Ciclo do Ouro – século
XVIII
Como já vimos nos capítulos anteriores, a
ocupação humana das terras do atual Estado de Rondônia teve início no século
XVIII com a descoberta de grandes jazidas de ouro, por Pascoal Moreira Cabral,
no rio Coxipó-Mirim, afluente do rio Cuiabá, em 1718. No ano de 1721 chegam
àquela região os primeiros sertanistas, oriundos de São Paulo. Em 1722, outra
grande jazida é descoberta na mesma área, por Miguel Subtil, que, somente em um
mês, produziu dezesseis toneladas de ouro. Começava o Ciclo de Ouro na região.
Seguiu-se assim o povoamento dos sertões dos
Parecis, e os vales do Guaporé e do Madeira. Diante do fator econômico
eminente, a coroa portuguesa passou a investir em toda a região enviando
expedições exploradoras, cuja finalidade era extrair o ouro que se mostrava
abundante. O Ciclo do Ouro impulsionava sertanistas e faiscadores para o
interior. Isso culminou com a descoberta de outro grande manancial aurífero por
Antônio Almeida de Morais e Tristão da Cunha Gago, em 1745, no rio Corumbiara.
A preocupação do governo de Portugal com a zona
fronteiriça aos domínios espanhóis, aliados á exploração e á comercialização de
ouro, levou-o a criar, em 08 de maio de 1748, a capitania de Mato Grosso, tendo
sido seu primeiro governador o capitão-general D. Antônio Rolim de Moura
Tavares.
Por ordem de Portugal, a sede da nova capitania
deveria ser fixada no vale do Guaporé, estrategicamente escolhido por facilitar
a proteção nos domínios portugueses contra o avanço militar espanhol. Assim, na
localidade de Pouso Alegre, D. Antônio Rolim de Moura Tavares fundou e
instalou, a 19 de março de 1752, Vila Bela da Santíssima Trindade de Mato
Grosso, que passou a funcionar como capital da capitania de Mato Grosso.
Em 1757, o juiz de fora Teotônio da Silva
Gusmão fundou o arraial de Nossa Senhora da Boa Viagem, ás margens da Cachoeira
de Salto Grande, no rio Madeira, posteriormente denominada Cachoeira do
Teotônio, em sua homenagem. No ano de 1768, o capitão-general Luiz Pinto de
Souza Coutinho, nomeado governador da capitania de Mato Grosso, fundou o
vilarejo do Balsemão, entre as cachoeiras do Ribeiro e do Jirau, no rio
Madeira, onde construiu casas, igreja e deixou cerca de duas centenas de
pessoas.
Assim, podemos analisar que a ocupação humana
da área geográfica que constitui o Estado de Rondônia, do início do século
XVIII até meados do século XX, foi estimulada por ciclos naturais de extração
mineral, em particular o ciclo do ouro, que inclusive propiciou a construção do
Real Forte Príncipe da Beira.
Primeiro Ciclo da
Borracha
As grandes descobertas
cientificas no decorrer do século XIX, possibilitou a utilização da borracha particularmente
após os estudos realizados em 1839 pelo cientista Charles Goodyear, que desenvolveu
o processo de mais resistência do produto e em 1842, com Thomas Hancook que
descobriu o processo de vulcanização. Através
desse processo a resistência e a elasticidade da borracha foram sensivelmente
aprimoradas.
A vulcanização possibilitou a
ampliação dos usos da borracha, que logo seria utilizada como matéria-prima na
produção de correias, mangueiras e sapatos. A região amazônica, uma das maiores
produtoras de látex, aproveitou do aumento transformando-se no maior polo de
extração e exportação de látex do mundo. No curto período de três décadas, entre
1830 e 1860, a exportação do látex amazônico foi de 156 para 2673 toneladas.
Vários fatores contribuíram a
partir da década de 1850, para o aumento da demanda da extração do látex] na
Amazônia e a sua comercialização no mercado internacional, entre os quais: a
internacionalização da navegação pelo Rio Amazonas. Nesse contexto, a região tornou-se polo
atrativo, principalmente para os nordestinos, que migraram para a Amazônia em
busca de trabalho na extração do produto.
A grande e sistemática
exploração da borracha possibilitou um rápido desenvolvimento econômico da
região amazônica, representado principalmente pelo desenvolvimento da cidade de
Belém. Este centro urbano representou a riqueza obtida pela exploração da
seringa e abrigou um suntuoso projeto arquitetônico profundamente inspirado nas
referências estéticas da Europa. Posteriormente, atingindo a cidade de Manaus.
