, se existe uma referência para aplicação da Educação Ambiental, esta se encontra nos documentos finais da Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi, realizada em 1977 na Geórgia, ex-União Soviética. Foi deste encontro que saíram as definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para a Educação Ambiental adotadas mundialmente até os dias atuais.
Passados dez anos da Conferência de Tbilisi, realizou-se o Congresso Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio Ambiente (1987), em Moscou - Rússia, promovido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e cultura).
No texto final deste Congresso, "Estratégia Internacional de ação em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de 90", ressalta-se a necessidade de fortalecer as orientações de Tbilisi. A ênfase é colocada na necessidade de atender prioritariamente à formação de recursos humanos nas áreas formais e não-formais da Educação Ambiental e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os níveis de ensino.
Vinte anos após a Conferência de Estocolmo, quinze depois de Tbilisi e cinco depois de Moscou, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), que se transformou num momento especial para a evolução da Educação Ambiental.
Além dos debates oficiais, foram marcantes dois entre os incontáveis 12 eventos paralelos: a "1ª Jornada Internacional de Educação Ambiental", um dos encontros do Fórum Global que atraiu cerca de 600 educadores do mundo todo, entre 179 países que firmaram um acordo conhecido como Agenda 21 (ECO-92), sendo um plano estratégico de ação para a promoção de um novo padrão mundial de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica; o "Workshop sobre Educação Ambiental" organizado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) destacou, dentre outros pontos, que deve haver um compromisso real do poder público federal, estadual e municipal para se cumprir a legislação brasileira visando à introdução da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e também propôs o estímulo a participação das comunidades direta ou indiretamente envolvidas e das instituições de ensino superior.
Em 1997, cinco anos depois da Conferência Rio-92, realizou-se uma primeira reunião internacional (não- oficial) no Rio de Janeiro, Rio +5, com a finalidade de verificar os avanços realizados a partir da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Portanto, existe a necessidade de incrementar os meios de informações e o acesso a estes meios, bem como o papel do poder público nos conteúdos educacionais como forma de alterar a degradação socioambiental e promover o crescimento da consciência ambiental.
A Inclusão Curricular da Educação Ambiental
A nova Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (PHILIPPI, 2001) vêm conferir uma nova identidade ao Ensino Médio, determinando que este seja considerado como Educação Básica.
A reforma curricular do Ensino Médio estabelece uma divisão do conhecimento escolar em áreas, pois entende que os conhecimentos estão cada vez mais imbricados aos conhecedores, seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social. Esta organização em áreas tem como base a reunião daqueles conhecimentos que compartilham objetos de estudo, portanto, se comunicam mais facilmente, criando condições para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade.
As áreas do conhecimento são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias (OLIVA & MUHRINGER, 2001). Neste sentido, foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), como referência nacional na área de Educação, tratando-se pela primeira vez oficialmente no 13 Brasil a Educação Ambiental como um tema transversal, dando indicações de como incorporar a dimensão ambiental nos currículos do ensino fundamental.
Os temas transversais permeiam toda a prática educativa que abarca relações entre os alunos, entre professores e alunos e entre diferentes membros da comunidade escolar (ROSA, 2001). Seus objetivos visam propiciar aos sistemas de ensino, particularmente aos professores, subsídios à elaboração e/ou reelaboração do currículo na construção do projeto pedagógico. Pois um trabalho com essa perspectiva aponta uma transformação na prática pedagógica, mudando a atuação dos professores às atividades pedagogicamente formalizadas e amplia a responsabilidade com a formação e cidadania dos alunos.
Enquanto a interdisciplinaridade busca integrar as diferentes disciplinas através da abordagem de temas comuns em todas elas, os temas transversais permeiam todas as áreas para ajudar a escola a cumprir seu papel maior de educar os alunos para a cidadania. Isto quer dizer que a adoção dos temas transversais pode influir em todos os momentos escolares, desde a definição de objetivos e conteúdos até nas orientações didáticas.
Com eles, pretende-se que os alunos cheguem a correlacionar diferentes situações da vida real e a adotar a posturas mais críticas (LEONARDI, 1999).
Nesse momento, a Educação Ambiental está vendo reforçada sua importância no ensino formal por dois caminhos: a reorientação curricular produzida pelo Ministério da Educação e Cultura-MEC, que por meio dos PCN’s, introduziu o tema Meio Ambiente como um dos temas transversais; a introdução da Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, oficializada por meio da Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, que entre outras coisas, legisla sobre a introdução da Educação Ambiental no ensino formal (OLIVA & MUHRINGER, 2001).
A introdução da questão ambiental nos currículos, intitulados como PCN-Meio Ambiente, desencadeará diversos processos de sensibilização em relação à questão ambiental, por meio de atividades planejadas que permitam a inserção progressiva das crianças no meio local, regional, nacional e internacional, de forma progressiva.
