A população ribeirinha da Amazônia brasileira vive dinâmica própria condicionada no tempo
e no espaço em que estão situados, possuindo condições para viver sem grandes
problemas, mas o que lhes faltam é melhores condições de acesso às políticas
públicas. Nesse sentido, convém destacar a Constituição Federativa do Brasil de
1988 (BRASIL, 1988), ao dizer no Artigo 205 que: “A educação, direito de todos
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da cidadania e sua qualificação
para o trabalho”.
A falta, ou a quase inexistência, de atenção governamental é
amplamente perceptível nessas regiões evidenciada na carência de atenção para um
dos principais alicerces da formação dos cidadãos, a escola. Com efeito, a
escola ribeirinha da Amazônia passa por problemas ainda mais recorrentes devido
às dificuldades de acesso, uma vez que estão localizadas às margens dos rios, e
falta interesse da administração pública, que deveria promover e incentivar a
educação para todos.
Ademais, a falta de planejamento educacional nessas áreas em
conformidade com os anseios da população evidencia a imposição de uma estrutura
social, na qual os padrões educacionais, culturais, didáticos e institucionais
urbanos são transpostos, em muitos casos negando a identidade dos povos
tradicionais locais. Nesse sentido, as potencialidades próprias são
essencialmente tidas como inexploradas pelos alunos, cujas relações de ensino e
de aprendizagem ocorrem como reflexo das relações educacionais vivenciadas nas
escolas urbanas.
O currículo das escolas nessa região necessita contemplar
elementos de compreensão da realidade por elas vividos de forma especializada.
Trata-se de uma escola que tem suas diferenças, suas características, suas
marcas, e que precisa ser respeitada enquanto instituição que abriga outro modo
de viver as relações pedagógicas do currículo, e sendo assim, precisa voltar-se
para suas necessidades cotidianas (VICTÓRIA, 2008).
São milhares de crianças e jovens que têm suas vidas inseridas num
modo peculiar de viver, trabalhar e estudar. Um modo de vida marcado por uma
cultura diferenciada, caracterizada principalmente pelo contato com as águas,
de onde retiram o sustento para eles e suas famílias. Muitas destas crianças já
começam a lidar com a pesca e a agricultura desde muito cedo, ajudando seus
pais e com entusiasmo, participam do sustento diário de suas famílias (CHAVES,
1990). Neste contexto, a escola seria o lugar ideal para o incentivo ao
protagonismo do que constituímos como objeto de estudo.
Diante disso, é salutar fazer uma análise de forma especializada e
pensar um currículo para as escolas ribeirinhas de forma que contemple
elementos de compreensão da realidade das pessoas que nela buscam ampliar seus
horizontes de conhecimentos para o desenvolvimento e a permanência no espaço
por elas vivido. Neste sentido, acredita-se que é possível por em prática um
currículo escolar a partir dos ribeirinhos e para os ribeirinhos, no qual se
estabeleça relações na tríade práticas pedagógicas, contexto sociocultural e
currículo escolar (BRITO, 2008).