Essas transformações marcaram a chamada belle époque amazônica.
Com a elevada comercialização do látex na
região dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, o governo brasileiro promoveu a
integração dessa região com o resto do País, fazendo surgir, em 1907, a
Comissão Rondon que integrou a região através da construção das linhas
telegráficas. O movimento pelos rios da região de Rondônia sustentou o mercado
internacional até o surgimento da produção dos seringais da Malásia, plantados
com sementes que fora levada do Brasil de forma ilegal.
Entre os anos de 1910 e 1914, termina o
primeiro ciclo da borracha. No entanto, o látex continua sendo extraído em
menor escala até a segunda guerra mundial. Durante todo este ciclo econômico a
característica peculiar foi o processo de migração de forma desordenada, onde
principal fomento foi a necessidade de fuga dos nordestinos da seca e da fome
que atingiam aquela região naquele momento.
Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré
Localizada no atual Estado de Rondônia, a
Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi construída com o intuito de ligar Santo
Antônio, então um pequeno povoado, a Guajará-Mirim, na divisa da Bolívia, e, com
isso, facilitar o comércio deste país através do rio Amazonas e de lá para o
Atlântico. Por cerca de 400 quilômetros, a linha férrea acompanhava os rios
Madeira e Mamoré, inavegáveis devido às vinte cachoeiras.
Até a ocorrência da guerra do Paraguai, em
1866, não havia grandes necessidades de escoar produtos pelo Madeira, pois se
utilizava a Bacia do Prata. Com a guerra esta opção se tornou inviável,
surgindo então a necessidade de encontrar novas rotas. Em 1870, o Brasil e a
Bolívia celebram o tratado diplomático e comercial, para construírem uma
ferrovia no trecho das cachoeiras dos rios madeira e Mamoré, iniciando as obras
em 1872 com a construtora Public Works, contratada para realizar a obra,
abandonando já no ano seguinte (SILVA, 1997).
O Tratado de Petrópolis assinado entre Brasil e
Bolívia em 1903, onde houve a incorporação do Acre ao Brasil, coube ao governo
brasileiro além da indenização de dois milhões de libras esterlinas a
construção da ferrovia que viabilizaria o escoamento dos produtos do centro-oeste
boliviano para o atlântico.
Após várias tentativas frustradas de construção
da ferrovia, em 1907, empresa May, Jekyll & Randolph assume os trabalhos e os
conclui em 1912. O povoado de Porto Velho surgiu a partir da retomada da
construção da estrada de ferro Madeira Mamoré em 1907, já em 1913 criava-se a
Vila de Porto Velho e posteriormente em 1914 foi criado o Município de Porto
velho, também em 1912 com a conclusão do último trecho da ferrovia surge o
povoado de Guajará Mirim na outra extremidade da ferrovia.
Os tempos áureos da ferrovia foram curtos,
visto que dois anos depois da inauguração a ferrovia passou a trabalhar com
déficit em função da queda de preço da borracha, ocasionada pela sua
desvalorização no mercado internacional. No entanto, contextualizou um novo
ciclo econômico marcado por um processo de migração de mão-de-obra de várias
nações.
Linhas Telegráficas
Em 1909 Rondon chegava às beiras do rio Madeira,
em Santo Antônio após atravessar uma extensão de 1415 quilômetros desde
Tapirapoã, em Mato Grosso abrindo picadas para trazer a linha telegráfica
pontilhada de pequenos núcleos de povoação que prosperaram e mais tarde se
transformaram em municípios, a partir da abertura da BR-364.
Em 1915, tem-se, de fato, a inauguração da
linha telegráfica unindo Cuiabá ao então Município de Porto velho, nessa época,
o telegrafo a fio já era obsoleto, entretanto, a instalação de postos
telegráficos deu origem a cidade de Vilhena e contribui para o desenvolvimento
de outras como Pimenta Bueno, Ji-Paraná, Jaru, Ariquemes, que atualmente são
municípios do Estado de Rondônia.
Entre 1910 – 1940 Rondon, serviu-se de mão-de-obra
de migrantes do sul do país. Esses trabalhadores juntamente com os demais
migrantes atraídos pelo avanço da construção da linha telegráfica, foram aos
poucos se fixando ao longo do traçado, formando pequenos povoamentos,
principalmente nos postos telegráficos que ofereciam melhores condições de infraestrutura
e comunicação com os demais locais.
As clareiras abertas pela expedição Rondon
contribuíram para a migração e povoamento da região e seu desenvolvimento
econômico (CIM, 2002; MEDEIROS, 2004). A construção das Linhas telegráficas
concomitante com a reconstrução da estrada de ferro, inicia um ciclo econômico,
desta vez, direcionado para o restante do Estado onde passam a surgir outros
povoamentos que não os povoados relacionados a ferrovia.
