segunda-feira, 13 de outubro de 2025

DISTRITO DE NAZARÉ, NA AMAZÔNIA E SUAS POTENCIALIDES CULTURAIS

O distrito de Nazaré, localizado no Baixo Madeira, em Porto Velho (RO), região da Amazônia brasileira, possui uma rica e fértil potencialidade cultural ribeirinha e amazônica, sendo considerado um dos principais polo de resistência cultural na região. A comunidade preserva tradições ancestrais, sendo uma das poucas comunidades que possui manifestações culturais reconhecidas como patrimônio do estado.

Apenas para que se faça o devido reconhecimento que aquela população merece, depois de muito tempo de um racismo cultural que estava impregnado, e que causou certamente muitos prejuízos a sua história e dos grandes personagem que lutaram pelo avivamento das tradições locais que foram trazidas por seus antepassados, podemos citar algumas dessas potencialidades culturais:

  • Festival Cultural de Nazaré: É a manifestação cultural ribeirinha mais importante da capital de Rondônia, com mais de 50 anos de tradição. O festival, que já foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Rondônia, é realizado pela própria comunidade para proteger e promover sua identidade local. O evento anual atrai visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo, oferecendo uma imersão na cultura local.

    O festival Cultural, assim a própria vida cotidiana do povo envolvem diversas expressões e manifestações artísticas, como:

    • Música e Dança: Apresentações de grupos musicais locais (como o grupo "Minhas Raízes"), danças típicas, quadrilhas juninas e a entrada do boi-bumbá Curumim, um dos momentos mais esperados do festival.

    • Teatro e Lendas: A comunidade valoriza a contação de histórias, incluindo as lendas da Amazônia e a história dos seringueiros, entre outras contadas pelos mais antigos que ficaram na memória dos que la vivem nos dias atuais, que são encenadas e narradas.

    • Artesanato: O trabalho artesanal é fundamental, especialmente na confecção detalhada dos figurinos para as apresentações culturais, que dão cor e vida ao espetáculo.

  • Culinária Regional e Extrativismo: A cultura gastronômica é um ponto forte, com a comercialização de comidas típicas regionais, como o vinho de açaí produzido localmente. A economia local baseia-se no extrativismo e na agricultura de subsistência, o que também faz parte da identidade cultural da comunidade.

  • Identidade Ribeirinha e Ancestralidade: A cultura de Nazaré é profundamente enraizada na vida à beira do rio Madeira, valorizando a relação com a natureza, a fauna e a flora local. Atualmente há um esforço contínuo para resgatar o sentimento de pertencimento e garantir que as histórias e origens não sejam esquecidas pelas novas gerações.

    Entre todos os contextos, podemos afirmar que a potencialidade cultural de Nazaré reside na sua capacidade de preservar e celebrar um modo de vida tradicional e autêntico da Amazônia, que sempre foi esquecido e nunca alcançado pelas politicas públicas que buscam privilegiar as áreas urbanas ou que tenha algum poder politico envolvido.

    É preciso reconhecer que o povo ribeirinho tem sua própria cultura respeitar e valorizar. O que acontece hoje em Nazaré, essa pequena comunidade localizada na área ribeirinha do Município de Porto Velho-RO, deve ao esforço do seu próprio povo, que de tanto clamar apoio das autoridades e não serem atendidos, resolveram com seus próprios esforços difundir seu trabalho, suas lutas e seus conhecimentos.


O que é racismo ambiental?

O racismo ambiental é um fenômeno que designa a alocação desproporcional de riscos e impactos ambientais negativos (como poluição, lixões, indústrias poluentes) em comunidades de baixa renda e, especialmente, em populações tradicionais e outras minorias étnicas. Essa realidade se manifesta de diversas formas, desde a proximidade de favelas com áreas de descarte de resíduos até a falta de acesso a saneamento básico e áreas verdes em bairros periféricos.

O termo surge no território norte americano, a partir de estudos sobre justiça ambiental, com participação efetiva do movimento negro estadunidense que por seguinte, se tonou um programa de ação do governo federal dos Estados Unidos (HERCULANO, 2006).

No Brasil o termo chegou a partir da influência das manifestações internacionais pela justiça ambiental, através do viés acadêmico. Após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente- ECO 92, em 2002 surge a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (MATHIAS, 2017).

A inclusão ativa das populações mais vulneráveis aos efeitos da crise ambiental em todas as etapas dos debates é imprescindível na promoção e implementação de medidas e estratégias de adaptação aos novos desafios ambientais, respeitando os princípios de democratização dos processos decisórios e promovendo a participação e a redistribuição do controle socioeconômico é necessário e emergente.

A Amazônia é um território de grande importância ecológica, econômica e cultural, lar de diversas comunidades tradicionais que desempenham um papel crucial na conservação da floresta e na manutenção do equilíbrio ambiental.

No entanto, essas comunidades são frequentemente vítimas do racismo ambiental, que se manifesta na distribuição desigual dos riscos e danos ambientais, exacerbados pelas mudanças climáticas severas que tem ocorrido nos últimos anos.