Deve responder aos interesses e motivações dos alunos, propiciando-lhes aquisição de conhecimentos científicos e técnicos e atitudes éticas, para que possam participar de modo eficaz na gestão dos processos de desenvolvimento de sua comunidade (OLIVA & MUHRINGER, 2001).
Sendo assim, por ser um processo duradouro, a Educação Ambiental pode ajudar a tornar mais relevante a educação geral, a começar pelo ensino fundamental. Esta pode ser considerada como uma base na qual se desenvolvam novas maneiras de viver sem destruir o meio ambiente, ou seja, um novo estilo de vida.
É possível disseminar entre crianças e os jovens uma nova consciência e atitudes com relação ao cuidado com o Planeta que habitamos, começando pela nossa casa, escola, bairro e cidade, pois a Educação Ambiental caracteriza-se por incorporar as dimensões éticas, sócio-econômicas, políticas, culturais e históricas no processo de Ensino e de Aprendizagem. Para Vigotski apud Bock (2002), a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas.
A criança humaniza-se através do contato com a cultura, que é mediado pelo “outro” (outra pessoa, o ambiente escolar, etc.). O professor e os colegas formam um conjunto de mediadores da cultura que possibilita um grande avanço no desenvolvimento e no processo de aprendizagem da criança. Portanto a Educação Ambiental, no universo escolar formal, deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar .
Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
A Educação Ambiental é uma ferramenta de aprendizagem para o desenvolvimento sustentável, apesar de ser polêmico essa dicotomia entre “desenvolvimento e sustentabilidade”, tendo em vista ser o próprio desenvolvimento o causador de tantos danos sócio-ambientais (ANTUNES, 2004).
Para Dias (2002), o Desenvolvimento Sustentável consiste no uso racional dos recursos naturais, para produzir e desenvolver a sociedade, sem comprometer o capital ecológico do planeta.
O desenvolvimento econômico e o bem-estar do homem dependem dos recursos naturais e o desenvolvimento sustentável é impossível de ser alcançado se for permitido que a degradação ambiental continue.
Para o balanceamento desta equação faz-se necessário o correto manejo dos recursos naturais de forma eficiente e sustentada, sendo suficientes para atender as necessidades dos atuais seres vivos e preservando uma quantia necessária para as futuras gerações.
A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas, segundo Sachs (2004), vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É por isso que falamos em desenvolvimento sustentável. A rigor, a adjetivação deveria ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado.
Ainda sobre a questão do desenvolvimento sustentável, Oliva e Muhringer (2001) ressaltam que não se pode haver desenvolvimento e crescimento econômico de modo a gerar na natureza sobrecargas insustentáveis para a vida em geral e para o próprio processo econômico que se alimenta de recursos naturais.
Desta maneira, o mundo toma consciência de que as maiores ameaças à sobrevivência da espécie humana são as mudanças climáticas em curso e os padrões insustentáveis de produção e consumo, que já superam a capacidade de reposição do nosso planeta. O problema é como disseminar essa informação para a população, de modo que se cobre dos governantes a elaboração de políticas e programas que enfrentem essas grandes questões.
Estas mudanças climáticas estão trazendo secas mais intensas, inundações, furacões, dificuldades no abastecimento de água e outras alterações ambientais. É o momento de repensar o consumo de combustíveis fósseis como o petróleo, carvão e gás, para a diminuição da emissão de gases poluentes e não favorecer as mudanças climáticas.
Temos de poupar as matérias primas não renováveis e reciclá-las para não sobrecarregarmos o planeta, assim como é preciso informar e educar as pessoas. A educação ambiental é decisiva, pois mostra que há outros modos de viver, preservando a biodiversidade, a água, os recursos naturais e os seres vivos. Se a Educação Ambiental avançar como é preciso, a sociedade aprenderá a discutir esses temas com a devida apreciação dos políticos e dos governantes, transformando em questões prioritárias (NOVAES, 2006).
Portanto, a noção de sustentabilidade implica em uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (ANTUNES, 2004). Nesse contexto, segundo Leonardi (1999), a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e na participação dos educandos.
Para Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.
O desafio é o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal- aquela que está diretamente ligada à Educação Ambiental tal como ela se apresenta nos PCNs de meio ambiente: relação ser humano-natureza; sociedade e cultura; concepção da educação e do conhecimento e não formal- a educação que se destina à comunidade como um todo, atividades educacionais que estão voltadas mais para tecnologias, como por exemplo: digitação eletrônica, pintura, aula de violão, horta e outras .
Assim, a educação ambiental deve buscar uma visão holística de ação, relacionando o homem, a natureza e o universo em uma perspectiva na qual os recursos naturais são finitos e que o principal responsável pela sua degradação é o próprio ser humano.