quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O QUE É RACISMO AMBIENTAL?

 

O atual cenário de aquecimento global tem conferido novos desafios à sociedade global. Os relatórios produzidos por diversas autoridades científicas confirmam a participação do ser humano nestes processos e alertam para a intensificação dos eventos climáticos nos próximos anos.

O racismo, fundamentado em opressão e violência, afeta diretamente a alocação seletiva de indivíduos em ambientes, padrões habitacionais e desenvolvimento infraestrutural, evidenciado pela carência de infraestrutura essencial para a população. O Art. 225 da Constituição Federal prevê a inclusão de todos na elaboração e implementação de políticas ambientais (BRASIL, 1988), porém, enfrentamos a problemática da "Injustiça Ambiental", que sobrecarrega grupos vulneráveis com impactos ambientais desfavoráveis (Herculano, 2008).

O termo "racismo ambiental" surgiu no cenário norte-americano durante a década de 1980, sobretudo entre as comunidades negras que debatiam as desigualdades sistêmicas em relação à localização de instalações poluentes em áreas habitadas majoritariamente por minorias étnicas.

O conceito de “racismo ambiental”, cunhado por Benjamin Franklin Chavis Jr., um líder afro-americano renomado nos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos. Chavis delineou o termo como a “discriminação racial na elaboração de políticas ambientais, aplicação de regulamentos e leis, direcionamento deliberado de comunidades negras para instalação de resíduos tóxicos, sansão oficial da presença de veneno e poluentes com risco de vida nas comunidades e exclusão de pessoas negras da liderança dos movimentos ecológicos”. (Herculano, 2008).

À medida que a discussão acadêmica progrediu, a pesquisa de Bullard (2000) emergiu como um marco, explorando a intersecção entre raça, classe e disparidades ambientais. Focou sua análise nas desigualdades urbanas, defendendo uma abordagem interdisciplinar centrada na comunidade e trouxe à tona as interseções de gênero no racismo ambiental, examinando a diversidade e a representatividade dentro das organizações ambientais.

Ao aprofundar-se nesta temática, torna-se imperativo reconhecer a intrínseca relação entre o racismo ambiental e o conceito mais amplo de racismo estrutural. Este último, refere-se a sistemas onde práticas públicas, institucionais e culturais perpetuam o acesso desigual a recursos com base na raça (Bonilla-Silva, 2006; Almeida, 2018; Davis, 2016).

Deste modo, o racismo ambiental pode ser entendido como uma manifestação concreta do racismo estrutural, expressando-se nas desigualdades do domínio ambiental e ampliando as discussões sobre as injustiças raciais em um contexto mais abrangente. Quando tratamos de mudanças climáticas, a perspectiva do racismo ambiental mostra como comunidades marginalizadas são desproporcionalmente afetadas por eventos extremos (Conti, 2005).

As comunidades tradicionais, devido a múltiplos fatores, como localização e falta de infraestrutura, sofrem impactos agravados de tais eventos (Rammê, 2012; Branco; Armada, 2018). Nesse contexto, o racismo ambiental manifesta-se também na distribuição desigual de encargos ambientais, impactando mais intensamente comunidades étnicas minoritárias (Tsosie, 2022).

Abordar essa intersecção entre mudanças climáticas e racismo ambiental exige ações inclusivas e empoderadoras, focadas na equidade ambiental e no desenvolvimento sustentável, uma vez que os eventos estão intrinsecamente ligados, representando uma combinação complexa de injustiças sociais e ambientais que afetam desproporcionalmente as comunidades marginalizadas e enfrentam a falta de acesso a serviços básicos de qualidade, além de sofrerem com a poluição, degradação ambiental e deslocamento forçado devido a projetos de infraestrutura.

Essas condições agravam as desigualdades sociais e raciais históricas do país, intensificando os impactos negativos do racismo ambiental e sua influência na crise climática que surge de forma alarmante.

A educação desempenha um papel fundamental no combate ao racismo ambiental, pois atua em diversas frentes para conscientizar, capacitar e mobilizar as pessoas. Ao abordar as complexas relações entre injustiça social, raça e meio ambiente, a educação se torna uma ferramenta poderosa para a transformação social.

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