Nesse contexto é premente o estudo sobre a importância da educação e ações culturais e suas relações no combate ao racismo ambiental e seus impactos nas comunidades tradicionais ribeirinhas da Amazônia, uma maneira de investigar como a desigualdade social intersecta com os impactos da discriminação ambiental que emerge nessas comunidades, resultando em vulnerabilidades específicas e injustiças ambientais.

Da mesma forma, é preciso entender como a exploração de recursos, o desmatamento e as mudanças no uso da terra afetam desproporcionalmente essas populações tradicionais, trazendo à tona as raízes históricas e estruturais do racismo ambiental nessa região tanto difundida no planeta, no entanto carente de políticas públicas voltadas a melhoria da qualidade de vida das populações que nela vivem.

Faz-se mostrar como a educação pode ser um espaço de conscientização, empoderamento e ação para que comunidades, especialmente as mais atingidas, como as ribeirinhas da Amazônia, possam lutar por seus direitos e por ambientes mais justos e saudáveis, desvelando o tema e seus impactos e gerando conhecimentos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

RACISMO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA

A atualidade mostra que a sociedade enfrenta um período de crise que desencadeia impactos no âmbito social, ambiental e econômico. Os grupos em vulnerabilidade social e econômica são os mais impactados, reforçando a necessidade de ações públicas que promovam o equilíbrio ambiental, sem qualquer tipo de distinção.

O racismo, por ser estrutural, se manifesta em todas as dimensões da vida em sociedade: na Educação, Saúde, Cultura, nas legislações e, também, no meio ambiente. O racismo ambiental, conceito que surge nos anos 80 com o líder de direitos civis Benjamin Chavis, no contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais nos Estados Unidos da América é, portanto, outra frente a ser considerada nos ambientes de formação formal e informal.

A vulnerabilidade socioambiental não é um fenômeno que atinge a todos os povos de maneira igualitária. Não seria justo afirmarmos que todas as comunidades humanas sofrem dos desequilíbrios do meio ambiente de maneira igualmente proporcional, pois antes de qualquer questão que seja exclusivamente de ordem ambiental, existe uma, desigualdade social que afeta, de modo mais severo, as comunidades periféricas e tradicionais no exercício de acesso aos direitos ambientais. Visando o cenário desta afirmação, é possível se concluir que:

"Se há diferença nos graus de exposição das populações aos males ambientais, isso não decorre de nenhuma condição natural, determinação geográfica ou causalidade histórica, mas de processos sociais e políticos que distribuem de forma desigual a proteção ambiental (ACSELRAD; MELLO, 2009, p.73)."

A relação entre a educação e o racismo ambiental é uma faceta crítica da emergência global. Práticas insustentáveis e emissões excessivas exacerbam as vulnerabilidades de povos e comunidades já marginalizadas, aprofundando as disparidades existentes. Os impactos da emergência/crise ambiental, como são chamados os eventos que produzem seca, chuvas, temporais entre outros dessa natureza, atingem a sociedade brasileira de forma desproporcional.

Junto as populações tradicionais ribeirinhas da Amazônia, isso se manifesta de maneira aguda, enquanto o desmatamento, os incêndios e o garimpo ilegal impulsionam as mudanças climáticas, os efeitos resultantes como alterações no regime de chuvas impactam desproporcionalmente a região, comprometendo ainda mais sua capacidade de subsistência e resiliência.

Segundo Robert Bullard (2002), o racismo ambiental decorre da degradação ambiental imposta pela lógica mercadológica e capitalista de exploração e se refere a políticas, práticas ou diretrizes ambientais que afetam diferentemente ou de forma desvantajosa (seja intencionalmente ou não) indivíduos, grupos ou comunidades mais vulneráveis, seja por questões de renda, educação, cor, gênero ou raça, podendo ser reforçadas por instituições governamentais, jurídicas, econômicas, políticas e militares.

O racismo ambiental é, portanto, uma forma de discriminação ambiental. Ele acontece quando as políticas ambientais e os projetos de desenvolvimento são inexistentes ou implementados de forma a prejudicar deliberadamente as populações mais vulneráveis que são afetadas de forma desproporcional pelos impactos ambientais negativos, como a poluição do ar, a contaminação da água, as enchentes, as secas, os desmatamentos, intoxicação e etc.

Isso acontece porque essas populações muitas vezes têm menos poder político e econômico para evitar ou remediar esses impactos. Além disso, a falta de acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, agrava ainda mais os impactos negativos do racismo ambiental. O resultado é uma qualidade de vida muito inferior à das pessoas que vivem em áreas mais ricas e protegidas, afetando a saúde e bem-estar dos moradores.
As comunidades tradicionais ribeirinhas da Amazônia são exemplos claros de racismo ambiental. Apesar de serem áreas de grande valor ecológico, cultural e econômico e terem um conhecimento profundo desses ecossistemas, têm pouca influência sobre as políticas que afetam seus territórios e geralmente são excluídas do processo de tomada de decisão dos governantes publicos.