As reflexões emergentes sobre o desenvolvimento econômico,
associadas a uma grande intervenção no meio ambiente, transformaram
os anos 60 num período pródigo de reflexões e eventos relacionados
com a questão ambiental.
A
partir do livro de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa”,
referindo-se ao som do silêncio causado pela ausência de insetos e
de pássaros na primavera, promoveu-se uma discussão na comunidade
internacional relacionando-se a diminuição da qualidade de vida,
com o uso exacerbado de produtos de síntese química na produção
agrícola, contaminando os alimentos e deixando resíduos no meio
ambiente (ROSA, 2001).
Fonte: https://www.istockphoto.com/br/foto/close-up-de-crian%C3%A7as-segurando-um-planeta-na-praia-gm1435661969-476936528. Acesso em 25/08/2025.
Os
problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do modelo
econômico vigente, mas ainda não se falava em Educação Ambiental.
Em março de 1965, na Conferência de Educação da Universidade de
Keele - Inglaterra, colocou-se pela primeira vez a expressão
“Educação Ambiental”, com a recomendação de que esta deveria
se tornar parte essencial da educação de todos os cidadãos
(LEONARDI, 2002).
Em
1968, foi criado o Clube de Roma e publicado o livro de Ehrlich,
”Population Bomb”, que, segundo Cohen e Leff apud Andrade (2001)
expunham de forma contundente a interferência da explosão
demográfica sobre o meio ambiente. Ainda nesse ano, foi instituído
na Grã-Bretanha o Conselho para Educação Ambiental dos Países
Nórdicos e França, cujas políticas educacionais introduziram esta
temática nos currículos das suas escolas.
Ao
final do ano, a UNESCO havia relacionado 79 países que já incluíam
a EA nos seus currículos escolares (LEONARDI, 2002). Em 1972,
acontece na Suécia a Conferência de Estocolmo na qual a Educação
Ambiental passou a ser considerada como campo de ação pedagógica,
adquirindo relevância e vigência internacionais.
Os
representantes de 113 países participantes da Conferência
declaravam a necessidade de estabelecer uma visão global e
princípios comuns para a preservação e melhoria do ambiente
humano. Como orientação aos governos, estabeleceu-se o Plano de
Ação Mundial que recomendou um Programa Internacional de Educação
Ambiental.
Já
em 1974, aconteceu em Haia-Holanda o I Congresso Internacional de
Ecologia cuja principal discussão girou em torno da redução da
camada de ozônio. Nesta atmosfera, as discussões em relação à
natureza da Educação Ambiental passaram a ser desencadeadas e os
acordos foram posteriormente reunidos nos Princípios de Educação
Ambiental, sendo estabelecidos no Seminário de Educação Ambiental
realizado em 1974, em Jammi- Finlândia.
Esse
seminário considerou que a Educação Ambiental não se trata de um
ramo da ciência ou uma matéria de estudos separada, mas permitia
alcançar os objetivos de proteção ambiental através de um plano
de ações integrais e permanentes.
Em
1975, no Congresso de Belgrado foram estabelecidas as metas e os
princípios da Educação Ambiental, presentes na chamada Carta de
Belgrado, um documento histórico na evolução do ambiente. Também
foi proposto, neste mesmo instante, que a Educação Ambiental
deveria ser contínua, multidisciplinar, integrada às diferenças e
voltadas para os interesses nacionais, cujos princípios orientaram o
Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).
Porém,
se existe uma referência para aplicação da Educação Ambiental,
esta se encontra nos documentos finais da Conferência
Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi, realizada em
1977 na Geórgia, ex-União Soviética. Foi deste encontro que saíram
as definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para
a Educação Ambiental adotadas mundialmente até os dias atuais.
Passados
dez anos da Conferência de Tbilisi, realizou-se o Congresso
Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio
Ambiente (1987), em Moscou - Rússia, promovido pela UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
cultura).
No
texto final deste Congresso, "Estratégia Internacional de ação
em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de
90", ressalta-se a necessidade de fortalecer as orientações de
Tbilisi. A ênfase é colocada na necessidade de atender
prioritariamente à formação de recursos humanos nas áreas formais
e não-formais da Educação Ambiental e na inclusão da dimensão
ambiental nos currículos de todos os níveis de ensino.
Vinte
anos após a Conferência de Estocolmo, quinze depois de Tbilisi e
cinco depois de Moscou, realizou-se a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), que se
transformou num momento especial para a evolução da Educação
Ambiental.
