A Geografia nos anos iniciais passou a fazer parte das preocupações e reflexões de pesquisadores e intensificou-se, a partir da última década. Para Scarinci, Silva, e Carvalho (2021), ao pesquisarem a produção científica do ensino de Geografia no Brasil pela análise dos periódicos nesse período, houve um grande interesse por essa fase de ensino que passou a ser demonstrada em todas as regiões brasileiras.
Nessa etapa do ensino fundamental a ênfase do trabalho docente é a alfabetização, em sentindo estrito, a aquisição da leitura e escrita. Neste processo, tem-se também o ensino da Geografia, a qual é quase sempre relegada a um segundo plano, ou seja, nada ou muito pouco é trabalhado sobre esta área do conhecimento, resultando na não apreensão de conceitos importantes, constitutivos da própria vida.
Os resultados dessa prática na educação básica, e tendo o raciocínio geográfico como um processo cognitivo, que pode ser desenvolvido no ensino de Geografia por meio da mobilização dos conhecimentos da ciência geográfica, do pedagógico e das condições do contexto do aluno, verifica-se grandes prejuízos na aprendizagem dos educandos nessa disciplina.
O raciocínio geográfico é um processo cognitivo que pode ser desenvolvido pelo professor que atua no ensino de geografia quando este se utilizar de estratégias pedagógicas que possibilite o aluno a ter um papel ativo na construção de significados, ancorando-se nos fundamentos teóricos metodológicos da ciência geográfica.
Quando considerado o universo e suas constantes transformações, o ensino da geografia se destaca dentre outras ciências como componente curricular que permite a compreensão das modificações ocorridas no espaço físico e social que estão inseridas. Para Bezerra (2009, p. 1), a Geografia é a ciência responsável por elucidar o mundo e suas transformações.
Desse modo, decifrar o mundo vivido, o espaço e suas paisagens, assim, como viver em sociedade, compreender o papel dos homens na busca pela sobrevivência e da satisfação das suas necessidades, consiste no papel da geografia que se deve ensinar na escola (CALLAI, 2005, p. 228).
A partir desse entendimento, torna se evidente a importância do ensino de geografia já nas séries iniciais, uma vez que os alunos precisam ser estimulados à compreensão da vida em sociedade, levando em considerações as diferenças socioculturais e econômicas presentes no meio em que vivem, tornando-se cidadãos críticos e construtores do próprio conhecimento.
Nesse contexto, os professores são desafiados a buscar meios que facilitem a aprendizagem e mobilizem os conceitos de espaço, território, paisagem e os princípios lógicos como localização, delimitação, escala, arranjo, delimitação, rede, conexão, arranjo, a fim de conscientizar os educandos quanto à importância desse componente curricular na elaboração da sua visão de mundo.
Portanto, o raciocínio geográfico é uma cognição fundamental para o desenvolvimento dos alunos na Educação Básica, no que diz respeito à necessidade de atuar nas práticas espaciais cotidianas. Tal raciocínio contribui para o processo de emancipação dos sujeitos, favorecendo a produção da justiça espacial na organização geográfica das sociedades, cabendo aos professores que atuam no seguimento em questão, a utilização de estratégias que viabilizem essa habilidade por parte dos discentes.
Pensamento e raciocínio geográficos relacionados, possibilitam ao professor, sob inúmeras estratégias, a construção de modos de analisar geograficamente e, ainda, modos de ensinar que contribuam para que os alunos realizem análises geográficas e construam conhecimentos a respeito dos fatos/fenômenos em estudo.
Refere-se ao modo de pensar e construir estratégias de pensamento que se relacionem ao uso dos conceitos, categorias, princípios e a linguagem geográfica e cartográfica utilizando a escala de análise para compor o processo de raciocinar geograficamente. Cavalcanti (2008) compreende o raciocínio geográfico pelo desenvolvimento dos modos do pensamento geográfico e pela internalização de métodos e de procedimentos para captar a realidade, tendo consciência de sua espacialidade.
Considerada como uma discussão recente, a categoria raciocínio geográfico, passou a fazer parte do meio acadêmico a partir de 1976 com a obra “Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” do geógrafo Yves Lacoste. A partir de então, tem fortemente aguçado o interesse de pesquisadores da Geografia Escolar.
Para Roque Ascenção e Valadão (2014) esses estudos ainda são recentes e, portanto, não consensuais entre os geógrafos, não só a expressão raciocínio geográfico, mais outras como pensamento espacial, raciocínio espacial, pensamento geoespacial, entre outras.
Mesmo com a valorização atribuída à Geografia como ciência, ainda é visível em muitas unidades educacionais ações frequentes entre professores, nas quais a aula é desenvolvida de forma pouco atrativa, ainda que todos almejem à formação de um cidadão consciente e crítico, capaz de conceber a leitura de mundo por meio da compreensão dos conteúdos dessa disciplina. " A leitura do mundo é fundamental para que todos nós, que vivemos em sociedade, possamos exercitar nossa cidadania" (CALLAI, 2005, p. 228).
Nesse contexto, a modernização aliada ao avanço tecnológico reforça a necessidade de uma reavaliação quanto à importância atribuída à Geografia e o real espaço que ela ocupa em sala de aula, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, uma vez que, embora considerado um processo complexo, o ato de compreender essa disciplina desenvolve no indivíduo a sua visão de mundo, tornando-o capaz de ampliar seus conhecimentos e analisar criticamente o mundo a sua volta.
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