domingo, 21 de maio de 2017

Os ciclo da borracha na Amazônia

Chamamos de ciclo da borracha o momento da história econômica e social do Brasil, relacionado com a extração de latex da seringueira (Hevea brasiliensis) e comercialização da borracha. Teve o seu centro de produção na região amazônia, e proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais, e grande impulso ao crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém
Teve seu auge entre 1879 e 1912 (primeiro ciclo) e em seguida uma sobrevida entre 1942 e 1945 (segundo ciclo), por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939 -1945). Nos dois períodos, o governo brasileiro valeu-se da mão de obra nordestina para a extração do látex e produção da borracha, nos seringais da Amazônia.

O primeiro ciclo da borracha – 1879 a 1912
No decorrer dos primeiros quatro séculos e meio do descobrimento, as populações da vasta região amazônica viviam praticamente em isolamento, uma vez que nem a coroa portuguesa e depois, nem o império brasileiro conseguiram concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso na região.
Vivendo do extrativismo vegetal, a economia regional se desenvolveu por ciclos, acompanhando o interesse do mercado nos diversos recursos naturais da região. A produção da borracha de forma exclusiva no período de 1879 a 1912 (primeiro ciclo) passa a gerar lucros e dividendos a quem quer que se aventurasse neste comercio.
A atividade extrativista do látex na Amazônia revelou-se de imediato muito lucrativa. A borracha natural logo conquistou um lugar de destaque nas indústrias da Europa e da América do Norte alcançando elevado preço. Isto fez com que diversas pessoas viessem ao Brasil na intenção de conhecer a seringueira e os métodos e processos de extração, a fim de tentar também lucrar de alguma forma com esta riqueza.
A partir da extração da borracha surgiram várias cidades e povoados, depois também transformados em cidades. Belém e Manaus, que já existiam, passaram então por importante transformação e urbanização e viveram seu apogeu entre 1890 e 1920. Desfrutavam de tecnologias que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o requintado Teatro Amazonas o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de Manaus.
Por sua vez Belém apresentava o Mercado de São Braz Mercado Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais. Manaus foi a primeira cidade brasileira a ser urbanizada e a segunda a possuir energia elétrica - a primeira foi Belém no Estado do Pará com o período lemista.

Fim do monopólio da produção da borracha na Amazônia
A partir de 1912 a borracha oriunda da Amazônia começa a perder o monopólio da produção, uma vez que os seringais plantados pelos inglês na Malásia no Ceilão e na África tropical, com sementes oriundas da própria Amazônia, passaram a produzir o mesmo produto com maior eficiência. Com custos e preço final menor, a Ásia passa a assumir o controle do comércio mundial do produto.
Sem uma política governamental de incentivo a criação de projetos para o planejamento sustentado da região, a partir da extração do látex, o reflexo é a imediata estagnação das cidades que viviam em torno da extração e comercialização do produto. Os trabalhadores dos seringais, agora desprovidos da renda da extração, fixaram-se na periferia de Manaus em busca de melhores condições de vida.
Algumas tentativas para contornar a crise não tiveram o efeito esperado, dentre elas a criação da Superintendência de Defesa da Borracha, criada pelo governo central do Brasil e o cultivo de seringais na década de 1920, por Henry Ford com técnicas de cultivo especiais na lograram êxito.
O segundo ciclo da borracha – 1942 a 1945
Durante a Segunda Guerra Mundial a Amazônia vivenciou, embora por pouco tempo, um novo ciclo da borracha. Como o domínio forças militares japonesas no Pacífico Sul no decorrer dos primeiros meses de 1942 e a consequente invasão da Malásia, passaram a também ter o controle dos seringais. O resultado foi brusca queda de 97% da produção da borracha asiática.
Novamente o Brasil, além da grande movimentação realizada pela exportação em alta da borracha há a geração de precedentes para novos investimentos nas atividades rurais e extrativistas, no qual permitia perspectivas de propulsão e crescimento de nossa economia. Parte desse ideal surgia da necessidade de viver com os próprios recursos, a fim de estimular o crescimento da riqueza agropecuária nacional e de produtos que poderiam contribuir com suas exportações.
A minimização do problema da seca no nordeste aliada a necessidade da produção da borracha para suprir as Forças Aliadas na produção de material bélico e a colonização da Amazônia, nesta segunda momento, fazem com que o governo brasileiro de Getúlio Vargas em 1941 celebre com governo dos Estados Unidos o Acordo de Washington. Essa ação do governo brasileiro desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia. Essa operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
Como os seringais estavam abandonados e mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 mil homens.
A saída foi o alistamento compulsório no ano de 1943 de trabalhadores nordestinos realizado pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede em Fortaleza, capital do Ceará, criado pelo então Estado Novo.
Esse movimento levou milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil a serem compulsoriamente levados à escravidão por dívida e à morte por doenças tropicais, desconhecidas até então ou para as quais não possuíam imunidade. Só da região nordestina foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará.
Esses novos seringueiros receberam a denominação de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão importante quanto o de combater o regime nazista com armas. Novamente Manaus experimenta um novo crescimento econômico e populacional e a região revive a sensação de riqueza e de pujança com o fortalecimento da economia.
Com final da Segunda Guerra Mundial o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia foi extinto e um grande contingente de imigrantes, os chamados Soldados da Borracha, ficaram entregue à própria sorte.

http://istoe.com.br/144519_HISTORIAS+INEDITAS+DA+FERROVIA+DO+DIABO/

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