O segundo ciclo da
Borracha
A segunda guerra mundial propicia um novo
impulso a exploração da borracha na Amazônia, uma vez que os seringais ingleses
situados na Malásia foram ocupados pelas tropas Japonesas que faziam parte dos
países do eixo, causando uma situação muito desconfortável para a Inglaterra
que estava em Guerra com a Alemanha e demandava a produção de borracha para a
fabricação dos equipamentos bélicos extremamente necessários naquela ocasião.
Destaca-se nesse momento, em decorrência da
segunda guerra mundial, os acordos de Washington, em 1942, que incluía a compra
de toda a produção de borracha. Para dar cumprimento ao referido acordo o
governo brasileiro recrutou mais 22 mil homens nordestinos, convocados como
“Soldados da Borracha”, uma saída para os problemas da seca e da fome no
nordeste brasileiro.
O segundo ciclo da borracha foi bem mais curto
que o primeiro, pois iniciou com a guerra e findou também com ela, embora Rondônia
o tenha mantido até a década de 1960. O acontecimento de maior relevância nesse
período para a região foi a criação do Território Federal do Guaporé, a
elevação de Porto velho a categoria de capital, como também um grande número de
obras recebidas entre 1943 e 1950, como escolas, centro político-administrativo,
aeroporto, hotel, dentre outras.
Novamente Rondônia vive um ciclo econômico que
tem como principal causa de migração a mão-de-obra barata para atender as
necessidades de produção de borracha estabelecida no acordo firmado com os
Estados Unidos da América.
A Cassiterita
Aproximadamente 7,5% das reservas
mundiais de estanho contido estão no Brasil. As reservas brasileiras
localizam-se em sua maior parte na região amazônica: província mineral do
Mapuera, no Amazonas (mina do Pitinga) e na Província Estanífera de Rondônia
(Bom Futuro, Santa Bárbara, Massangana e Cachoeirinha). A descoberta de
minério de estanho (cassiterita) em Rondônia, a descoberta do minério de
estanho (cassiterita) ocorreu na década de 1950, em um afluente do rio
Machadinho, região de influência de Ariquemes.
No
primeiro momento da garimpagem da cassiterita, o processo de extração se deu de
forma clandestina. Iniciou em 1959, mas o período áureo da garimpagem manual
ocorreu entre 1968 a 1972, com a vinda garimpeiros de todo o país motivados
pela fartura do minério na região. Expandiu-se para outros locais ao longo estado,
sempre em grande quantidade levando o Estado a obter a maior produção do
minério no país, nos anos 1980.
No
período entre os anos 1958 e 1970, toda a economia de Rondônia se desenvolveu em
decorrência da exploração da cassiterita. Com a proibição em 31 de março de 1971, da
garimpagem manual, sob a alegação de que o garimpo tinha um percentual de
aproveitamento reduzido e inviabilizava a exploração complementar mecanizada.
Embasava-se na alegação de que a exploração mecanizada era economicamente mais
rentável.
A
medida, na prática, serviu para remover os garimpeiros para fora de Rondônia, e
privilegiou um reduzido número de empresas de grande porte, predominantemente
multinacionais, o que, ironicamente, encerrou o Ciclo da Cassiterita, já que
deixaram de circular riquezas locais e o resultado econômico da exploração
passou a ser aplicado fora do Território.
Entretanto,
a exploração mecanizada do minério significou o primeiro impulso industrial no
Estado de e Rondônia que chegou a representar 67,43% da produção nacional. No
entanto, o mineral era exportado na forma bruta, sem qualquer beneficiamento
industrial, além de se constituir num setor oligopolizado gerando a limitação
de emprego e de renda na região.
A BR-364 e a
Colonização
Em 1956, foi criado o 5º BEC, que no ano
seguinte já iniciava os trabalhos de complementação da estrada, anteriormente
denominada BR-29, que vinha a ser concluída em 1966 e agora denominada BR-364,
mais tarde vindo a ser conhecida como Rodovia Marechal Rondon, tendo seu
movimento intensificado na década de 1970 (SILVA, 1997).
O ciclo da agricultura obtém uma série de
benefícios dos agregados populacionais de todos os momentos econômicos anteriores
levando Rondônia a projeções nacional e internacional com um Estado produtor da
região norte do país dinamizado pelos investimentos do governo federal em
projetos de colonização. A ação governamental de implementação de
infraestrutura básica para os assentados a partir da proposta militar de “integrar
para não entregar”, promove no período de 1970 a 1978, um grande crescimento
populacional e o surgimento dos principais municípios as margens da BR-364.