Além
dos debates oficiais, foram marcantes dois entre os incontáveis 12
eventos paralelos: a "1ª Jornada Internacional de Educação
Ambiental", um dos encontros do Fórum Global que atraiu cerca
de 600 educadores do mundo todo, entre 179 países que firmaram um
acordo conhecido como Agenda 21 (ECO-92), sendo um plano estratégico
de ação para a promoção de um novo padrão mundial de
desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental,
justiça social e eficiência econômica; o "Workshop sobre
Educação Ambiental" organizado pelo Ministério da Educação
e Cultura (MEC) destacou, dentre outros pontos, que deve haver um
compromisso real do poder público federal, estadual e municipal para
se cumprir a legislação brasileira visando à introdução da
Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e também propôs
o estímulo a participação das comunidades direta ou indiretamente
envolvidas e das instituições de ensino superior.
Em
1997, cinco anos depois da Conferência Rio-92, realizou-se uma
primeira reunião internacional (não- oficial) no Rio de Janeiro,
Rio +5, com a finalidade de verificar os avanços realizados a partir
da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Portanto,
existe a necessidade de incrementar os meios de informações e o
acesso a estes meios, bem como o papel do poder público nos
conteúdos educacionais como forma de alterar a degradação
socioambiental e promover o crescimento da consciência ambiental.
A
Inclusão Curricular da Educação Ambiental
A
nova Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(PHILIPPI, 2001) vêm conferir uma nova identidade ao Ensino Médio,
determinando que este seja considerado como Educação Básica.
A
reforma curricular do Ensino Médio estabelece uma divisão do
conhecimento escolar em áreas, pois entende que os conhecimentos
estão cada vez mais imbricados aos conhecedores, seja no campo
técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social.
Esta organização em áreas tem como base a reunião daqueles
conhecimentos que compartilham objetos de estudo, portanto, se
comunicam mais facilmente, criando condições para que a prática
escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade.
As
áreas do conhecimento são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências
Humanas e suas Tecnologias (OLIVA & MUHRINGER, 2001). Neste
sentido, foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s),
como referência nacional na área de Educação, tratando-se pela
primeira vez oficialmente no 13 Brasil a Educação Ambiental como um
tema transversal, dando indicações de como incorporar a dimensão
ambiental nos currículos do ensino fundamental.
Os
temas transversais permeiam toda a prática educativa que abarca
relações entre os alunos, entre professores e alunos e entre
diferentes membros da comunidade escolar (ROSA, 2001). Seus objetivos
visam propiciar aos sistemas de ensino, particularmente aos
professores, subsídios à elaboração e/ou reelaboração do
currículo na construção do projeto pedagógico. Pois um trabalho
com essa perspectiva aponta uma transformação na prática
pedagógica, mudando a atuação dos professores às atividades
pedagogicamente formalizadas e amplia a responsabilidade com a
formação e cidadania dos alunos.
Enquanto
a interdisciplinaridade busca integrar as diferentes disciplinas
através da abordagem de temas comuns em todas elas, os temas
transversais permeiam todas as áreas para ajudar a escola a cumprir
seu papel maior de educar os alunos para a cidadania. Isto quer dizer
que a adoção dos temas transversais pode influir em todos os
momentos escolares, desde a definição de objetivos e conteúdos até
nas orientações didáticas.
Com
eles, pretende-se que os alunos cheguem a correlacionar diferentes
situações da vida real e a adotar a posturas mais críticas
(LEONARDI, 1999).
Nesse
momento, a Educação Ambiental está vendo reforçada sua
importância no ensino formal por dois caminhos: a reorientação
curricular produzida pelo Ministério da Educação e Cultura-MEC,
que por meio dos PCN’s, introduziu o tema Meio Ambiente como um dos
temas transversais; a introdução da Política Nacional de Educação
Ambiental – PNEA, oficializada por meio da Lei nº 9795 de 27 de
abril de 1999, que entre outras coisas, legisla sobre a introdução
da Educação Ambiental no ensino formal (OLIVA & MUHRINGER,
2001).
A
introdução da questão ambiental nos currículos, intitulados como
PCN-Meio Ambiente, desencadeará diversos processos de sensibilização
em relação à questão ambiental, por meio de atividades planejadas
que permitam a inserção progressiva das crianças no meio local,
regional, nacional e internacional, de forma progressiva.
Deve
responder aos interesses e motivações dos alunos, propiciando-lhes
aquisição de conhecimentos científicos e técnicos e atitudes
éticas, para que possam participar de modo eficaz na gestão dos
processos de desenvolvimento de sua comunidade (OLIVA &
MUHRINGER, 2001).
Sendo
assim, por ser um processo duradouro, a Educação Ambiental pode
ajudar a tornar mais relevante a educação geral, a começar pelo
ensino fundamental. Esta pode ser considerada como uma base na qual
se desenvolvam novas maneiras de viver sem destruir o meio ambiente,
ou seja, um novo estilo de vida.
