sexta-feira, 27 de maio de 2011

O CAMINHO É O RIO

¹Osmair Oliveira dos Santos

Viajando pelo rio madeira, no trecho que vai da capital Porto Velho ao Distrito de Calama, extrema do Estado de Rondônia com o Amazonas, pude por alguns momentos refletir no modo de vida ribeirinho. Aliás, não é preciso muito esforço para perceber que apesar das mudanças de concepções advindas com o capitalismo avassalador que avançou dentro das comunidades tradicionais mundo a fora, grande maioria dessa população ainda tem os mesmos sentimentos em relação aos cuidados e uso do rio e ao meio onde vivem.
No primeiro momento, parece estranho ver pessoas com um modo de vida desprovido de consumismo e perspectivas de acumulação econômica. O mundo capitalista que não reconhece a essência das comunidades tradicionais, certamente verá em tudo isso um desperdício em relação ao uso do espaço geográfico. Este dirá que não é comum um ser humano contentar-se com tão pouco quando tem a sua disposição um imenso espaço natural para cultivar e extrair riquezas.
É impressionante ver com tanta proximidade como esses cidadãos vêem a natureza a entrelaçam no seu modo de vida. O meio ambiente é um todo, onde cada um cuida do outro e ambos convivem em harmonia tendo como alicerce e cenário principal o rio. O rio, nesse cenário é quem lhes proporciona a existência, pois lhes fornece o alimento através da pesca, do plantio, e do escoamento. É a estrada principal que leva seus sonhos e suas aspirações aos lugares mais diversos e distintos, mundo a fora.
Que a o rio é importante para as populações ribeirinhas todos sabem. O que talvez muitos não saibam é que o ribeirinho não sabe viver sem o rio. De onde tirar o pescado? Como cultivar a roça sem os nutrientes naturais que as águas deixam nas margens? E as histórias e os mitos da cobra grande, do boto e dos lugares encantados que os mais velhos contam aos seus filhos e aos netos?
Preocupa a situação da população ribeirinha que mora no rio madeira após as construções das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Quero ressaltar que não sou contra o progresso, nunca fui. Sou apenas um professor de geografia preocupado com o espaço geográfico e com as pessoas que nele vivem e dele sobrevivem. Acredito que o uso adequado desse espaço é o que os seres humanos esperam e os gestores públicos, por sua vez precisam oferecer condições para que isso ocorra.
 Um belo cenário como o apresentado no rio madeira, sua diversidade populacional e cultural, assim como o modo de vida do povo deveria ter mais atenção dos governantes como um exemplo para a conservação do meio ambiente. A conservação das florestas e dos rios que parece longe das populações urbanas dos grandes centros, por aqui é totalmente contrária. O ribeirinho sabe que preservando o ambiente onde vive está cuidando de si próprio, e dessa forma prolongando a sua existência e a do planeta.
Um novo estilo de vida integrará esse povo daqui pra frente demandado por novas concepções de produção e de discursos progressistas. Um mundo onde se estimulará a competitividade em todos os sentidos. Resta saber se a sua cultura, seus saberes e seus sentimentos em relação ao ambiente onde vivem resistirão frente à pressão que lhe será imposta pelo capitalismo.
Um novo caminho lhes será imposto. O rio talvez não tenha o mesmo sentido para as futuras gerações, em relação às concepções e encantos dos seus antepassados. No entanto, um novo caminho sempre aspira um novo jeito de por ele caminhar. Isso talvez alente quem por este espaço muito caminhou e nele manteve suas esperanças de futuro e um mundo melhor.

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¹Professor de Geografia da Rede Publica de Ensino do Estado de Rondônia. Graduação e Mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia. Especialista em História Geografia e Meio Ambiente pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicas – FACISA/SC.