De acordo com Bassegio e Perdigão (1992),
apesar de o PIC ter Sido extinto em 1975, o governo federal deu continuidade a
sua política de colonização através de outros Projetos de Assentamentos, que
mesmo com menor intensidade perduraram até o ano de 1988. O Ciclo da Agricultura em
pouco mais de uma década, proporcionou ao Território Federal de Rondônia as
condições econômicas, sociais e políticas necessárias para que fosse
transformado na 23ª Unidade Federada brasileira.
O
Ouro do Rio Madeira
Como já estudamos, a extração do ouro na
historia do Estado de Rondônia existe desde o século XVII, no entanto, uma nova
grande corrida ganha força em 1978, dessa vez no vale do rio Madeira. Na década
de 1980 Rondônia vive o seu apogeu na extração desse precioso minério, sendo
que dez anos depois, na década de noventa, começa o seu declínio. Nesse
período, ouro e a Cassiterita representavam os principais produtos na economia
do Estado.
Da mesma forma, motivavam a vinda de um grande
contingente de migrantes e garimpeiros de todo o país. Apesar da grande
produção de ouro ao longo do leito do rio Madeira, que chegou a cerca de 8.000
toneladas em 1987, seus reflexos em benefícios sociais foram praticamente
nulos. Quando começa a entrar em declino, na década de 1990, o que se verificou
foi uma exploração predatória e de alto impacto ambiental para a região.
Restou, para a população, além dos aspectos
sociais negativos, poluição ambiental, contaminação do lençol freático e dos
peixes, enormes erosões do leito e das margens dos rios, destruição ambiental,
poluição por óleo combustível, rejeitos lançados nas águas, equipamentos
abandonados e sedimentação do canal navegável, violência no seu mais amplo
sentido.
Sistema Energético –
Usina Hidrelétrica de Samuel
A construção das Usinas Hidrelétricas de Samuel
começou em março de 1982. Paradas sucessivas durante a construção, em
decorrência das restrições orçamentárias, indubitavelmente, aumentaram os
custos reais. A primeira turbina foi instalada em 24 de julho de 1989 e a última
no dia 02 de agosto de 1996.
A construção da Usina Hidrelétrica de Samuel,
trouxe para região de Porto Velho uma necessidade de mão-de-obra para a sua
construção que mais uma vez trouxe migrantes de os cantos do país. A vinda de
migrantes para a região levou a necessidade de outros investimentos, como foi o
caso das construções habitacionais.
Mais uma vez, após a passagem de um ciclo econômico
marca a existência de um processo de transformação geográfico e econômico do
Estado voltado às políticas públicas sempre voltadas para as necessidades
alheias a região, sem os resultados de crescimento esperado. Sem os resultados
positivos esperados a lista de degradação socioambiental, agravada por uma
crise econômica e social, mais uma vez é extensa.
A visão do governo militar na construção do
empreendimento hidrelétrico de Samuel, no rio Jamari, em Rondônia, evidenciou a
falta de preocupação com um desenvolvimento sustentável, onde fosse
possibilitado a região condições mínimas para a manutenção do crescimento e do desenvolvimento
regional.
Complexo
Hidrelétrico do rio Madeira
O novo ciclo econômico do estado de
Rondônia atraiu aproximadamente 80 mil pessoas, atraídas por vagas nos
complexos hidrelétricos do Rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. As Usinas
Hidrelétricas do Rio Madeira terão a capacidade de gerar até 6.450MW de
energia. A barragem da Usina de Santo Antônio está localizada a 10km da cidade
de Porto Velho, enquanto a da Usina de Jirau encontra-se localizada a 136km de
Porto Velho.
Nas áreas onde os reservatórios foram
construídos pelas usinas residem aproximadamente 2.849 pessoas, onde 1.087
pessoas estão localizadas na área de Jirau e 1.762 pessoas na área de Santo
Antônio. As áreas urbanas afetadas são Mutum-Paraná, os povoados Amazonas e de
Teotônio e parte de Jaci-Paraná. A população local atingida tem suas as
atividades econômicas baseadas na pesca, pecuária e no garimpo.
Com a construção de dois empreendimentos hidrelétricos um novo
ciclo se consolida na cidade de Porto Velho. A construção de hidrelétricas
na Amazônia chama mais a atenção pelos problemas sociais e ambientais
envolvidos do que pelas vantagens relativas que esses empreendimentos podem
trazer para a sociedade local.