É
possível disseminar entre crianças e os jovens uma nova consciência
e atitudes com relação ao cuidado com o Planeta que habitamos,
começando pela nossa casa, escola, bairro e cidade, pois a Educação
Ambiental caracteriza-se por incorporar as dimensões éticas,
sócio-econômicas, políticas, culturais e históricas no processo
de Ensino e de Aprendizagem. Para Vigotski apud Bock (2002), a
aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas.
A
criança humaniza-se através do contato com a cultura, que é
mediado pelo “outro” (outra pessoa, o ambiente escolar, etc.). O
professor e os colegas formam um conjunto de mediadores da cultura
que possibilita um grande avanço no desenvolvimento e no processo de
aprendizagem da criança. Portanto a Educação Ambiental, no
universo escolar formal, deve envolver uma perspectiva holística,
enfocando a relação entre o humano, a natureza e o universo de
forma interdisciplinar .
Educação
Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
A
Educação Ambiental é uma ferramenta de aprendizagem para o
desenvolvimento sustentável, apesar de ser polêmico essa dicotomia
entre “desenvolvimento e sustentabilidade”, tendo em vista ser o
próprio desenvolvimento o causador de tantos danos sócio-ambientais
(ANTUNES, 2004).
Para
Dias (2002), o Desenvolvimento Sustentável consiste no uso racional
dos recursos naturais, para produzir e desenvolver a sociedade, sem
comprometer o capital ecológico do planeta.
O
desenvolvimento econômico e o bem-estar do homem dependem dos
recursos naturais e o desenvolvimento sustentável é impossível de
ser alcançado se for permitido que a degradação ambiental
continue.
Para
o balanceamento desta equação faz-se necessário o correto manejo
dos recursos naturais de forma eficiente e sustentada, sendo
suficientes para atender as necessidades dos atuais seres vivos e
preservando uma quantia necessária para as futuras gerações.
A
sustentabilidade no tempo das civilizações humanas, segundo Sachs
(2004), vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos
de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É por
isso que falamos em desenvolvimento sustentável. A rigor, a
adjetivação deveria ser desdobrada em socialmente includente,
ambientalmente sustentável e economicamente sustentado.
Ainda
sobre a questão do desenvolvimento sustentável, Oliva e Muhringer
(2001) ressaltam que não se pode haver desenvolvimento e crescimento
econômico de modo a gerar na natureza sobrecargas insustentáveis
para a vida em geral e para o próprio processo econômico que se
alimenta de recursos naturais.
Desta
maneira, o mundo toma consciência de que as maiores ameaças à
sobrevivência da espécie humana são as mudanças climáticas em
curso e os padrões insustentáveis de produção e consumo, que já
superam a capacidade de reposição do nosso planeta. O problema é
como disseminar essa informação para a população, de modo que se
cobre dos governantes a elaboração de políticas e programas que
enfrentem essas grandes questões.
Estas
mudanças climáticas estão trazendo secas mais intensas,
inundações, furacões, dificuldades no abastecimento de água e
outras alterações ambientais. É o momento de repensar o consumo de
combustíveis fósseis como o petróleo, carvão e gás, para a
diminuição da emissão de gases poluentes e não favorecer as
mudanças climáticas.
Temos
de poupar as matérias primas não renováveis e reciclá-las para
não sobrecarregarmos o planeta, assim como é preciso informar e
educar as pessoas. A educação ambiental é decisiva, pois mostra
que há outros modos de viver, preservando a biodiversidade, a água,
os recursos naturais e os seres vivos. Se a Educação Ambiental
avançar como é preciso, a sociedade aprenderá a discutir esses
temas com a devida apreciação dos políticos e dos governantes,
transformando em questões prioritárias (NOVAES, 2006).
Portanto,
a noção de sustentabilidade implica em uma inter-relação
necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio
ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento
(ANTUNES, 2004). Nesse contexto, segundo Leonardi (1999), a educação
ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na
conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento
de competências, na capacidade de avaliação e na participação
dos educandos.
Para
Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento de
conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades,
condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos
indivíduos com o meio ambiente.
O
desafio é o de formular uma educação ambiental que seja crítica e
inovadora, em dois níveis: formal- aquela que está diretamente
ligada à Educação Ambiental tal como ela se apresenta nos PCNs de
meio ambiente: relação ser humano-natureza; sociedade e cultura;
concepção da educação e do conhecimento e não formal- a educação
que se destina à comunidade como um todo, atividades educacionais
que estão voltadas mais para tecnologias, como por exemplo:
digitação eletrônica, pintura, aula de violão, horta e outras .
Assim,
a educação ambiental deve buscar uma visão holística de ação,
relacionando o homem, a natureza e o universo em uma perspectiva na
qual os recursos naturais são finitos e que o principal responsável
pela sua degradação é o próprio ser humano.